Imprimir PDF

CENÁRIOS-Com Cimpor, Camargo encara análise antitruste "vertical"

Dois anos após comprar quase um terço do capital da Cimpor, a Camargo Corrêa busca assumir totalmente a fabricante portuguesa de cimento. Mas um acordo final pode enfrentar uma análise antitruste mais severa devido à "verticalização" de suas operações, já que o grupo também é um grande participante no setor de construção no Brasil.


Além disso, para continuar levando seu plano adiante, o grupo brasileiro deve fazer concessões, como abrir mão de ativos da Cimpor no exterior para compensar a saída da sócia Votorantim da companhia portuguesa no Brasil.


Um passo importante foi alcançado na semana passada, quando o fundo de pensão do português Millennium BCP decidiu vender sua fatia de 10 por cento na Cimpor, seguindo a Oferta Pública de Aquisição (OPA) pela cimenteira apresentada pela Camargo Corrêa no fim de março.


A portuguesa Caixa Geral de Depósitos, com seus 9,6 por cento, também indicou interesse em vender sua fatia na Cimpor à Camargo Corrêa.


A Votorantim, por sua vez, estaria negociando como sair da sociedade portuguesa, disse uma fonte a par do assunto. Analistas consideram que o acordo deve ter grande adesão de outro acionista, o empresário Manuel Fino.


Enquanto tudo parece estar fluindo no lado societário, apesar do conglomerado português Semapa ter proposto nesta semana uma união de acionistas contra a oferta da Camargo Corrêa, o grupo brasileiro pode ter que se preocupar ainda em como suas operações no setor de construção e infraestrutura afetariam o mercado de cimento, disseram advogados especialistas em direito de concorrência.


"É uma integração vertical nítida, então isso será olhado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que costuma ter uma preocupação grande com isso", disse um advogado independente que prefere não se identificar porque o negócio ainda está em andamento.


Nesta terça-feira, o presidente da área de cimentos da Camargo Corrêa, José Edison Franco, afirmou que a empresa não prevê a venda de ativos se tiver sucesso na oferta pela Cimpor e que não tem pré-acordo com a Votorantim para divisão da cimenteira portuguesa, embora não descarte um entendimento futuro para gerir a empresa.


O braço de construção da Camargo Corrêa gerou receita líquida superior a 6 bilhões de reais em 2010, o que o coloca como um dos maiores do Brasil no setor. Sua posição poderia alavancar de forma relevante a posição de suas operações de cimento, na visão de outro advogado antitruste.


Uma análise antitruste por parte do Cade levaria em consideração cada região do país e as áreas de atuação do grupo em cimento e construção.


Isso poderia levar a Camargo Corrêa a assumir compromissos para tratar os diversos agentes do mercado de forma igualitária, disse o primeiro advogado, ou até, em um caso mais severo, a potenciais restrições, embora uma estimativa precisa seja incerta no momento.


VOTORANTIM


A oferta de 5,50 euros por ação da Cimpor pela Camargo Corrêa representa também porta de saída para a Votorantim das operações brasileiras da cimenteira, diante de possíveis restrições antitruste, disse uma fonte próxima da cimenteira portuguesa.


"A ideia é que a Camargo fique dona de tudo e a Votorantim receba pela sua parte ativos da Cimpor fora do Brasil", disse uma fonte ligada a um dos grupos envolvidos na operação. "É uma maneira de viabilizar a operação no Cade."


A Votorantim informou até agora apenas que vai avaliar todas as alternativas, visando atender sua estratégia de desenvolvimento de negócios e criação de valor no longo prazo.


A Votorantim detém quase 40 por cento das vendas no mercado brasileiro de cimento, segundo dados mais recentes do sindicato nacional do setor, SNIC, de 2010, e possui 21,2 por cento da Cimpor, quarta maior produtora do Brasil.


De acordo com essa mesma fonte, a Votorantim teria interesse em trocar sua fatia na Cimpor por ativos da empresa fora do Brasil para se expandir internacionalmente. Com presença em 12 países, a Cimpor atua em mercados emergentes de forte crescimento, como China e Índia.


AVANÇO DA CAMARGO


A área cimenteira da Camargo Corrêa está reunida na InterCement Participações. Além de sete unidades produtoras de cimento no Brasil, ela tem o controle da argentina Loma Negra, comprada em 2005 por cerca de 1 bilhão de dólares.


Se concluída a compra da Cimpor, a operação fará a produção da InterCement praticamente dobrar no Brasil, passando de 5,9 milhões de toneladas, para 11,4 milhões de toneladas.


Apesar disso, a InterCement subirá apenas uma posição no ranking dos maiores produtores do país, liderado pela Votorantim, que em 2010 produziu 22,4 milhões de toneladas de cimento. A InterCement tem meta de se tornar neste ano uma das 20 maiores produtoras de cimento do mundo.


Com a compra da Cimpor, além do salto no volume de produção, a InterCement reforçaria sua atuação com fábricas de cimento da companhia portuguesa localizadas no Nordeste do Brasil, uma das regiões de mais forte crescimento no país, sendo duas na Bahia, uma na Paraíba e outra em Alagoas.


Passaria, ainda, a ter capacidade no centro e sul do país, com uma unidade em Goiás e outra no Rio Grande do Sul.


A operação acontece em um momento de forte crescimento das vendas de cimento no Brasil, em meio a programas governamentais de incentivo à construção civil nos setores de habitação e infraestrutura.


Segundo dados do Snic, a venda de cimento no país cresceu 7 por cento em 2011, para um recorde 63,5 milhões de toneladas. A expectativa para este ano é incremento do volume entre 5,5 e 6 por cento.


 

Fonte: G1, 11 de abril de 2012

FETRACONSPAR - Federação dos Trabalhadores nas Industrias da Construção e do Mobiliário do Estado do Paraná
Rua Francisco Torres, 427 - Centro - Cep. 80060-130 | Curitiba - Paraná | Brasil

Fone: (41) 3264-4211 | Fax: (41) 3264-4292 | Email: fetraconspar@fetraconspar.org.br