A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou nesta quarta-feira (4) a sua tradicional sabatina com os presidenciáveis. Seis pré-candidatos ao Planalto participaram do evento “Diálogo da Indústria com Candidatos à Presidência da República”: Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Henrique Meirelles (MDB), Ciro Gomes (PDT) e Álvaro Dias (Podemos).

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Entre poucas vais e aplausos, o representante da indústria ouviram as propostas ou as pretensas propostas dos pré-candidatos à Presidência da República.

O pré-candidato do PDT à Presidência da República, o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes foi vaiado pelos empresários ao dizer que abrirá uma discussão sobre a reforma trabalhista.

"Eu não tenho poder de revogar reforma trabalhista nem nenhuma outra coisa no primeiro dia. Precisamos substituir essa selvageria a que se deu o nome de reforma trabalhista por uma outra reforma trabalhista. Vou tentar ponderar ao empresariado brasileiro que jamais prosperou uma nação no planeta Terra introduzindo insegurança jurídica e insegurança econômica", disse. "Meu compromisso com as centrais sindicais é trazer de volta essa bola para o meio de campo", completou Ciro, ouvindo uma sonora vaia.

Ao ser questionado por um empresário, Ciro rebateu: "É assim que vai ser mesmo. Se quiserem presidente fraco, escolham um desses que vêm aqui com conversa fiada para vocês". Segundo ele, é "ilusão as pessoas imaginarem que vai ter capitalismo sem consumo de massa".

Ciro enfatizou que o entrave para o crescimento da indústria não está nos salários pagos aos trabalhadores brasileiros, mas no câmbio e na taxa de juros.

Apesar das vaias quando o tema era reforma trabalhista, Ciro foi aplaudido ao defender uma taxa de câmbio com o real mais baixo em relação ao dólar para beneficiar quem produz.

O presidenciável defendeu uma espécie de blindagem da Presidência da República e criticou a judicialização da política que predomina atualmente. “A quem serve [ter] Presidências fracas? Sob o ponto de vista democrático? A quem interessa o presidente nomear ministro e o STF proibir o ministro de tomar posse por liminar? O Judiciário precisa voltar para o seu quadrado. O Ministério Público precisa voltar para o seu quadrado”, disse Ciro, sendo aplaudido novamente.

Ao estilo Ciro, ele afirmou que o governo de Michel Temer está desmoralizado e perdeu o poder de liderar. “No Executivo há um quadrilheiro na Presidência da República, que eu conheço de longa data, e como tal foi acusado pelo Ministério Público”, afirmou.

Ciro também disse que é preciso criar um plano de desenvolvimento e que o país precisa eleger alguém do campo democrático, pois a “a semente do fascismo guarda lugar no coração dos jovens”.

Bolsonaro diz que é humilde

Já o pré-candidato Jair Bolsonaro (RJ) tentou justificar o fato de não saber o que dizer sobre temas como economia e educação como sendo uma demonstração de “humildade”. Ele ainda criticou a cobrança feita aos que pretendem ocupar o cargo mais importante da República de ter que "entender de tudo".

"Não posso ser acusado de mergulhar o Brasil nessa situação de quase insolvência por não entender do assunto, o presidente é um técnico, não vai jogar bola, não vai entrar em campo, tem que discernimento, humildade e força para buscar soluções para os problemas", comparou.

Mas como um técnico, Bolsonaro deveria ter pelo menos a ideia de qual será a estratégia para colocar o seu time em campo. Quando questionado sobre suas propostas para melhorar a educação no Brasil, ele disse que ainda não sabe o que fazer, mas para demonstrar humildade, afirmou que aceita sugestões.

"Minha resposta é simples, quero sugestões, não quero falar o que não domino", declarou.

Mas o presidenciável do PSL não perdeu a oportunidade de fazer o seu discurso contra o que chama de "ideologia de gênero". "Não tenho nada contra quem é feliz com seu parceiro, quem sabe amanhã eu seja também", disse, em referência aos homossexuais. Bolsonaro se disse ainda contra a política de cotas nas universidades – momento que foi aplaudido pela plateia. 

