O desempenho dos candidatos na eleição presidencial, além do carisma pessoal e da estrutura de campanha, dependerá do ambiente político — se de continuidade ou de renovação — e do eixo de campanha. Pretendem disputar a eleição presidencial, pelo menos 8 candidatos e partidos: Lula, pelo PT; Jair Bolsonaro, pelo PL; Ciro Gomes, pelo PDT; Sérgio Moro, pelo Podemos; João Dória, pelo PSDB, Simone Tebet, pelo MDB; Rodrigo Pacheco, do PSD, e Felipe d’Ávila, do Novo.

Antônio Augusto de Queiroz*


O ambiente político, na fotografia do momento, é de mudança ou de renovação presidencial, assim como aconteceu nas eleições de 1989, 2002 e 2018. Se realmente se confirmar essa tendência de renovação, será a primeira vez, desde que foi instituída a reeleição, que um presidente da República perderá a disputa pela renovação do mandato. Todos os presidentes que disputaram a reeleição no exercício do mandato foram reeleitos: Fernando Henrique, em 1998; Lula, em 2006; e Dilma, em 2014.

Sempre que o presidente em exercício é candidato à reeleição — e isto só aconteceu em ambiente de continuidade — o eixo de campanha foi na direção do aprofundamento das políticas públicas que vinham sendo implementadas pelo governo. Fernando Henrique manteve o Plano Real como eixo; Lula prometeu turbinar o combate à fome e à miséria; e Dilma insistiu nos programas vinculados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). 

Entretanto, em ambiente de renovação, em que há forte rejeição à gestão governamental do postulante à reeleição, o pleito ganha caráter plebiscitário, de julgamento daquela administração. Se este for o caso em 2022, o principal prejudicado será Bolsonaro, tanto pelo “cavalo de pau” que deu no governo em relação ao que prometeu na campanha, quando praticou verdadeiro “estelionato eleitoral”, com adesão ao sistema e submissão ao Centrão, quanto pela gestão disfuncional e retrógada de seu governo, especialmente em relação às áreas de direitos humanos, meio ambiente e políticas sociais.

Como 1 ex-presidente, no caso o Lula, também é candidato no pleito, é possível que em lugar de mero plebiscito sobre o governo Bolsonaro, haja disputa de legados entre as 2 gestões (Lula e Bolsonaro), numa espécie de polarização, que mede vantagens e desvantagens de cada administração. Se este cenário se confirmar, os prejudicados serão os demais candidatos, pois numa eleição polarizada, com disputa de legados entre 1 ex-presidente e o atual, o espaço para o surgimento de terceira via se reduz muito.

Portanto, a hipótese central deste texto é que Lula, caso confirme a candidatura dele, estará no 2º turno, como esteve em 1989, 2002 e 2006, e que o adversário será o Bolsonaro. De acordo com essa hipótese, só haveria espaço para outra candidatura no 2º turno, e no lugar de Bolsonaro, se a disputa não mantiver o caráter plebiscitário ou de disputa de legados. Ou seja, só com eventual mudança de eixo na eleição, é que os demais candidatos teriam alguma chance na disputa.

Além disto, para que qualquer outro candidato chegue ao 2º turno, esse ou essa terá antes que desconstruir 1 dos 2 que estão polarizando em 1º lugar. Caso prevaleça a tendência de o PT disputar o 2º turno, especialmente agora com Lula, o nome a ser retirado do 2º turno será Bolsonaro. Neste caso, os nomes mais competitivos para tanto seriam o de Sérgio Moro e o de João Dória, pois são eles, ao lado de Felipe d’Ávila, do Novo, que disputam o eleitorado de direita com Bolsonaro.

Entretanto, apesar de governo disfuncional e afrontador das instituições do Estado, Bolsonaro mantém patamar superior a 20% de intenção de votos, fato que dificulta a quebra dessa polarização, especialmente pela resiliência dos apoiadores dele. Somente na hipótese de mudança do eixo da eleição, com a entrada de outros temas na campanha — como economia, combate à corrupção e agenda social etc —, é que os outros candidatos entrariam para valer na disputa. 

Assim, se o eixo central for economia, os candidatos fora da polarização com chances de melhor se posicionar no debate, seriam João Doria, por ter governado o estado de São Paulo e contar com equipe econômica robusta do ponto de vista do interesse do mercado; Ciro Gomes, por conhecer bem o tema e já ter sido ministro da Fazenda; e o candidato do Novo, Felipe d’Ávila, pelo discurso fundamentalista que faz em defesa da economia de mercado. 

Se o tema for social, Ciro Gomes, Simone Tebet e Rodrigo Pacheco teriam espaço para opinar. Se a pauta for o combate à corrupção, Moro seria o principal beneficiário, pelo fato de ter a imagem associada à Lava-Jato.

Para melhor compreensão ou dizendo de outro modo, numa disputa sem polarização: Ciro aparece bem na hipótese de eixos econômico ou social; Doria só se beneficia se o eixo for economia, assim como a candidato do Novo, Felipe d’Ávila; Moro aparece bem se o eixo for o combate à corrupção; Simone Tebet tem o que dizer se o eixo for economia, social ou combate à corrupção; e Rodrigo Pacheco se o eixo for economia ou social.

Por fim, desconsiderando as hipóteses de plebiscito ou polarização, ganhará quem for capaz de transmitir aos eleitores esperança e confiança. Esperança de que a vida do eleitor e da família vai mudar para melhor e confiança de que o candidato e a equipe dele serão capazes de transformar o que prometem em realidade. Bolsonaro, mesmo com a vantagem de disputar no exercício do mandato, para ganhar em cenário desse, teria que apresentar muito resultado até a eleição e mudar completamente, tanto a retórica quanto a prática.

Todavia, se for mantida, e tudo indica que se manterá, a hipótese de polarização, o desfecho no 2º turno se daria entre Lula e Bolsonaro, com vitória daquele. De um lado, por força do ambiente de mudança ou renovação, e, de outro, pela clara vantagem do legado de Lula em termos de realizações em favor da maioria do povo brasileiro, além da ausência de qualquer risco à democracia.

(*) Jornalista, mestre em Políticas Públicas e Governo pela FGV. Ex-diretor de Documentação do Diap, é analista e consultor político em Brasília
DIAP

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