Ninguém tem dúvida: temos um governo díspar. Vai do Psol do deputado Guilherme Boulos (SP) ao complicado União Brasil do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, outra vez envolvido em um rolo. Na equipe econômica, cada um dos seus integrantes parece ter uma linha de pensamento diferente: do petista Fernando Haddad, na Fazenda, passando pela emedebista Simone Tebet no Planejamento, ao vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSB, na Indústria e Comércio. A esquerda puxa para um lado, a centro-direita puxa para outro.

Em princípio, isso deveria ser o sinal de um eterno fio desencapado a produzir choques diários a partir da Esplanada dos Ministérios. A questão da reoneração dos combustíveis talvez tenha demonstrado que o presidente Lula tem, porém, na sua cabeça uma forma de administrar isso.

O primeiro ponto importante é que, diante do quadro da eleição vencida por Lula, não havia outro caminho senão unir no mesmo governo forças políticas de posições díspares. A vitória de Lula foi resultado disso, e não teria sido legítimo compor um governo que não fosse a reprodução dessa disparidade, unida diante de um único ponto em comum: a defesa da democracia, que julgavam ameaçada diante do risco de nova eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Assim, não seria mesmo possível que a condução do governo Lula fosse um monólogo. Mas ela podia virar uma grande Torre de Babel, uma imensa confusão onde todo mundo grita e ninguém escuta ninguém. Em alguns momentos destes primeiros meses de governo, passou-se essa impressão. A discussão em torno da reoneração dos combustíveis mostra que pode haver um caminho do meio nisso. No qual Lula talvez se valha da sua velha experiência de sindicalista, de mediador de assembleias.

A desoneração dos combustíveis foi uma das bombas-relógio que o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou para o novo governo. Tinha prazo para acabar, e em algum momento o governo teria que retornar a cobrança dos impostos, ainda que viesse a prorrogar o desconto agora.

De um lado, a equipe econômica chefiada por Haddad defendia a volta da cobrança dos impostos. Do outro, o próprio partido de Lula e Haddad, o PT, a começar por sua presidente, Gleisi Hoffmann (PR), criticou pesadamente essa hipótese, afirmando que isso iria penalizar a sociedade.

O que Lula fez? Como se estivesse presidindo outra vez uma assembleia de metalúrgicos, o presidente deixou que os grupos brigassem. E, então, arbitrou uma saída negociada. Como queria Haddad, os combustíveis voltarão a ser onerados, e Haddad verá a recomposição tributária que desejava. Mas a oneração não será total. No momento em que escrevemos aqui, ainda não houve a entrevista na qual Haddad anunciará como serão as alíquotas. Mas as informações é que a equação ficará em um meio-termo. Um valor maior para a gasolina, e menor para o etanol e outros biocombustíveis. E a Petrobras anunciou a redução do preço dos combustíveis a partir das refinarias.

Tudo certo, então? Talvez não exatamente. Houve uma queda no valor das ações da Petrobras na bolsa de valores. E algumas outras reações. Mas a avaliação geral é que a solução salomônica de Lula minimizou estragos de um lado e de outro.

Pode ser por aí que irá seguir o governo. Após três vitórias presidenciais e 47 anos depois da sua primeira eleição como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula parece ter retornado à sua condição de mediador de assembleias e de acordos.

AUTORIA

Rudolfo Lago

RUDOLFO LAGO Diretor do Congresso em Foco Análise. Formado pela UnB, passou pelas principais redações do país. Responsável por furos como o dos anões do orçamento e o que levou à cassação de Luiz Estevão. Ganhador do Prêmio Esso.

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