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Ensino privado é o mais novo investimento da classe média


Famílias da classe C lideram o aumento dos gastos dos brasileiros com educação. Em dois anos, participação delas subiu de 39% para 45% da despesa total
 

 Henry Milléo/ Gazeta do Povo / Patricia, Cristiane e Maria Joana: família destina 20% das despesas para a educaçãoPatricia, Cristiane e Maria Joana: família destina 20% das despesas para a educação


Os brasileiros vão gastar R$ 62,8 bilhões com educação em 2012, volume que inclui matrículas, mensalidades e material escolar. Parte desse montante sairá do bolso da nova classe média, que neste ano vai desembolsar o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) do Paraguai com esse setor: R$ 28,1 bilhões.


A classe média é a que mais cresce em participação nos gastos. Há dois anos, as classes A e B representavam 57,7% das despesas com educação, participação que caiu para 51,6% neste ano. Em compensação, a classe C, que respondia por 38,9%, hoje está com 44,7%.

Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo / João Paulo e os pais, Emílio e Isa: estudos consomem pelo menos 30% da rendaAmpliar imagem

João Paulo e os pais, Emílio e Isa: estudos consomem pelo menos 30% da renda

Sem trocar de carro há 15 anos, família dá prioridade à educação

Pelo menos 30% da renda do administrador de empresas e professor Emilio Carlos de Castro Paiva, 48 anos, vai para a educação. O filho, João Paulo Krug Paiva, 13 anos, estuda no Bom Jesus Aldeia, e Emilio iniciou neste ano um curso de aperfeiçoamento em Direção Executiva na FAE, em convênio com a Esade Business School.

Segundo ele, educação é prioridade. “Não troco de carro há 15 anos, mas investimos muito em educação”, diz. O professor tem desconto nos cursos por trabalhar no grupo educacional em que ele e o filho estudam, mas mesmo assim a despesa é salgada. “Sem o desconto, a escola sai por R$ 1,6 mil por mês e o meu curso, por R$ 2 mil”, afirma.

O filho se prepara para fazer um intercâmbio educacional na Alemanha, no ano que vem. “Quero dar para ele mais oportunidades que eu tive. Só fui fazer minha primeira viagem para o exterior depois de entrar para a faculdade. E estamos dispostos a sacrificar viagens mais supérfluas, como para a Disney ou para comemorar aniversário de casamento, por exemplo, em prol da educação”, diz.

Emilio, que também é consultor de carreira, justifica os gastos. “Em um mercado tão competitivo, a educação, junto com a experiência, é o caminho para se preparar e se manter no mercado profissional”, diz.

Matrículas em colégios particulares crescem até 7% ao ano

Apesar do aumento dos custos com educação nos últimos anos, o número de matrículas nas es­­colas particulares vem crescendo a um ritmo de 6% a 7% ao ano, principalmente na educação bá­­sica, segundo o Sindicato das Escolas Particulares do Para­ná (Sinepe).

A ascensão da nova classe média abriu um novo mercado para escolas. “Metade dos nossos alunos veio do ensino público, principalmente os que ingressam no cursinho”, diz José Ivair Motta Filho, superintendente administrativo do grupo educacional Acesso, que foi fundado em 2003 e tem seis unidades em Curitiba e Região Metropolitana e 4,5 mil alunos. “O volume de matrículas cresce 10% ao ano”, afirma. Segundo ele, a nova classe média quer qualidade, mas também preço. “As famílias querem acesso à educação, mas sem pagar uma estrutura pesada de itens agregados, que encarece a mensalidade”, diz.

O grupo Positivo também resolveu apostar nesse mercado ascendente e lançou, em maio do ano passado, um novo cursinho, o Direto, cuja mensalidade custa aproximadamente um terço do valor de seu cursinho tradicional.

O aumento da renda da po­­pulação não gera negócios apenas para as escolas; também aquece o mercado de graduação e pós-graduação. Na FAE, o volume de matrículas está 28% su­­perior ao do ano passado – a instituição tem hoje mais de 1,7 mil alunos.


