Por Anaïs Fernandes, Valor — São Paulo

A disparada da inflação deve praticamente anular a tentativa do governo de oferecer sustentação à renda das famílias e, consequentemente, ao consumo com medidas de estímulo fiscal como a liberação de recursos do FGTS a partir deste mês, aponta um estudo do Santander.

Os economistas Gabriel Couto e Ítalo Franca estimam que os saques — até R$ 1 mil por trabalhador, podendo somar de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões — adicionarão, em 2022, 0,6 ponto percentual ao crescimento da massa salarial real ampliada, que engloba salários, benefícios previdenciários e transferências federais. Ainda assim, a projeção de variação para esses rendimentos totais praticamente não mudou entre o relatório de outubro e o publicado hoje pelo banco: passou de 3,3% para 3,2%, após tombo de 8% em 2021.

Isso ocorreu porque o aumento da projeção de inflação de 6% para 7,9% compensou o ganho esperado com os saques, explicam Couto e Franca. A inflação mais alta reduz o crescimento real da renda média. Isso já é observado. Ao mesmo tempo em que a população ocupada tem crescido até acima do esperado, a renda real do trabalho atingiu mínimas históricas, sentindo o choque inflacionário mais persistente, além de salários de entrada mais baixos para quem retorna ao mercado de trabalho, aponta Couto. “Tivemos surpresas inflacionárias consideráveis nos últimos meses e isso impacta diretamente a renda real. O grande ponto que podemos tirar dessa atualização é que, mesmo com a liberação de recursos do FGTS que passamos a incluir, a piora do quadro inflacionário corroeu essa renda”, afirma o economista.