Seguindo o discurso dos “humildes”, Bolsonaro disse que a primeira providência que tomará se for eleito presidente será "pedir a benção de Deus para o Brasil" e afirmou que o caminho adotado por ele é o da "verdade", inspirado na Bíblia. Citou o versículo que diz "conheceis a verdade, a verdade vos libertará". 

Bolsonaro defendeu a privatização de estatais e ainda criticou a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, de impor a condição de anuência do legislativo para privatização de estatais. "A privatização tem que passar pelo parlamento? Isso é ideológico, para garantir o emprego de companheiros", disse.

Ele defendeu a redução do número de ministérios, mas mostrou desconhecer o governo ao afirmar que Temer não deve saber o nome de seus "40 ministros". Atualmente, o governo mantém 28 Pastas.

Réu após ser denunciado por racismo no Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro disse que estão tirando a possibilidade de contar piadas sobre negros. Tentou justificar a sua conduta dizendo que estava fazendo uma "brincadeira" quando apontou o peso "em arrobas" de um negro. "Errei ali, mas, poxa, estamos perdendo a possibilidade de contar uma piada", criticou.

"Hoje estão tirando nossa alegria de viver, não podemos mais contar piadas de afrodescendentes, de cearenses, de goianos", acrescentou. 

O momento de maior aplauso a Bolsonaro foi quando falou sobre a reforma trabalhista. Ele reafirmou a sua tese para geração de emprego: contar direitos.

Foi efusivamente aplaudido quando afirmou que não deseja ser empregador no Brasil com a atual legislação trabalhista em vigor. "O trabalhador vai ter que decidir se quer menos direitos e emprego, ou todos os direitos e desemprego", repetiu.

Tucano promete fim do IR para PJ

Já o pré-candidato tucano, Geraldo Alckmin, provocou aplausos quando citou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como exemplo para defender uma redução no imposto de renda para as empresas.

"Vou reduzir o imposto de renda da pessoa jurídica. Veja que nos EUA o presidente Trump reduziu o imposto corporativo. Temos de estimular novos investimentos. Venha para cá. Para investir. Quem vai se beneficiar com isso é a dona Maria e o seu José, com preços mais baixos", disse o tucano, que ainda enfrenta o descrédito de seus correligionários com a sua pré-campanha.

Para solucionar a questão do spread bancário, Alckmin defendeu que o país precisa ter mais bancos. Novamente citando a economia norte-americana como exemplo, disse que os EUA têm 5 mil bancos e o Brasil apenas 30 ou 40. “É um modelo concentrado. Precisa abrir mais, trazer mais players, outras formas de crédito, abrir o mercado”, disse ele para agradar o setor rentista.

Seguindo o roteiro do governo de Michel Temer, mas sem citar o nome do ilegítimo que tem rejeição recorde nas pesquisas, Alckmin afirmou que, se eleito, irá utilizar os seis primeiros meses para seguir com as reformas que o governo atual não conseguiu fazer.

Ele afirma que vai convidar "economistas da academia e do setor produtivo” para “fazer uma grande reforma do estado, reduzindo seu tamanho".

Marina diz que reforma trabalhista foi boa, mas pode "melhorar"

A pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, também disse que pretende seguir com as reformas. Disse que a reforma trabalhista feita por Temer, que cortou direitos e precarizou o trabalho, foi boa porque conseguiu reduzir muito as disputas judiciais, o que, segundo ela, é bom para empregadores e empregados, mas ainda há questões a serem aperfeiçoadas.

"Não acho que ela deva ser revogada, acho que deve ser revisitada para corrigir essas injustiças que já haviam sido reparadas com a medida provisória", disse ela, citando a MP editada por Temer que, posteriormente, perdeu a validade.Apesar disso, a pré-candidata não arrancou aplausos da plateia de empresários.

Marina endossou o discurso da antipolítica e da criminalização dos partidos. Afirmou que, se eleita, vai buscar a constituição de uma maioria no Congresso com base em um programa. "Se ganhar, vou governar com os melhores. Não com os partidos. Os 200 milhões de brasileiros são maiores do que os 35 partidos", disse. Marina não foi aplaudida nenhuma vez durante sua apresentação e, apesar de defender a reforma política e da previdência, ela não detalhou como pretende executar essas reformas. 

Do Portal Vermelho, 5 de julho de 2018.