Por Jamile Racanicci e Alexandro Martello, TV Globo e g1 — Brasília

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou nesta quarta-feira (4) a taxa Selic de 11,75% ao ano para 12,75% ao ano. A decisão foi unânime.

O aumento de um ponto percentual representa o décimo avanço seguido da taxa básica de juros da economia.

Com isso, a Selic atinge o maior patamar em mais de cinco anos. Em janeiro de 2017, a taxa estava em 13% ao ano.

Na reunião anterior, em março, o Copom registrou em ata que elevaria a taxa novamente em um ponto percentual. Assim, o aumento para 12,75% em maio era esperado pelo mercado financeiro.

A decisão do Copom

No comunicado, o comitê considerou "provável" elevar novamente a taxa Selic na próxima reunião, em meados de junho. Porém, o avanço da taxa deverá ter "menor magnitude" do que o aumento atual, de um ponto percentual.

"O Copom considera [...] apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista", lê-se no comunicado.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, chegou a indicar em março que o aumento da taxa para 12,75% seria o último avanço previsto para o ano.

Porém, ele próprio admitiu em abril que a inflação havia surpreendido expectativas da instituição – o que abre caminho para novas elevações da Selic.

Na mesma linha, o comitê avaliou, no comunicado, que a inflação sentida no bolso dos consumidores "seguiu surpreendendo negativamente".

Nesse cenário, o Copom afirmou que as premissas e projeções do comitê passam a ter um nível de incerteza "maior do que o usual". Para 2022, o Copom trabalha com uma previsão de inflação de 7,3% e, para 2023, de 3,4%.

Por fim, o comitê afirmou que a alta da inflação é impulsionada principalmente por dois fatores:

  • a elevação de preços difundida no mundo todo, como consequência da pandemia da Covid e da guerra na Ucrânia;
  • a "incerteza" dos investidores em relação ao cumprimento, por parte do governo, das regras fiscais do país.

Entre as principais normas em vigor para controlar os gastos públicos estão a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto de gastos, elevado pelo governo em 2022 para encaixar o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400.

Inflação em alta

O objetivo da alta no juro é tentar conter a escalada da inflação. Pressionado principalmente pelo aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis, o IPCA-15 — considerado u prévia da inflação oficial do país — ficou em 1,73% em abril. Em 12 meses, atingiu a marca dos 12%.

Com alta de 7,51%, a gasolina foi a principal responsável pela alta da inflação na prévia de abril. Houve altas acentuadas também do diesel, do etanol e do gás veicular, levando a alta dos transportes a 3,43% na prévia do mês.

Os números da inflação mostram que encher o carrinho do mercado também está mais difícil. Os preços dos alimentos e bebidas aumentaram 2,25% na prévia de abril, puxados por produtos consumidos dentro de casa.

No fim de março, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou que a inflação brasileira deveria atingir seu pico no mês de abril, começando a desacelerar nos meses seguintes. Porém, ele já havia estimado anteriormente que a inflação começaria a ceder no fim de 2021, o que não aconteceu.

Próximos passos

O mercado financeiro também está de olho nas sinalizações sobre a taxa Selic para os próximos meses.

No fim de março, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, chegou a indicar que o aumento previsto para o mês de maio, para 12,75% ao ano, seria o último do atual ciclo de alta dos juros. Ou seja, sem novas elevações nos meses subsequentes.

Entretanto, em abril, o presidente do BC admitiu que a inflação havia surpreendido e que, por isso, a instituição iria analisar mais profundamente os últimos índices de inflação. Deste modo, deu a entender que novos aumentos são possíveis.

A expectativa do mercado financeiro, em pesquisa realizada na semana passada pelo BC com mais de 100 bancos, é de que a taxa Selic terá novo aumento em junho, para 13,25% ao ano. E que terminará 2022 neste patamar.

Sistema de metas

Para calibrar o nível dos juros, o sistema adotado é o de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central reduz a Selic.

Em 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. O mercado financeiro e o BC, porém, já preveem a inflação de quase 8% em todo este ano. Se confirmado, será o segundo ano seguido de estouro da meta de inflação.

Neste momento, porém, o BC já está ajustando a taxa Selic para atingir a meta de inflação do ano que vem, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.

Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.

Na semana passada, o mercado financeiro estimou que a inflação oficial somará 4,10%. A previsão, portanto, está acima da meta central, mas ainda dentro do intervalo de tolerância.

Consequências da alta dos juros

De acordo com economistas, o aumento do juro básico da economia, para conter a inflação, tem vários reflexos na economia. Entre eles, estão:

G1

https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/05/04/copom-eleva-taxa-selic-para-1275percent-ao-ano-maior-patamar-desde-2017.ghtml