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Problemas na gestão de Sérgio Cabral e Eduardo Paes sacrificaram a população e arranharam imagem do Rio no exterior

Desde o ano passado, o Rio de Janeiro despontava como uma das principais capitais do mundo, ganhando destaque internacional devido aos grandes eventos, como a Copa do Mundo no ano que vem e as Olimpíadas em 2016, e o futuro da cidade era visto como brilhante. Mas ao contrário disso, a visibilidade turística e econômica, que prometia o aumento de investimentos internacionais, acabou se tornando um tiro no pé, expondo as mazelas e os problemas de gestão política do Rio para todo o mundo. A incompetência dos governos da cidade e do estado não só sacrifica o dia a dia do carioca, mas também fere a imagem do Rio no exterior. Com isso, o ano de 2013 culminou em um clima de insatisfação geral da população, despontando em protestos e na descrença nos governos de Sérgio Cabral e Eduardo Paes.



Um dos motivos para isso foram os diversos escândalos envolvendo o governador do estado e o prefeito do Rio. Cabral mais uma vez se vê no centro das críticas, ao voltar a usar o helicóptero oficial do Estado para se deslocar até sua casa de veraneio, em Mangaratiba. O governador viajou na companhia da mulher, Adriana Ancelmo, dos dois filhos pequenos e da babá das crianças em sete domingos consecutivos, entre os dias 13 de outubro e 30 de novembro. A prática do governador já havia sido denunciada em julho deste ano, quando, após ser pressionado pela utilização duvidosa do transporte, o chefe do Executivo estabeleceu regras para o uso de aeronaves através do decreto 44.310, publicado no Diário Oficial no dia 5 de agosto. Apesar disso, o governador desrespeitou as próprias determinações em prol de interesses pessoais e voltou a fazer uso ilegal do helicóptero.



Assim como o governador Sérgio Cabral, Eduardo Paes também voltou a chamar atenção por práticas duvidosas. No dia 5 desse mês, veio à tona a existência de empresas de propriedade de Valmar Paes, pai do prefeito, e de sua mãe e irmã, Consuelo da Costa Paes e Letícia da Costa Paes, localizadas no Panamá. A propriedade foi confirmada pelo próprio prefeito Eduardo Paes, que reforçou que elas existem de forma legal, mas negou envolvimento de sua mãe e irmã.



Contudo, algumas dúvidas ainda pairam no ar. As empresas, a Conval Corporation e Vittenau Corporation, foram constituídas em 2008 - mesmo ano em que Eduardo Paes se elegeu pela primeira vez a prefeito. Seu dono era José Eugenio Silva Ritter, apontado pelo Jornal Nacional como dono do Hotel St. Peter, que ofereceu emprego a José Dirceu. Hoje, as empresas seriam apenas da família Paes. Cada uma das empresas possui capital social de US$ 4 milhões, ou seja, US$ 8 milhões que equivaleriam a cerca de R$ 20 milhões no câmbio atual. Restam dúvidas sobre o que exatamente aconteceu entre 2008 e hoje, e sobre como esse montante de dinheiro evoluiu nesses anos.



Além desses problemas, as críticas à gestão dos dois governantes foram ferrenhas em 2013. No caso de Paes, o anúncio de reajuste do valor das passagens em junho desdobrou-se em uma onda de protestos contrários à determinação. Mesmo após a suspensão do reajuste, as manifestações seguiram por todo ano, criticando a postura da polícia, cujas ações eram coordenadas pelo prefeito e pelo governador, além de prisões arbitrárias e flagrantes forjados. Por conta disso, cada nova manifestação era motivo para que outra fosse realizada, em repúdio às ações dos governos municipal e estadual.



Ainda em meio a protestos, nem a “menina dos olhos” do governo Cabral conseguiu escapar. As Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), principal bandeira de reeleição do governador Sérgio Cabral, viraram alvo de questionamentos sobre sua verdadeira eficiência. Após o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha, em julho deste ano, que culminou em uma investigação do Ministério Público, a verdadeira face da polícia do Rio veio à tona e mostrou que a violência ainda era realidade nas comunidades da cidade. A polícia, que agora faz parte do cotidiano dos moradores dessas áreas, tem práticas extremamente violentas dentro das comunidades, e o caso de Amarildo expôs o pior das UPPs, que se diz capaz de tirar a favela do domínio de traficantes, mas falha no discurso político de “instauração da paz”. Além de Amarildo, torturado e morto por policiais da UPP da Rocinha, outros moradores também declararam terem sido vítimas da ação violenta e arbitrária da Polícia Militar, que inclui torturas e ameaças.



