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Defesa Civil suspeita de 'falha de procedimento' em obra de estádio

O coordenador da Defesa Civil de São Paulo, Jair Paca de Lima, afirmou no final da tarde desta quarta-feira (27) que, ao inspecionarem o chão onde o guindaste que desabou estava apoiado, não é possível perceber qualquer tipo de falha no solo. Para ele, o mais próvável é que tenha ocorrido "uma falha de procedimento", mas não deu maiores detalhes. "A perícia que vai dizer a causa do acidente", ressaltou Lima.


Uma nova vistoria da Defesa Civil está marcada para as 10h desta quinta-feira (28) no estádio do Corinthians, na Zona Leste de São Paulo, onde um guindaste desabou, matando dois operários. Por enquanto, ao menos 30% da área leste, de cerca de cinco mil metros quadrados, do estádio seguirá interditada. “Para o total da obra, representa muito pouco”, disse o coordenador da Defesa Civil. Segundo ele, as obras poderão continuar nos demais setores.


Para Paca de Lima, a tragédia poderia ter sido ainda maior. “Se tivesse ocorrido no horário de pleno movimento, provavelmente o número de vítimas seria maior”, declarou. No horário do acidente, por volta das 12h40, os operários estavam em horário de almoço.


Roxo


O operário Adilson do Nascimento, de 43 anos, amigo do motorista Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, que morreu nesta quarta-feira no acidente nas obras do estádio do Corinthians contou que, como torcedor do time, a vítima sonhava em ver a estrutura pronta. “Ele era corintiano roxo. O prazer dele era ver o estádio pronto", contou.


Fábio, motorista e operador de guindaste do tipo munck da empresa BHM, e Ronaldo Oliveira dos Santos, 44 anos, montador da empresa Conecta, morreram no acidente ocorrido no início da tarde, quando um guindaste erguia uma peça de 420 toneladas. Cerca de 30 funcionários trabalhavam na operação, enquanto os outros estavam em horário de almoço.


"Para mim, é um choque. Estava passando quando caiu a estrutura. Liguei para ele e o telefone deu ocupado. Fui até a casa da minha mãe e vi a hora que socorreram ele. Reconheci pelo uniforme. Só ele usava um daquele jeito", disse o amigo, que o conhecia havia 8 anos. Fábio era casado e pai de três filhos.


O outro operário morto, Ronaldo Santos, descansava em seu horário de almoço em um ponto onde não deveria estar, dentro de um túnel de acesso a uma área do estádio, segundo o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez. “Ronaldo estava descansando em um lugar que não era para estar”, disse em entrevista coletiva.


Perícia


Odebrechet e Corinthians afirmaram, em pronunciamento conjunto, que somente a perícia vai determinar a causa do acidente. Uma guindaste, que fazia o içamento da peça, tombou e atingiu parte da estrutura das arquibancadas. Sanchez afirmou que empresa e clube não têm estimativa de qual será o impacto do desabamento no cronograma das obras do estádio, que vai abrigar a abertura da Copa do Mundo de 2014.


"Não estamos nem pensando nisso, as autoridades vão fazer o que precisa ser feito. O que menos estamos preocupados é cronograma, prazos. Estamos preocupados em atender as famílias da vítima", disse Sanchez.


Mapa estádio Itaquerão (Foto: Editoria de Arte/G1)

O gerente operacional da obra, Frederico Barbosa, garantiu que todo o procedimento para colocação da estrutura envolvida no acidente foi feito conforme os procedimentos indicados. "Essa peça está içada desde ontem. As condições eram favoráveis", disse.


Barbosa disse que checou pessoalmente as condições de vento e temperatura para autorizar o içamento da peça de 420 toneladas – o guindaste tinha capacidade para erguer cerca de 1,5 mil toneladas. 


“A operação estava correta, faz parte do procedimento, nada fora do que estava programado, tinha acabado de chover, tínhamos esperado uma semana para fazer o procedimento”, afirmou.


O acidente


A construtora explica que pouco antes das 13h, o guindaste que içava o último módulo da estrutura da cobertura metálica do estádio tombou provocando a queda da peça sobre parte da área de circulação do prédio leste – atingindo parcialmente a fachada. Segundo a empresa, a estrutura da arquibancada não foi comprometida.


Em nota, o Corinthians lamentou o acidente no estádio que vai abrir a Copa do Mundo 2014 e sediar outras cinco partidas do Mundial e decretou sete dias de luto.



