A Polícia Federal investiga a existência de um “banco paralelo” utilizado pelo grupo do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) para movimentar dinheiro do esquema que, segundo o Ministério Público Federal, desviou R$ 224 milhões dos cofres públicos. De acordo com o jornal O Globo, a suspeita recai sobre a transportadora de valores Trans-Expert, cujo cofre-forte sofreu um misterioso incêndio, ano passado, quando milhões de reais teriam virado pó. Conforme a reportagem, a PF encontrou no escritório da empresa duas declarações de renda da mulher do peemedebista, a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.
De acordo com o repórter Chico Otávio, a descoberta do “banco paralelo”, livre do sistema público de controle das atividades bancárias, surpreendeu os agentes da Delegacia de Repressão à Corrupção e a Crimes Financeiros (Delecor), que até então desconheciam esse modelo de operação clandestina. Os policiais apontam pelo menos três indícios que vinculam a transportadora a Cabral: além das declarações de Adriana, o repasse de R$ 25 milhões da Trans-Expert para uma empresa ligada a Cabral e o fato de ter guardado dinheiro para o ex-secretário de Obras Hudson Braga, um dos presos na Operação Calicute.
A empresa já estava sob investigação da Polícia Federal devido à denúncia de que a transportadora despareceu com R$ 35 milhões do Banco do Brasil – valor recolhido das agências bancárias que não chegava ao destino – e ao incêndio do ano passado, que teria transformado em cinzas milhões de reais (R$ 28 milhões apenas da Caixa Econômica Federal).
De acordo com as investigações, há indícios de que o “banco paralelo” recolhia e propina aos favorecidos, principalmente políticos do PMDB, desde o início do primeiro governo de Cabral, em 2007, informa O Globo.
Em 8 de junho do ano passado o cofre-forte da Trans-Expert pegou fogo. O coordenador de segurança da empresa declarou à polícia, na ocasião, que uma “quantidade incerta de dinheiro” havia sido queimada depois que um funcionário esqueceu, segundo ele, um maçarico ligado.
Relatório do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) indica que a transportadora repassou R$ 25 milhões à Creações Opção, empresa ligada ao ex-governador fluminense, afirma a reportagem. Os investigadores suspeitam que a Trans-Expert integrava o núcleo financeiro-operacional do esquema, responsável por receber e lavar dinheiro. Outros três núcleos são apontados pela operação: o econômico, formado pelas empreiteiras que atuavam em cartel, o administrativo, composto por gestores públicos, e o político, liderado por Cabral.
Leia a íntegra da reportagem no Globo
Mais sobre Sérgio Cabral
Fonte: Congresso em Foco, 20 de novembro de 2016.