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Começa o diálogo após 10 dias de greve com o Governo do Paraná

Governo estadual e professores farão hoje à tarde a primeira rodada de negociações desde o início da paralisação

 

 

Professores e secretários de governo se sentam à mesa, hoje, para a primeira rodada de negociações desde o início da greve na rede estadual de educação. A paralisação, no entanto, parece estar distante do fim. Ontem, a categoria recebeu mal o anúncio de que o governo deve reenviar à Assembleia Legislativa o “pacotaço” – que prevê medidas de austeridade que afetam os servidores públicos. O sindicato que representa os educadores ressalta que a categoria não está disposta a ceder e considera que a reapresentação dos projetos compromete um possível acordo.

 

“Nossa postura é completamente contrária a este encaminhamento [do “pacotaço”]. O governo já inicia a negociação criando um empecilho, um grande entrave”, definiu Luiz Fernando Rodrigues, diretor de comunicação da APP-Sindicato. “Temos fôlego para, se for preciso, ficarmos parados o ano todo”, completou.

Acampamento

O “quartel-general” dos manifestantes

As mais de cem barracas se espalham pela Praça Nossa Senhora de Salete. Ali, estrategicamente postados – a uma rua da Assembleia Legislativa e do Palácio Iguaçu – centenas de educadores mantêm o que chamam de seu “quartel-general”. E eles prometem permanecer “pelo tempo que for necessário”. A todo instante, lembram que não querem aumento salarial, mas não abrem mão de seus direitos e lutam para que as escolas tenham condições de receber os alunos.

“Estamos marcando a história. Vamos fazer parte dos livros didáticos, como exemplo de civilidade”, resumiu a professora Vanilda Rodrigues Pereira, de Londrina e que passou o feriado acampada no local.

O acampamento não reúne apenas professores da região de Curitiba. Em uma caminhada rápida é possível encontrar, por exemplo, servidores de Londrina, Cascavel e Ponta Grossa. Até por receber gente de tão longe, o “quartel” chama a atenção pela organização. A alimentação é preparada em escolas alternadas. Em geral, os pratos são de fácil preparo, como galinhadas e risotos, feitos com produtos doados aos professores – fardos e caixas empilhados em uma das barracas.

Uma tenda central serve de centro de reuniões e assembleias. Ali, uma mesa fica posta permanentemente, para que os acampados possam fazer um lanche ou tomar café. O mesmo palco improvisado das reuniões é aproveitado para passar o tempo. Ontem, professores se revezavam ao microfone, com instrumentos em mãos, apresentando músicas que variavam de marchinhas de carnaval à bossa-nova. Também há exposições fotográficas e outras intervenções artísticas.

Pedidos e respostas

Veja o que os educadores querem e o que o governo estadual diz:

O que o professor quer

• Não reenvio do “pacotaço” à Assembleia;

• Pagamento imediato dos atrasados (rescisão dos professores temporários, terço de férias e auxílio-alimentação da categoria);

• Reabertura de 2,5 mil turmas encerradas e de projetos de contraturno (línguas, esportes e artes);

• Retomada da contratação de funcionários, diretores, pedagogos e professores.

O que o governo ­responde

• Vai reenviar o “pacotaço”, mas com nova formatação;

• Agendou parte dos pagamentos. A rescisão dos temporários deve ser paga ainda neste mês. E o terço de férias será quitado em duas parcelas, em março e abril);

• As 2,5 mil turmas foram fechadas por falta de demanda. Projetos de contraturno serão retomados no segundo semestre;

• Recontratou 9 mil ­servidores e 10 mil ­professores temporários.

Incentivo

Imigrante senegalês viajou para apoiar professores

Entre as barracas, o imigrante senegalês Ndiaga Faye estendeu um varal, onde expõe vestidos típicos de seu país e que estão à venda. Mas não é para vender roupas que ele viajou de Londrina – onde mora há seis anos – para Curitiba e, sim, para apoiar os educadores. “Cada cidadão paranaense deveria estar aqui. Essa luta não é só dos professores, é de todos. As crianças, que deveriam estar na escola, estão em casa por causa desta greve. Eu não entendo como não se valoriza a educação”, disse Faye, que tirou dinheiro do bolso para viajar e vem se hospedando na casa de um professor curitibano.

Sob outra tenda, o artista plástico peruano José Tazza pintava um painel, a partir de fotos da invasão da Assembleia, publicadas na Gazeta do Povo. O obra ficará exposta no acampamento. Professora da rede estadual, a mulher de Tazza está grávida de sete meses e, por isso, não pôde tomar parte na manifestação. O marido foi em seu lugar.

“Os professores merecem ser tratados de maneira digna. Estão todos orgulhosos dessa luta. Eu também fico orgulhoso, porque sou sul-americano e ver um movimento como este no meu continente me deixa feliz”, disse.

