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Dragão indomável: inflação resiste após 1 ano de alta de juros

Por que a inflação não baixa? Essa pergunta vem à tona cada vez que o Banco Central anuncia mais uma alta dos juros básicos da economia, exatamente para combater a inflação. Juros mais altos encarecem os financiamentos, diminuem as compras e os preços, então, baixariam. Isso na teoria. Esses mesmos juros, a Taxa Selic, aumentam sistematicamente há um ano. Partiram de 7,25% em 17 de abril do ano passado, no mais baixo patamar que a taxa já alcançou, para 11% em 3 de abril último e devem continuar na escalada. Mesmo assim, a inflação não dá trégua, mantém-se perto de 6% ao ano, e os preços dos alimentos não param de subir. O tomate voltou a preocupar. O vilão de 2013 ficou 32,85% mais caro em março.

 

 

O governo se comprometeu a manter a alta dos preços em 4,5%, podendo chegar a 6,5% para absorver choques no abastecimento. Esse compromisso só foi alcançado em quatro anos dos 15 em que o sistema de metas de inflação está instalado no Brasil.

 

 

Economistas enumeram um conjunto de fatores para explicar essa falta de eficácia da política monetária este ano. Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, tirando da conta o ano de 2009, o da crise global, quando o país entrou em recessão, o IPCA, índice medido pelo IBGE e a referência para a meta, ficou perto de 6% ao ano desde 2008. Ele culpa o Banco Central de ter dado sinais de que a inflação no teto da meta é aceitável. Outro passo errado foi a queda de juros em 2012 e início de 2013. Diante da melhora internacional, o BC reduziu os juros, os maiores do mundo:

 

 

— É esse número basal (6%) que toda a sociedade trabalha agora, e qualquer choque joga esse número para cima. O problema é que o governo baixou demais a Selic até o ano passado e não fez o ajuste necessário lá atrás, de trazer a meta para baixo. Chancelou uma meta elevada e sinalizou tranquilidade em manter o IPCA próximo do teto, que é o que temos hoje. Qualquer choque coloca em risco o teto da meta. Seria necessário um choque mais forte, uma Selic que fosse para 14% ou 15% para ajustar essa inflação.

 

 

Esse remédio — diz Vale — pode fazer o “PIB derreter”, nas próprias palavras do economista. Isso pode significar até recessão e afetar o mercado de trabalho brasileiro, que vem se mantendo firme, mesmo com a expansão do Produto Interno Bruto próxima de 2% nos últimos três anos.

 

 

O professor da PUC Luiz Roberto Cunha chama a atenção para os extremos climáticos. Secas, nevascas, temporais mais intensos têm sido mais frequentes. Houve seca nos Estados Unidos no ano passado e aqui no Brasil este ano. Esse clima instável afeta diretamente o preço dos alimentos. Em 2010, a alta da alimentação no domicílio fora de 10,69% enquanto o IPCA fechou o ano em 5,91%. Em 2012, de 10,02% contra 5,84%; em 2013, de 7,65% contra 5,84%; e este ano, em apenas três meses: de 3,35% contra 2,18%:

 

 

— É uma combinação de extremos climáticos com mais gente comendo mais, com a inclusão da chamada classe C. Quem não é a favor de as pessoas comendo mais e melhor ?

 

 

Os juros atuariam sobre outros preços como os de bens duráveis, vendidos mais a prazo. Só que o avanço tecnológico tem baixado o preço, e os itens são símbolos de ascensão social, diz Cunha.

 

 

Inflação seria de 7,5%

 

 

Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, cita a piora fiscal como motivo para a inflação resistir. Artifícios para fechar as contas públicas, como a contabilidade criativa, tiram o crédito da política econômica:

 

 

— Se governo aprovasse uma lei impedindo que as despesas subissem mais que a expansão do país, as expectativas de inflação poderiam cair.

 

 

Ele diz que o índice, sem a ação do governo para frear aumentos de ônibus, da gasolina e da luz, estaria em 7,5%.

 

 

Para Estêvão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Selic está servindo para manter a taxa em 6%.

 

 

— Inflação, quanto mais alta, mais difícil de combater. Se ela está em 2%, 3%, pode-se até deixar o reajuste para depois. A indexação aumenta quanto maior é a inflação.

 

 

 


FONTE: O Globo, 17 de abril de 2014

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