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A classe trabalhadora entra em cena na onda de protestos

“A imprensa tentou, mas não conseguiu criar uma dicotomia entre as mobilizações da juventude e a entrada dos trabalhadores nos protestos. A disposição dos trabalhadores de cruzarem os braços no dia 11 faz parte da mesma indignação que levou milhões às ruas em junho”



As primeiras horas do dia 11 já confirmavam a forte paralisação por todo o país, que entraria para a história do Brasil como uma das maiores, comparável às greves da década de 80. O dia 11 entrava para a história também como o momento que marcou a entrada da classe trabalhadora organizada nas mobilizações que sacudiram o país durante as Jornadas de Junho. A experiência e os métodos de luta da classe trabalhadora se uniam à ousadia e irreverência da juventude que derrubou as tarifas e tirou o sono dos governos.


Infelizmente, tiveram aqueles que quiseram negar essa realidade histórica. Nos principais jornais, a imprensa tentou desmoralizar o Dia Nacional de Greves, Paralisações e Manifestações, apontando uma suposta “baixa adesão”. No entanto, a tentativa de transformar o 11 de julho em um “fracasso” não foi tão fácil assim. A manchete da Folha de S. Paulo do dia 12 é um bom exemplo disto: “Protestos sindicais afetam o país, mas têm baixa adesão”. Ora, como um protesto com suposta “baixa adesão” pode afetar um país com dimensões continentais?


A imprensa bem que tentou, mas não conseguiu. O objetivo era criar uma dicotomia entre as mobilizações da juventude em junho e a entrada das organizações dos trabalhadores nos protestos. As de junho seriam (agora) justas por serem espontâneas. Os protestos do 11 de julho, por sua vez, uma “manobra” dos movimentos sociais e partidos políticos. Desconsideram, por exemplo, que a disposição dos trabalhadores de cruzarem os braços no dia 11 faz parte da mesma indignação que levou milhões de pessoas às ruas em junho. E que, assim como passeatas e manifestações de rua, greves, paralisações e fechamentos de rodovias são reconhecidos métodos de lutas. Portanto, não é razoável tentar diminuir o que foi o dia 11 comparando greves com quantidade de pessoas na rua.


O que se viu no dia 11, e foi percebido em todo o país, foram paralisações dos complexos industriais, das grandes obras e do sistema de transporte. O que se viu naquela quinta-feira foi quem constrói a riqueza do país e faz o Brasil funcionar cruzar  os braços.


A produção foi paralisada em pelo menos quatro refinarias brasileiras e em oito unidades de montadoras. Em um dia, houve fábricas que deixou de produzir mais de mil veículos. O Pólo industrial de Cubatão amanheceu parado. No complexo industrial e portuário de Suape (PE), 75 mil operários cruzaram os braços.  Na Baixada Santista, a Rodovia Cônego Domênico Rangoni foi bloqueada e nenhum caminhão levou sua carga para o Porto de Santos.


No Rio de Janeiro, os petroleiros paralisaram serviços de manutenção e bombeio na Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e interromperam as atividades da Termelétrica Governador Leonel Brizola, do terminal da Transpetro de Campos Elíseos, a Liquigás e a BR Distribuidora. Em São José dos Campos, metalúrgicos paralisaram 20 fábricas e bloquearam três pontos da Via Dutra. Na grande São Paulo, entraram em greve os metalúrgicos de São Paulo, Osasco e Guarulhos, além dos trabalhadores das indústrias de alimentos e as costureiras. Pararam também os operários da construção civil de São Paulo. Em BH, a cidade já amanheceu com paralisação do metrô, à qual se somou uma greve parcial dos ônibus. A greve atingiu também a rede estadual de ensino e grande parte das escolas municipais.


No interior de Minas Gerais, a paralisação se alastrou para várias metalúrgicas, além de siderúrgicas e mineradoras. Em Fortaleza, tivemos greve na construção civil e também paralisação parcial do transporte coletivo. Em Belém, a cidade amanheceu tomada pelos operários da construção civil que pararam as obras e realizaram manifestação no centro. Em Pernambuco, foi paralisado o complexo de Suape, com a participação de mais de 50 mil trabalhadores. Esses são alguns exemplos do que ocorreu por todo o país, naquele 11 de julho.


Foi uma entrada em grande estilo da classe trabalhadora na onda de protestos das últimas semanas. E com um recado claro ao governo Dilma e aos governadores e prefeitos de todo o país: é preciso mudar o modelo econômico vigente. Os trabalhadores e a juventude não aceitam mais que o governo destine os recursos públicos para bancos, empreiteiras e o agronegócio. Os protestos exigem melhorias concretas na vida do povo brasileiro, o que só é possível mudando a política econômica e destinando a riqueza produzida neste país para aqueles que a produzem, os trabalhadores.


A disposição dos trabalhadores de cobrar do governo as mudanças que querem no país, colocou por terra também as tentativas da CUT de desviar o movimento para o apoio à reforma política e ao plebiscito apresentada pela presidenta Dilma. O 11 de julho foi um dia de luta contra o governo federal.


Um novo dia nacional de paralisações já foi convocado pelas centrais sindicais para aumentar a pressão sobre patrões e o governo Dilma pelo atendimento das reivindicações que constam na pauta unificada entre as centrais. Entre elas, redução da jornada de trabalho, reforma agrária, mais investimentos em saúde e educação pública; fim do fator previdenciário, redução das tarifas e melhoria no transporte, contra o PL da terceirização, fim dos leilões de petróleo e aprovação do PL que prevê salário igual para trabalho igual.


A defesa dessas reivindicações, por outro lado, inevitavelmente nos leva ao questionamento do modelo econômico vigente. Não há como resolver as mazelas que afligem a vida dos trabalhadores e do povo pobre sem parar o pagamento da dívida externa e interna. Através desses mecanismos o governo repassa para os bancos e especuladores os recursos que deveriam ser aplicados na saúde, educação e transportes públicos. É preciso parar as privatizações (os leilões das reservas de petróleo são apenas uma parte do processo) e retomar o patrimônio que já foi entregue ao capital privado. É preciso reverter a política do governo de repassar verbas públicas para as grandes empresas, usando esses recursos para investir no serviço público e valorizar os servidores. E é preciso congelar os preços dos alimentos e tarifas públicas e aumentar os salários, para proteger os trabalhadores da inflação.


No dia 30 de agosto, os trabalhadores vão cruzar novamente os braços. Não é a greve geral que a CSP Conlutas defendeu e que seguimos defendendo como necessária. Mas já é um importante passo para isso. Para que possamos fazer um dia 30 ainda maior do que o dia 11 é preciso jogar peso na sua organização pela base desde já, para assegurar a realização de um grande dia de paralisação. Porque, como bem sinalizou os protestos de junho, estamos apenas no começo.

Fonte: Congresso em Foco


 

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