Para arrematar a desaprovação de ambas as gestões, o principal alicerce da sociedade decidiu cobrar: a educação. Os professores, das redes municipal e estadual, entraram em greve em agosto, cobrando melhores condições de trabalho e revisão da estrutura pedagógica do ensino público do Rio de Janeiro. Como resposta, a Prefeitura impôs um plano de carreira que ia de encontro às reivindicações da categoria e o governo do Estado sequer ofereceu proposta. Durante votação na Câmara dos Vereadores, no dia 1 de outubro, para aprovar o mesmo plano de carreira insatisfatório de Paes, os professores foram mais uma das vítimas da ação truculenta da polícia, por ordem dos dois governantes. A Cinelândia viveu cenário de guerra e foi a representação do desrespeito à classe trabalhadora do Rio. Mais uma vez, Paes e Cabral agiram com a irresponsabilidade costumeira. Foi preciso a intervenção do ministro Luiz Fux para que a greve chegasse ao fim, no final de outubro.



Sobre os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, a inauguração do novo Maracanã, cercada de críticas ao alto custo da reforma, que chegou a mais de RS 1,2 bilhão, foi a mais esperada na cidade, em meio a divergências sobre a perda de identidade da arena. Com os portões abertos, os usuários do estádio encontraram um Maracanã “padrão Fifa” por ingressos de valores abusivos. A reforma terminou por decretar a elitização do futebol, que perdeu seu caráter culturalmente popular na cidade. Agora, as partidas só podem ser apreciadas do estádio por aqueles que têm dinheiro suficiente para desembolsar os altos preços dos ingressos. A população pobre mais uma vez foi ignorada.



Mais recentemente, atos de violência praticados por usuários de crack colocaram a droga como um problema de saúde crônico na cidade do Rio. Antes concentrados apenas nos subúrbios, onde ficavam longe dos olhares do poder público, os usuários de crack agora também estão presentes em locais como a Central e a Lapa. Com a morte de um jovem a facadas no bairro boêmio no dia 1 deste mês, a Prefeitura da cidade precisou tomar atitudes mais incisivas, para afastar mais uma nova crítica. A política de combate às drogas da cidade, que inclui ações como a internação involuntária, e a inexistência de iniciativas de inserção do usuário na sociedade, despertam críticas em especialistas, que garantem a ineficácia das ações. Para eles, as iniciativas são maquiagens temporárias que não resolvem efetivamente o problema. Mais uma vez, o caráter repressivo da gestão municipal do Rio é questionado e criticado.



E, para fechar o ano, a chegada do verão carimbou mais uma tragédia na trajetória de Paes e Cabral. As intensas chuvas, da madrugada e manhã dessa quarta-feira (11), relembraram a população carioca de mais um problema estrutural do Rio de Janeiro. Entre as dezenas de obras realizadas nas gestões de Eduardo Paes e Sérgio Cabral – ambos exercendo seus segundos mandatos – as chuvas parecem ainda não ter solução. A Baixada Fluminense ficou debaixo d’água, além de locais como a Praça da Bandeira, já conhecida pela sua dificuldade em lidar com chuvas fortes. A Via Binário, inaugurada há pouco mais de um mês e motivo de orgulho para Eduardo Paes, ficou completamente alagada. Os números apontam para 4 mil desabrigados apenas nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados. Mais de 100 desabamentos foram registrados pela Defesa Civil em todo o estado.



Todos esses episódios em apenas um ano põem em xeque os governos de Eduardo Paes e Sérgio Cabral. A semana da Jornada Mundial da Juventude, no meio do ano, parece ter sido uma exceção de paz e comunhão no meio do caos em que a cidade de transformou. Hoje, os índices de violência não param de crescer, a população ainda é obrigada a sofrer com os impactos de chuvas intensas, a situação dos usuários de crack segue preocupante e os professores da rede pública reclamam que acordos selados no fim da greve ainda não foram cumpridos. As UPPs se provam cada vez mais fracas e a disputa entre traficantes volta a ser realidade em algumas comunidades. As iniciativas de cunho social das UPPs, promessas do governo Cabral, jamais chegaram a ser realizadas de forma eficaz.



Enquanto isso, a família de Paes tem empresas milionárias no exterior e Cabral passeia de helicóptero até o seu condomínio de luxo em Mangaratiba, e a sua popularidade é a terceira pior entre os governadores de todo o país. Recentemente, o prefeito Eduardo Paes anunciou novo reajuste do valor da passagem de ônibus, assim como em junho do ano passado. A notícia já começou a repercutir nas redes sociais, e os usuários afirmam que vão continuar indo às ruas. Pelo que parece, em 2014 a população continuará desamparada, e tão indignada quanto ficou em 2013.







FONTE: Jornal do Brasil, 16 de dezembro de 2013

 

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