Desempenho da indústria, do comércio e dos serviços decepciona nos dois primeiros meses do ano.


Consumidores circulam em loja da rua 25 de Março, em SP; recuperação no varejo oscila - Dario Oliveira - 9.jan.2018/Folhapress

                 

Após a frustração com o desempenho da indústria e do varejo neste início de ano, os dados que faltavam para compor um quadro mais claro da atividade econômica no primeiro trimestre-- os de serviços-- colocaram uma pá de cal nas expectativas mais otimistas para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2018.

O caso mais emblemático na rodada de revisões é o do Banco Fibra. Com crescimento de 4,1% para o PIB deste ano, o banco se dobrou aos últimos números e deve anunciar em breve a revisão.

"Ela vai ser grande. Se ficar em 3% é bastante", diz o economista-chefe do Fibra, Cristiano Oliveira.

A percepção é que, ancorada em dados vacilantes, a economia ainda não engatou como era esperado e a recuperação por ora patina, cada vez mais dependente de um segundo semestre mais forte.

O varejo dá sinais dúbios, afetado por 13 milhões de desempregados e um mercado de trabalho que reage na base da informalidade.

O indicador que representa mais de 60% do PIB brasileiro e que incorpora a promessa de ser o grande motor do crescimento em 2018 caiu 0,2% em fevereiro, enquanto se previa alta perto de 0,8%.

Embora automóveis e material de construção, mais dependentes de crédito, tenham reagido, os itens mais ligados à renda, como as vendas de supermercados, fraquejaram.

Os serviços também não animam. Segundo dados divulgados na sexta (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a alta foi de apenas 0,1% em fevereiro, com um agravante: o segmento também cai na comparação com igual mês do ano passado (-2,2%).

Para completar, a produção da indústria, que vinha surpreendendo positivamente, engasgou. Após uma queda de 2,2% em janeiro sobre dezembro, a alta em fevereiro foi de apenas 0,2%.

Diante do quadro mais incerto, as projeções para o PIB do primeiro trimestre são as as primeiras a ser atingidas.

Os dois maiores bancos privados do país, Itaú e Bradesco, revisaram estimativas.

O Bradesco esperava alta de 0,5% para o PIB de janeiro a março e agora tem 0,3%. Já o Itaú reduziu pela metade a projeção, de 1% para 0,5%.

"Para chegar aos 3%, os dados a partir do segundo trimestre precisam ser mais fortes", diz Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa do Itaú Unibanco.

Para Gonçalves, alguns elementos sustentam uma reversão do quadro recente a partir do segundo trimestre.

Entre eles, diz Gonçalves, a economia global em expansão, o menor endividamento de empresas e uma taxa básica de juros no nível mais baixo da história (6,5%), que ainda não surtiu seus efeitos.

"É isso que faz a gente segurar a projeção de 3%", diz.

Por motivos similares, o Santander mantém projeção de alta de 3,2% para o PIB.

Luciano Sobral, economista do banco, reconhece, porém, os sinais decepcionantes. "Tudo está bem morno. Dois meses não contam a história inteira, mas, evidentemente, se fôssemos revisar hoje seria para baixo", diz.

A consultoria MB Associados vai rever a previsão de 3,5% para perto de 3%. O ajuste, diz o economista Sergio Vale, se deve mais a dificuldades políticas à frente.

O Banco Fator, cuja projeção está em 2,9%, também vai rever o número em breve. Já a consultoria do economista Affonso Celso Pastore terá nova projeção na segunda (16). A alta de 3% pode ficar mais próxima de 2,5%. Segundo estudo divulgado pela Folha, a informalidade do mercado de trabalho não dá segurança para se voltar a consumir.

                    

Fonte: Folha de São Paulo, 16 de abril de 2018