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Músicas de campanha reforçam estereótipos

Tradicionais nas campanhas eleitorais, os jingles dos candidatos começam a pulular entre os eleitores, principalmente com o início da propaganda eleitoral gratuita. Adotados como estratégia de marketing eleitoral, sua função vai além de registrar o nome e o número do candidato: serve para ressaltar os traços considerados importantes para conquistar votos. 


A tática é a utilizada pelos três principais candidatos ao Palácio Iguaçu: Beto Richa (PSDB), que tenta a reeleição; Roberto Requião (PMDB), que tenta voltar à cadeira de governador; e Gleisi Hoffmann (PT). As músicas de campanha ficam em torno de palavras-chave que valorizem a própria imagem. Todos têm versões diferentes ou duas músicas de trabalho. 


A candidata petista, por exemplo, aposta no fator renovação, já que nunca comandou o Paraná, e em características comumente atribuídas ao universo feminino, na opinião da professora de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luciana Panke. 

Ao analisar o jingle da candidata, ela nota a presença de estereótipos femininos quando a canção fala de "cuidar da gente", "ela vem nos abraçar", "vem estar perto da gente". "Há uma evidente tentativa de aproximação com o ponto de vista de cuidado feminino e de gestão." 

Além disso, uma segunda versão, em ritmo de samba, tenta transmitir mais alegria pelo ritmo contagiante, sem deixar de lado os estereótipos relacionados ao gênero. 

A proposta é diferente nas músicas de campanha de Requião. No principal jingle, o ex-governador reafirma a própria imagem aos seus eleitores e adapta músicas usadas em campanhas anteriores, numa aparente tentativa de reavivar a memória do eleitor. O uso da expressão "me chama de verdade" também teria o efeito de ressaltar a figura polêmica do político. 

Já o segundo, que se utiliza de um vídeo que repercutiu na internet, tem apelo mais popular. A música o chama para combater a corrupção com o termo "Tacale (taca-lhe) pau, Requião véio (sic)". Para Panke, a proposta é tentar aproximação com os eleitores transmitindo uma imagem de "justiceiro" do candidato opositor. 

O diferencial na música de Beto, na avaliação da especialista em comunicação, é a valorização do eleitor como paranaense. "Ele começa o jingle qualificando, transferindo os elogios ou as qualidades para o eleitor", ressalta. O raciocínio segue identificando esse eleitor com o candidato, que pressupõe já ser conhecido do eleitor e que reconheceria o trabalho dele. Além da letra que traz valores semeados pelo governo, o ritmo contagiante é adotado para que a música seja repetida em eventos e transmita confiança. 

Único nanico com jingle já disponível, Tulio Bandeira (PTC) apostou em uma paródia do tema da atual novela das sete, Geração Brasil, um funk acelerado. 

Segundo a professora, apesar de sua versão ressaltar o número do candidato na urna e atrelar seu nome a ideias como mais emprego e saúde, mudanças e melhorias, a música teria melhor efeito se tivesse um ritmo mais fácil ou rimas. 

Os jingles de Bernardo Pilotto (Psol), Geonísio Marinho (PRTB) e Ogier Buchi (PRP) não foram encontrados ou não estavam prontos até o fechamento da edição. O PSTU não havia ainda gravado a música de Rodrigo Tomazini (PSTU), apesar da letra já pronta. 

‘RECEITA DE BOLO’
Os jingles apresentados seguem a receita de bolo dos produtores musicais no que se refere a campanhas eleitorais. Para o produtor musical Vanderlei Stella, primordiais em um jingle são, claro, o número, o nome do candidato e uma qualidade específica a ser ressaltada. "E procurar uma melodia que pegue", afirma. 

A posição do candidato também é levada em conta: se tenta a reeleição, pede para votar novamente. Quem está fora e quer entrar, tem que passar a ideia de renovação, sugerir mudança. 

Para o produtor Wilmar Cirino, o mais difícil é encaixar toda a história em uma música de cerca de um minuto. "Tem que achar um bom refrão e dizer o principal", explica. 

Stella considera uma "roubada" justamente uma das táticas mais utilizadas: as paródias de músicas já conhecidas. "Primeiro porque é ilegal. Segundo porque, se for pedir para uma Ivete Sangalo, ela cobraria R$ 100 mil de direitos autorais", compara. Atualmente, uma música de campanha eleitoral custaria de R$ 3 mil a R$ 25 mil. 

 
 

Fonte: Folha de Londrina, 20 de agosto de 2014

 
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