Patrícia Diaz e Tereza Perez*

Os candidatos eleitos que assumirem a presidência e os postos de governador estadual em 2023 terão de lidar com a dívida com a alfabetização, que só aumentou nos últimos anos. O tempo em que ficamos com as escolas fechadas, com atividades remotas alcançando somente alguns estudantes, deixou marcas no nosso já combalido cenário da alfabetização. Os primeiros estudos divulgados após a reabertura das escolas já mostravam que o número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever só cresce.

Eram 2,4 milhões de pequenos cidadãos nessa situação no início do ano.

Mas por que o ensino remoto atingiu especialmente o processo de alfabetização? Alfabetizar-se exige interagir com o professor e com outros alunos. É mostrando o que se escreve, perguntando e comparando que as crianças vão avançando nas suas hipóteses sobre o sistema de escrita. Aos 7 anos, no 2º ano do Fundamental, um estudante teria tido inúmeras dessas situações e recebido o apoio para começar a se apropriar do complexo sistema pelo qual nos comunicamos. Idealmente teria tido também acesso a um bom e diversificado repertório de livros e a muitas experiências como ouvintes de leituras e como produtores de textos. Mas isso não ocorreu.

Assim, é necessário que estudantes do 3º ano contem com intervenções intensivas para avançar nos conhecimentos sobre como se escreve e sobre como se lê. Entendendo a apropriação dos conhecimentos iniciais de Matemática como parte do processo de alfabetização, essa mesma qualidade de intervenções se faz necessária para apoiar os alunos a aprenderem a contagem e as operações, especialmente de adição e subtração.

O investimento na alfabetização deve se estender até os estudantes do 7º ano, que também podem não ter consolidado seus aprendizados e carregar as dificuldades de leitura e escrita na sua trajetória escolar. Sabemos que estar na escola não garante aprendizado: o analfabetismo é um problema crônico num país que naturaliza a desigualdade. O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), que afere o alfabetismo de 15 a 64 anos, mostrava, na edição de 2018, que 13% dos estudantes que chegam ou concluem o Ensino Médio são analfabetos funcionais, ou seja, não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ou são apenas capazes de localizar informações explícitas em textos simples.

A desigualdade educacional opera pelas linhas regionais e pelo racismo estrutural na sociedade, excluindo negros, indígenas, populações ribeirinhas, populações do campo; assim vemos a inequidade se evidenciar quando olhamos para as diferentes regiões e para o critério de raça e cor.

É imperativo que haja, em cada localidade e no Ministério da Educação, gestores públicos que invistam em uma política de alfabetização, tendo como base a definição dos professores alfabetizadores e o investimento na sua formação. Secretários de educação precisam se desafiar a ter em suas redes os melhores professores para alfabetizar crianças, adolescentes, jovens e adultos. Educadores que conheçam a didática da alfabetização e da matemática; que tenham tempo remunerado para registrar, refletir, estudar e planejar; empenhados em compartilhar com os colegas avanços e dificuldades. Que não tenham medo de arriscar e inovar para ensinar mais e melhor a todos.

*Patrícia Diaz e Tereza Perez são diretoras da Comunidade Educativa CEDAC

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