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O grande momento da cidadania

Luis Nassif, 
em seu blog

Vou pegar o carro no estacionamento. O manobrista está exultante: "O Haddad e o Alckmin voltaram atrás e reduziram o preço das passagens. O povo venceu".

No elevador, desço com uma vizinha, dona de uma empresa de sistemas. Pergunto como viu a manifestação. Ela tinha ido. Comenta que a PM só atua contra manifestante e pouco contra baderneiros.

A amplitude das manifestações é inédita. É o chamado grito engasgado no ar.

Paradoxalmente, alguns meses atrás o prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, foi o primeiro a pensar em alternativas para o transporte urbano. Aqui mesmo expus a proposta. Mas, até as manifestações do Movimento do Passe Livre, aparentemente não era prioridade em nenhuma instância de poder, nem na área federal, nem nos estados. A ideia ficou à espera do momento.

A proposta básica consiste em um sistema de subsídios cruzados. Numa ponta, haveria a elevação de tributos sobre combustíveis para os carros que circulam nas regiões metropolitanas. Os recursos seriam utilizados para desonerar os transportes coletivos.

Há um conjunto de virtudes nessa proposta.

Uma, de ordem distributivista, tirando do dono do veículo para o passageiro de ônibus.

Outra, de ordem urbanística, penalizando o veículo individual, em um momento em que as ruas não comportam mais o crescimento do trânsito.

Ideias existem. No caso das regiões metropolitanas, há a necessidade premente de medidas radicais em favor do transporte público e da inibição do transporte individual.

Mas, de norte a sul, havia o receio de afrontar o estabelecido, de se colocar contra o dono do veículo, mais influente do que o passageiro de ônibus.

Por outro lado, nos últimos anos a prioridade total da política econômica consistiu no atendimento das demandas empresariais, na isenção de impostos para veículos, bens de consumo. O cidadão ganhava por consequência, na condição de consumidor.

Trata-se de uma prática recorrente de política econômica. Governantes agem preponderantemente em cima das pressões imediatas.

Nem os culpe. Gestões públicas são tão complexas, há um emaranhado tal de interesses envolvidos, que a prioridade sempre acaba sendo de quem tem maior poder de vocalização.

Desde tempos imemoriais do capitalismo, o circuito da vocalização de interesses é o mesmo: nasce dos grupos econômicos, é defendido pelos grandes veículos de massa e pressiona as autoridades públicas.

O Movimento do Passe Livre finalmente colocou o cidadão no centro das políticas públicas, rompendo com o circuito tradicional de mídia.

Trata-se de um movimento inédito. Nos últimos anos, diversas políticas sociais mudaram a face do país, permitindo a inclusão social, a consolidação de uma nova classe média, a explosão de um novo mercado de consumo.

Mas foram movimentos, embora virtuosos, de cima para baixo.

Desta vez, é o próprio cidadão que se torna protagonista. Apropria-se das redes sociais, sem nenhum comando centralizado. Apenas o grande caldeirão em que as conversas vão se entrelaçando, formando consensos aqui e ali até ganhar massa crítica.

A partir daí, a história foi reescrita. Haverá muita cabeçada de lado a lado, até se consolidar o novo modelo. Mas o novo cidadão veio para ficar.

Fonte: Diap, 21 de junho de 2013

 

 

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