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O jeitinho brasileiro que dói no bolso

 

Alta carga tributária, baixa produtividade e inflação nos serviços puxam para cima valor de produtos estrangeiros vendidos no país

O Brasil é um país caro. Prova disso são os índices que comparam os mesmos produtos vendidos em todo o mundo. Nem mesmo a desvalorização do real frente ao dólar ao longo do último ano fez o país ficar mais barato na comparação com os demais. Baixa produtividade, inflação nos serviços e a alta carga tributária fazem do custo de vida do brasileiro um dos mais altos entre muitos países.

INFOGRÁFICO: Veja alguns índices que mostram esta diferença

Impostos

Eterna vilã, carga tributária não é única culpada por custos altos

A carga tributária brasileira também é um fator que contribui com os custos elevados no Brasil, mas, na avaliação de especialistas, o país não deixaria de ser caro nem mesmo se os gastos com impostos fossem aliviados. Mais do que isso, é necessário alinhar a alta dos preços com a renda local e tornar a produção brasileira mais eficiente.

Segundo o especialista em economia industrial da Unesp Álvaro Galheto, o Brasil deixa a desejar na comparação com países com cargas tributárias mais altas. “A Alemanha é um exemplo clássico. A carga de impostos é elevadíssima, mas a hora trabalhada de um funcionário alemão é uma das mais produtivas do planeta”, afirma o economista. Já no Japão, mesmo com impostos altos, as cadeias produtivas integradas diminuem os custos de produção e a tecnologia agregada torna os produtos mundialmente competitivos.

Dupla perversa

Para o professor de macroeconomia da PUC-PR Breno Lemos, a infraestrutura precária e a política protecionista praticada no país surgem como os principais vilões dos custos altos no país. “As perdas que a indústria e a agricultura contabilizam com o gasto com estradas péssimas, por exemplo, entram nos cálculos de custos. Já com um país mais aberto, a eficiência seria determinante para selecionar o mercado. São inúmeros fatores”, completa.

 

9% é a alta no preço dos serviços registrada no Brasil nos últimos 12 meses – extrapolando em 2,5% o teto da meta do Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), que é de 6,5%. Diferente da inflação dos alimentos, igualmente alta, mas com perspectiva de desaceleração por conta da sazonalidade, os preços dos serviços devem continuar crescendo em um ritmo forte. “A mão de obra é o principal componente dos preços dos serviços e ela só sobe. Além do mais, não existe concorrência com produtos importados que possam puxar os valores para baixo”, afirma o professor de macroeconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Caetano Rodrigues. Desde março de 2011, os serviços sobem constantemente acima do índice de inflação, com uma média de alta de 8% ao ano no período. O brasileiro paga hoje, em média, mais que o dobro pelos serviços do que em 2004.

 

R$ 2,45 é a cotação do dólar em relação ao real prevista pelo mercado para o fim deste ano, valor que se aproxima do ideal desejado pela indústria para exportação.

O índice Big Mac é um exemplo. Calculado desde 2000 pela revista The Economist, a comparação, mais do que mostrar o preço do popular sanduíche, leva em conta o custo da cadeia produtiva dos alimentos e a valorização das moedas nacionais frente ao dólar. Em fevereiro, quando o dólar estava a R$ 2,40 no país, o sanduíche brasileiro foi o quinto mais caro do mundo. Hoje, com a moeda americana próxima de R$ 2,20, o valor do indicador no Brasil fica ainda mais próximo dos líderes do ranking.

Com um cálculo parecido, o Banco BTG Pactual também chegou a uma lista que mostra o quanto a produção das roupas da grife Zara no Brasil é mais cara que em outros países. Em média, uma peça aqui custa 21% mais do que nos Estados Unidos. Excluindo o fator cambial, a diferença de preço sobe para 49%.

“Basicamente temos um custo de vida de um país desenvolvido, como se a nossa renda e a produtividade fossem equivalentes a este custo, o que não são”, afirma o economista especialista em contas públicas Mansueto Almeida. “Não é nem uma questão de câmbio. Nos índices de paridade, que excluem o valor da moeda, isso fica comprovado”, explica.

O indicador de Paridade de Poder de Compra medido pelo Banco Mundial considera quanto é necessário de uma unidade monetária local para comprar um determinado produto. O índice brasileiro é 1, o que significa que um real por aqui tem o mesmo valor de um dólar nos Estados Unidos e está no mesmo patamar que países como Canadá, França, Alemanha e Finlândia. “A diferença é que a renda média no Brasil, de pouco mais de US$ 11 mil anuais, é muito mais baixa do que nestes outros países”, afirma o professor de macroeconomia da Universidade Federal Fluminense, Caetano Rodrigues.

Segundo o economista Mansueto Almeida, para os padrões brasileiros de renda e produtividade, o indicador deveria estar mais próximo de 0,5, como ocorre em países como México, Croácia, Polônia, Rússia e Egito.

Ineficiência cara

Os preços altos, frutos de uma inflação de serviços em crescimento acelerado nos últimos dez anos, não seriam tão problemáticos se a economia brasileira apresentasse uma produtividade igualmente elevada, o que não é o caso. “É possível você se tornar competitivo com um câmbio relativamente valorizado e com custos altos, mas é preciso ter uma produtividade alta”, afirma Rodrigues. De acordo com o centro de pesquisas Conference Board, o trabalhador brasileiro produz 18% do que um trabalhador norte-americano, em uma hora.

Mercado prevê dólar mais valorizado

Mesmo com o dólar próximo dos R$ 2,25 e com uma cotação mais baixa do que a verificada nos últimos meses, a expectativa do mercado é de que o real se desvalorize em relação a moeda americana até o final do ano. De acordo com o boletim Focus, por exemplo, a aposta do mercado é de que o dólar valha

R$ 2,45 ao final de 2014. Para o ano que vem, a expectativa é de que a moeda esteja cotada a R$ 2,51.

Para o professor de macroeconomia da PUC-PR Breno Lemos, o processo é uma alta contínua que se verifica desde 2011 e que passa por um período de baixa atípico. “O movimento é de alta, independente da recente queda no câmbio. Em breve devemos voltar ao patamar de outubro do ano passado, quando o dólar estava a R$ 2,40”, afirma.

A retomada do patamar é comemorada pela indústria, que credita ao câmbio atual parte dos seus problemas. “Boa parte da indústria trabalha com uma taxa ideal de R$ 2,50 para que os produtos brasileiros sejam competitivos no mercado externo”, afirma o especialista em economia industrial da Unesp Álvaro Galheto.

O valor, no entanto, não é garantia de competitividade. “Este é apenas um fator, mas a otimização da cadeia produtiva, ganho de escala e qualidade são mais importantes na maioria dos casos”, explica Galheto.

Segundo o professor de macroeconomia da Universidade Federal Fluminense Caetano Rodrigues, o real desvalorizado também é prejudicial para muitos setores. “É um cálculo simples. Os insumos para produtos montados aqui também encarecem. A indústria automotiva, por exemplo, é parcialmente sacrificada, sem contar a pressão na inflação e os impactos para a população em geral”, pondera. “A questão dos custos e da competitividade simplesmente extrapolam o câmbio”, conclui o economista.




Fonte: Gazeta do Povo
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