 

O anúncio de que o “pacotaço” será enviado novamente à Assembleia havia sido feito na tarde de ontem, pelo secretário da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD). Entretanto, desta vez o “pacotaço” deverá ser desmembrado por “grupos de assuntos” e devem passar pelas comissões temáticas. Ou seja, não haverá o chamado “tratoraço” – em que a Assembleia é transformada em comissão geral, agilizando a tramitação e a votação de projetos.

 

“Ao longo dos próximos três dias, vamos trabalhar a forma com que esses projetos serão encaminhados à Assembleia: fatiados, de que forma, colocados por grupos de assuntos... e a partir de segunda-feira ou até terça, encaminhar os projetos à Assembleia”, disse.

 

Mobilização

 

Enquanto isso, a greve entra no décimo dia com os professores mobilizados. Com apoio de outros servidores públicos, educadores passaram o Carnaval acampados em frente à Assembleia, no coração do Centro Cívico. Nem a chuva inclemente foi capaz de espantar o grupo, que se mantêm alojado em cerca de cem barracas. Os semblantes explicitam que carregam consigo o orgulho de quem briga por seus direitos.

 

“A luta é o motor que move a História. Vamos defender com unhas e dentes os direitos que levamos 40 anos para conquistar”, disse a pedagoga Ester Assunção, que trás no currículo a participação ativa na greve de 1988. Ela deixou a mãe – que recentemente sofreu um AVC – para tomar parte no acampamento. “A família entende e apoia”, destaca.

 

Hoje, a APP-Sindicato estima que dez mil servidores integrem a manifestação. Logo após a reunião com o governo – marcada para as 14h30 – os sindicalistas devem anunciar à categoria os resultados da negociação. Deve haver atos em 30 cidades do Paraná, segundo o sindicato. O governo, por outro lado, acredita no fim da greve.

 

“Vamos conclamar os professores a irem à sala de aula, para iniciarmos o ano letivo e cumprir a programação, de cumprirmos 200 dias de aulas”, adiantou Eduardo Sciarra. O secretário de Estado da Educação, Fernando Xavier Ferreira, estava em reunião e não se manifestou.

 

Pauta única é elaborada e Defensoria e Detran também resolvem parar

 

Felippe Aníbal e Rodrigo Batista

 

O Fórum Estadual dos Servidores (FES) – que congrega 16 sindicatos – protocolou ontem um ofício na Casa Civil do governo do Paraná, solicitando reuniões de negociação coletiva. A exemplo dos professores da rede estadual de ensino, as outras categorias de servidores públicos unificaram sua pauta em alguns pontos básicos: o não envio do “pacotaço” à Assembleia; a negociação imediata de pagamento dos benefícios atrasados; e o fortalecimento de cada setor, com o fim de terceirizações.

 

Entre as deliberações do FES está a permanência em greve das categorias que já decidiram parar e a imediata manifestação diante da Assembleia Legislativa, caso o “pacotaço” seja reenviado à Casa. “ A orientação é de greve geral, tendo como objeto uma pauta unificada”, explicita o documento, aprovado pelo colegiado.

 

Além dos professores estaduais, continuam em greve os docentes e servidores das seis universidades estaduais. Nas três maiores – UEL, UEM e UEPG – as aulas já deveriam ter começado ou seriam iniciadas hoje. “Teremos uma aula magna, em que os professores vão apenas explicar aos universitários os motivos da paralisação”, disse o presidente do sindicato do professores da UEL, Renato Barbosa.

 

Ontem, os trabalhadores do Detran-PR e os funcionários da Defensoria Pública também decidiram cruzar os braços. Em ambos os casos, a paralisação afeta o atendimento ao público. “Paramos pela ingerência do governo na autonomia administrativa e funcional da Defensoria Pública”, disse Renato de Almeida Freitas Júnior, presidente da associação da categoria.

 

No Detran-PR, só quatro serviços serão mantidos: liberação de veículos apreendidos ; documentação para veículos direcionados a serviços essenciais (como ambulâncias); exames práticos para a primeira habilitação; e apreensão de habilitações que foram suspensas, bem como liberação da habilitação para motoristas que já fizeram cursos de reciclagem. No caso da Defensoria, o primeiro atendimento ao público – feito pelos servidores – ficará prejudicado.

 

Também assinam o ofício encaminhado ao Palácio sindicatos de categorias como os investigadores da Polícia Civil, os agentes penitenciários e os servidores da saúde. Estes, têm assembleia marcada para a próxima terça-feira e podem voltar à greve suspensa na sexta-feira passada.

 

Fonte: Gazeta do Povo, 19 de fevereiro de 2015

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