Depois dos eletroeletrônicos, do cartão de crédito e dos móveis, a educação entrou no radar da nova classe média, segundo João Paulo Cunha, consultor da Data Popular. Segundo ele, é crescente o interesse dessas famílias em trocar o ensino público pelo privado para seus filhos. “Esses pais querem dar aos filhos algo que muitos deles não tiveram. A escola particular é uma opção não apenas pelo ensino, mais também pela segurança e pela merenda melhores”, diz. A projeção do Data Popular é que a classe C supere, nos próximos anos, os gastos dos mais ricos com a educação.


Em 2012, os brasileiros devem gastar com educação 7,5% mais que em 2010, já descontado o efeito da inflação. Mas esse é um fenômeno que vem ganhando fôlego há mais tempo. Desde 2002, esse tipo de despesa aumentou quase cinco vezes. Nove anos atrás, as famílias destinavam R$ 3,27 bilhões a materiais escolares e livros e R$ 9,07 bilhões a matrículas e mensalidades.


Cunha explica que esse tipo de despesa muitas vezes demora mais para ser incorporado pelas famílias, mas é um dos últimos a serem cortados em épocas de crise. “Se mantidas as atuais condições, a classe C vai continuar a aumentar seus gastos com educação”, diz.


O levantamento, que foi feito sobre os números da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, do total de despesas com educação da classe média, 76% vão para matrículas e mensalidades.


Entre os mais ricos, o porcentual é mais alto, de 85%. “Quanto maior a renda, maior a participação dos gastos com as escolas. Nas classes D e E, por exemplo, que acessam mais a escola pública, a fração destinada a mensalidades e matrículas é de 52%”, afirma. Entre os mais pobres, quase metade dos gastos está concentrada no material escolar.


Para o professor de Finanças Armando Rasoto, da FAE, a educação começa a ser percebida pela classe C como um investimento. “A educação passa a ser um fenômeno também da nova classe média”, diz. Segundo ele, a desregulamentação do setor, com a criação de novas faculdades e universidades, ajudou também a ampliar a oferta de cursos e o acesso da nova classe média. Estima-se que essa faixa da população gaste em média 25% de seu orçamento com educação.


Segundo o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), Ademar Batista Pereira, atualmente há 346 mil alunos matriculados na educação básica em escolas particulares no Paraná, o que representa 14,3% do total de estudantes. Mas essa participação vem crescendo: três anos atrás, o porcentual era de 12%. No ensino superior são 208 mil alunos em instituições privadas, 70% do total.


Da escola pública para a particular


A representante comercial Cristiane Prataviera, 37 anos, gasta cerca de R$ 900 por mês com a educação da irmã, Patricia, 17 anos, e da filha, Maria Joana, 11 anos. O valor inclui mensalidade, material escolar e gastos com transporte. Patricia, que fez o ensino básico em escola pública, estuda há dois anos no colégio Acesso, que Maria Joana passou a frequentar neste ano, de­pois de passar por Positivo e Dom Bosco.


“No caso da Patrícia, sabíamos que, se ela estudasse em uma escola mediana, ia acabar passando apenas em uma faculdade mediana e teria um emprego mediano. No primeiro ano, ela teve problemas de adaptação ao ensino privado, mais puxado, e acabou repetindo. Mas hoje ela está indo melhor. [Pagar pelo ensino particular] é um investimento no futuro”, diz.


Segundo Cristiane, o motivo da mudança de colégio de Maria Joana foi outro. “As mensalidades [nos outros colégios] estavam muito altas e não correspondiam à qualidade do ensino”, diz. A situação ficou mais complicada depois que o Dom Bosco, de onde ela é ex-funcionária, retirou um desconto da mensalidade.


“Sem o desconto, o valor da mensalidade subiria muito. Passaria, incluindo o material, de R$ 693 para R$ 897. Agora pagamos R$ 700 para as duas”, diz. Cerca de 20% das despesas fixas de Patricia e o marido, Ricardo Salik, vão para a educação, porcentual que deve aumentar no médio prazo. “Já estamos vend
o um curso de inglês para as meninas”, diz.

Fonte: Gazeta do Povo, 6 de março de 2012 


 

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