País entra em 2019 em situação pior que a prevista; há pouca margem para erro

Está todo o mundo cansado de ouvir que dificilmente a economia vai engrenar mesmo uma segunda marcha antes que se saiba do destino das reformas, lá pelo fim do semestre.

Por ora, nosso problema é saber se o país engatou pelo menos a primeira, questão que pode ter relevância política.

Houve vários sinais de resfriado na economia do fim de 2018. Sentimos mais um calafrio nesta quinta-feira (31), com o balanço final da situação do mercado de trabalho no ano passado, divulgado pelo IBGE.

Ficou mais improvável que emprego e investimento embalem até o Carnaval (começo de março) ou, talvez, até a Páscoa. Não é destino, previsão de desgraça. Porém, continuamos com água pelo nariz. Marolas políticas ou alguma estupidez grossa do governo podem nos dar uma afogadinha.

Teríamos voltado para o ponto morto? Provavelmente, não. Mas a situação do emprego no trimestre final do ano passado voltou a piorar, de modo ligeiro, ainda que inesperado.

Na prática, o desemprego aumentou do terceiro trimestre para o último. Além disso, o total de rendimentos do trabalho (a soma dos “salários” etc. de todo mundo, a “massa salarial”) cresceu apenas 1,7% em 2018.

O crescimento de 3,5% de 2017 foi um voo de galinha, que apenas levou a massa salarial de volta ao nível de 2014. Essa despiora, de resto, foi em boa parte resultado da desinflação rápida, mui favorecida pela enorme safra daquele ano, que derrubou o preço de alimentos.

Agora, voltamos quase à estagnação. Na média, o rendimento do trabalho (“salário”) no final de 2018 era apenas 0,6% maior do que no final de 2017. Sintomas de resfriado apareceram também na indústria.

“Ao lado da queda das medidas de uso de capacidade instalada, o resultado [do emprego] sinaliza que o hiato do PIB (Produto Interno Bruto) voltou a abrir no trimestre”, escreveram em relatório Artur Passos e Alexandre da Cunha, economistas do departamento de pesquisa macroeconômica do Itaú.

Ou seja, a economia voltou a desusar recursos produtivos, voltou a desempregar e a usar menos da capacidade de produção nas fábricas.

A mudança foi bem pequena, mas para pior, em uma economia que está praticamente estagnada faz dois anos depois de uma das três piores recessões desde o começo do século 20.

Em suma, a economia brasileira começa 2019 em um degrau mais baixo do que se esperava. Pode ser que a melhora das condições financeiras do final do ano (juros e dólar em baixa, Bolsa em alta) compense o final ruim de 2018.

Por ora, o destino do primeiro trimestre deste ano novo parece ensanduichado entre o nível baixo de produção do trimestre passado e a espera de sinais fortes de que a reforma econômica vai começar.

Em termos de animação econômica, estaríamos, pois, no limbo. Não é uma boa perspectiva para um governo que precisa de muito apoio político para tocar mudanças duras no Congresso, reformas amargas ainda desconhecidas de boa parte do povo.

Sim, é fato que, por vezes, o apoio (ou a rejeição) a um governante não depende imediatamente da situação econômica de momento, mas de expectativas e de confiança de que as coisas vão melhorar (foi assim no início de Lula 1, em 2004). Mas há pouca folga para fazer bobagem.

Os economistas de Jair Bolsonaro não podem cometer disparates e passar vexames revoltantes tais como o da turma do governo que viaja no Balão Mágico (Direitos Humanos, Educação e Itamaraty).

Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Folha de S.Paulo


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