Almoço evitou tragédia maiorO estádio do Corinthians foi o local escolhido pela Fifa para o jogo de abertura da Copa do Mundo no dia 12 de junho de 2014, que será entre a seleção brasileira e um adversário a ser definido no sorteio das chaves do Mundial no dia 6 de dezembro, na Costa do Sauipe (BA).


Operário da obra do estádio do Corinthians José Mário da Silva ,48 anos, afirmou que haveria mais mortes em acidente com guindaste na tarde desta quarta-feira  se a maioria dos funcionários não estivesse em horário de almoço.


Passei embaixo da estrutura para ir almoçar. Se não tivesse sido na hora do almoço muito mais gente poderia ter morrido. Eu poderia não estar vivo"
José Mario da Silva, operário

"Passei embaixo da estrutura para ir almoçar. Se não tivesse sido na hora do almoço muito mais gente poderia ter morrido. Eu poderia não estar vivo. Só ouvi o barulho. Ele colocava a última peça da cobertura, que era a mais pesada", disse Silva que trabalha há quatro anos na obra.


MP vai avaliar se pedirá suspensão


O Ministério Público Estadual (MPE) informou que fará uma vistoria no local e exigirá laudos da Polícia Técnico-Científica para avaliar se irá pedir a Justiça a paralisação da obra do estádio da abertura da Copa. O promotor José Carlos de Freitas, da Promotoria de Habitação e Urbanismo, disse que a vistoria que fará com o Corpo de Bombeiros já estava programada por conta de um relatório que havia recebido da corporação, que listou 50 irregularidades apontadas na construção do estádio em relação à segurança contra incêndios.


De acordo com relatório do Corpo de Bombeiros, o estádio não tinha, até 29 de outubro, aprovação do "Projeto Técnico de Segurança Contra Incêndio". Segundo documento ao qual o G1 teve acesso, a razão foi a "morosidade" na correção de "inconformidades" constatadas no projeto técnico.


Presidente e secretário-geral da Fifa escreveram no Twitter lamentando as mortes no estádio do Corinthians (Foto: Reprodução/Twitter)Presidente e secretário-geral da Fifa escreveram no Twitter lamentando as mortes
no estádio do Corinthians (Foto: Reprodução/Twitter)


Fifa diz que segurança é prioridade


O presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, escreveu no Twitter:  "Estou profundamente triste com a morte trágica de trabalhadores da Arena Corinthians. Nossas profundas condolências com as famílias". O secretário-geral da Fifa, o belga Jerome Valcke, afirmou: "Nós estamos muito chocados com as notícias vindas de São Paulo. Aguardamos novos notícias das autoridades que estão investigando o acidente".


Em seu site oficial, a Fifa escreveu: "A Fifa e o Comitê Organizador (COL) tomaram conhecimento da morte de trabalhadores na Arena Corinthians com grande tristeza. QUeremos enviar nossas sinceras condolências às famílias dos trabalhadores que morreram tragicamente hoje. A segurança dos trabalhadores é prioridade para a Fifa, o COL e o governo federal.


Sabemos que a segurança de todos os trabalhadores sempre foi fundamental para todas as empresas de construção contratadas para a construção dos 12 estádios da Copa do Mundo da Fifa.


O Ministério do Trabalho e as autoridades locais irão investigar a fundo as razões por trás de um acidente tão trágico. Por favor, entendam que não estamos em posição de fazer mais comentários nesta fase, como estamos aguardando mais informações das autoridades."


O Ministério do Esporte também postou que lamenta o acidente e se solidariza com os parentes das vítimas.


Terceiro acidente fatal em estádios da Copa


Este foi o terceiro acidente com mortes em estádios que estão sendo construídos ou reformados para a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil. O primeiro foi no Estádio Nacional de Brasília, em junho de 2012, com a morte de um operário de 21 anos que caiu de 30 metros de altura. O segundo foi na Arena da Amazônia, em Manaus, em março deste ano, quando morreu outro trabalhador que caiu de uma altura de cinco metros.


Em abril, outra morte de operário foi registrada nas obras do novo estádio do Palmeiras, que não vai ser usado na Copa do Mundo.


Ambulâncias do Samu são vistas ao lado da estrutura afetada no acidente (Foto: William Volcov/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)



Fonte: G1, 28 de novembro de 2013

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