Por Marta Watanabe, Valor — São Paulo

A criação de 313.902 postos formais em setembro apontada em divulgação do Cadastro Geral de Empegados e Desempregados (Caged) veio abaixo do esperado pelo mercado, mostrando um pouco da fraqueza do setor de serviços, com desempenho na margem pior que o esperado para Estados da região Sudeste, que poderia mostrar sensibilidade maior ao relaxamento das medidas de isolamento social, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Para ele, o saldo líquido de empregos deve aumentar até o fim do ano por conta da sazonalidade. Na série com ajuste sazonal, porém, diz ele, deve haver desaceleração.

O resultado do Caged divulgado esta manhã pelo Ministério do Trabalho e Emprego ficou abaixo do saldo de 360 mil vagas apontada pela mediana do Valor Data, em coleta de projeções junto a 17 consultorias e instituições financeiras. Na divulgação de hoje, Sanchez destaca o desempenho aquém do esperado, na margem, para Estados como Minas Gerais e São Paulo, na região Sudeste, onde se esperava uma reação maior com a reabertura da economia.

O economista diz, porém, que não há grande surpresa agora com o ritmo de retomada da criação de postos de trabalho. A surpresa, na verdade, diz, veio já no primeiro semestre, com a insensibilidade dos serviços ao processo de recrudescimento da pandemia.

“Não tivemos a redução de demanda naquele período e agora a ascensão também não está tão acelerada”, diz. Além disso, diz ele, apesar da mudança de mix de consumo de bens para serviços, a demanda atual não tem vindo com força suficiente para sustentar contratação de mão de obra. “O atendimento tem sido feito apenas utilizando a capacidade já instalada.”

O fortalecimento da demanda nos serviços, diz o economista-chefe, está muito ligado à massa de renda. Com uma taxa de desemprego ainda elevada, entre 13% e 14%, diz, ele, o crescimento da massa fica limitado. Ao mesmo tempo a inflação alta e persistente corrói renda da população. Sanchez destaca que além disso, há o endividamento elevado.

“Utilizou-se crédito para antecipar o consumo no meio da pandemia. Essa conta viria no futuro, que está chegando.” E renovar o crédito num ambiente de inflação e juros altos, aponta, é uma tarefa mais difícil. “O enxugamento de liquidez tende a efeito contracionista mais do que proporcional porque estamos lidando com nível de endividamento elevado das famílias, empresas e governo.”

Num ambiente de piora das condições financeiras, diz ele, é preciso que todos os agentes, inclusive o governo, tenham possibilidade de administrar esse endividamento. “Não há outro jeito. Ou é isso ou o caminho é a bancarrota.” Isso, destaca, precisa tornar-se exequível, sob risco de o país entrar em processo recessivo e se perder a tração necessária para a recuperação da atividade econômica.

“Não é uma conversinha”, diz ele, referindo-se à declaração dada ontem pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que as revisões para baixo nas projeções para o PIB de 2022, frente à percepção de mudança de regime fiscal e deterioração das condições financeiras, são “conversinha”.

Este conteúdo foi publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

Valor Investe: https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2021/10/26/empregos-formais-devem-crescer-at-fim-do-ano-apenas-por-sazonalidade-diz-ativa.ghtml