Maioria esmagadora dos 30 parlamentares paranaenses é aliada do peemedebista e tende a votar a favor do presidente em plenário. Mas temem repercussão negativa para 2018.

                                    

Historicamente fiel ao presidente Michel Temer (PMDB), a maioria dos 30 parlamentares da bancada federal do Paraná terá dificuldade para dar aval a uma eventual ação penal por crime de corrupção passiva contra o peemedebista. O desconforto é evidente, desde a divulgação do conteúdo das delações da JBS. Paranaenses têm evitado a tribuna e também a imprensa, inclusive não atendendo ligações no celular. O resultado da pesquisa divulgada pela Folha de S.Paulo no domingo (2) só corrobora essa postura: entre os paranaenses, 18 não se posicionaram claramente se votarão a favor ou contra a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o chefe do Executivo, quando o caso chegar para deliberação do plenário.

Entre aqueles que se omitiram estão os dois únicos integrantes da bancada do Paraná que também são titulares na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados: Rubens Bueno (PPS) e Osmar Serraglio (PMDB). Cabe ao colegiado interno analisar a denúncia antes de enviá-la ao plenário da Casa.

Luiz Nishimori (PR), que há uma semana estava entre os parlamentares que foram ao Planalto para dar respaldo ao pronunciamento de Temer, logo após a denúncia da PGR, informou que “não irá se pronunciar” sobre a votação. A mesma reposta foi dada por outros paranaenses que já tinham admitido à Gazeta do Povo que não estão confortáveis com a situação, como Luiz Carlos Hauly (PSDB) e Sandro Alex (PSD).

No início do mês, já com as delações da JBS sendo exploradas pela oposição, Alex Canziani (PTB) afirmou à Gazeta do Povo que era preciso dar força ao presidente da República. “Fomos levar nosso abraço, nossa solidariedade”, explicou o paranaense, após uma reunião entre o chefe do Executivo e a bancada do PTB. À Folha de S.Paulo, contudo, Canziani também figura na lista daqueles que ainda “não sabe”.

A maioria dos integrantes da bancada do Paraná deve sair candidata à reeleição em 2018 e teme a repercussão negativa em torno de um voto para “engavetar” a denúncia, contrariando a PGR. Além disso, o histórico de votações na Casa revela que a maioria dos paranaenses se manteve fiel à gestão Temer, inclusive porque contribuíram para derrubar sua antecessora, Dilma Rousseff (PT).

                                           

Histórico de fidelidade

No processo de impeachment, apenas quatro deputados federais do Paraná votaram, em abril do ano passado, contra a saída da petista: além de Enio Verri e Zeca Dirceu, ambos do PT, Assis do Couto (PDT) e Aliel Machado (Rede). Os quatro, formalmente, passaram a integrar a bancada de oposição ao Planalto. Os demais se mantiveram fieis ao presidente Temer, com uma ou outra dissidência ao longo do tempo.

Levantamento realizado pela Gazeta do Povo, em maio último, mostrou que os mais de 20 aliados do Paraná, com deserções pontuais, deram aval às quatro proposições consideradas cruciais para Temer até ali – a mudança na exploração da camada do pré-sal, a regulamentação da terceirização, a PEC do Teto dos Gastos Públicos e, por fim, a reforma trabalhista.

Mas, especialmente com o avanço da reforma previdenciária – tema prioritário para o Planalto até a avalanche das delações da JBS -, alguns fieis aliados de Temer começaram a se dispersar. Seguindo orientação do próprio partido político, o PSB, os paranaenses Luciano Ducci e Leopoldo Meyer passaram a se declarar abertamente contra a reforma previdenciária.

Hoje, Ducci está entre aqueles que pedem a renúncia do presidente. Na enquete da Folha de S.Paulo, ele já informou que votará contra o peemedebista. O mesmo ainda não foi dito com todas as letras pelo correligionário Leopoldo Meyer, que figura na lista dos políticos que ainda “não sabe”.

Também na esteira da reforma previdenciária, Christiane Yared (PR) e Francischini (SD) já tinham se rebelado na base aliada. Com as delações da JBS, não chegaram a subir na tribuna para falar sobre o assunto, mas, ambos pré-candidatos ao Senado em 2018, não titubearam para dizer que votarão contra Temer.

Já o líder da bancada do PHS, o paranaense Diego Garcia, se retirou da base aliada por causa das delações da JBS. Chegou a pedir o impeachment de Temer e, na tribuna da Casa, é quem tem reclamado do “esvaziamento” do plenário. Agora, a bancada do PHS se declara “independente” e Diego Garcia já avisou que votará a favor da denúncia contra o presidente.

O mesmo não aconteceu com a deputada Leandre, líder da bancada do PV, que também se declara “independente” desde o início da gestão Temer. À Folha de S.Paulo, a parlamentar de primeiro mandato informou que ainda “não sabe”.