Poupe, desde cedo, para os 30 anos que você viverá depois de parar de trabalhar

Avanços da medicina incorporados às políticas de saúde pública, campanhas de vacinação em massa, atenção ao pré-natal, incentivo ao aleitamento materno, agentes comunitários de saúde e programas de nutrição infantil contribuíram para o aumento da expectativa de vida do brasileiro.

Segundo o IBGE, de 1940 a 2016, a expectativa de vida ao nascer cresceu mais de 30 anos e hoje é de 75,8 anos. Viver até os 90 ou mais é uma realidade cada vez mais frequente entre os que, além de favorecidos por boa genética, cuidam da saúde. 

Viveremos 30 anos mais! Tempo suficiente para uma nova carreira, uma nova profissão, para vivenciar muitas experiências que antes não pudemos, ocupados demais, estudando, trabalhando, criando filhos.

Já parou para pensar como gostaria de viver esse tempo? Está preparado, financeiramente, para essa nova e longa etapa? Sua renda não virá do seu trabalho, você estará aposentado. Poderá manter alguma atividade remunerada, é saudável fazê-lo, mas terá mais tempo livre, menos trabalho, mais lazer.

A tendência é que os benefícios da Previdência Social sejam gradualmente reduzidos, transferindo para cada um de nós a responsabilidade pelo próprio sustento. Sua renda virá do patrimônio que você for capaz de amealhar ao longo da vida.

O desafio: poupar para o futuro, para garantir uma fase independente, de autonomia, segura e confortável.

Se bem-sucedidos, além de autossuficientes, transmitiremos aos filhos um modelo financeiro sustentável de planejamento de vida.

Como e quando começar? Quais são os ingredientes para fazer o patrimônio crescer e durar tempo suficiente para nossa sobrevivência?

São três os ingredientes: o dinheiro que formos capazes de poupar; os rendimentos, frutos que o dinheiro poupado produzirá, trabalhando por nós; e o tempo, senhor da equação que determina o montante desse patrimônio no futuro.

Muitos não guardam nada para o futuro, preferem viver o presente, desfrutando de prazeres imediatos.

Outros afirmam que não poupam porque não sobra dinheiro. Não sobra porque estão destinando os recursos a outros objetivos, ou nenhum, o dinheiro está simplesmente pagando as contas do padrão de vida escolhido.

Não espere sobrar, separe uma parte do salário e invista para os 30 anos que você vai viver depois que parar de trabalhar. Comece com quanto for possível e tente aumentar um pouco a cada mês, a cada ano.

Estabeleça uma meta factível que consiga cumprir e não desista no meio do longo caminho.

O dinheiro, bem investido, renderá juros e outros rendimentos que dependerão de fatores macroeconômicos, independentes de sua vontade. Serão maiores ou menores, também em razão das escolhas de investimento que fizer.

O tempo, variável que você define, aliado aos outros dois ingredientes, fará o patrimônio atingir o montante necessário e suficiente. Na equação que calcula o valor futuro de um capital, o tempo (em meses ou anos) é expoente dos juros e potencializa o efeito sobre o capital investido. Quanto maior for o prazo de capitalização, maior será o resultado, mesmo que os juros sejam baixos.

Uma aplicação mensal de R$ 100, com juros de 0,40% ao mês, soma R$ 1.226 em um ano. Parece pouco, desanimador... Aguente firme, em 5 anos, você terá R$ 6.766; em 20, R$ 40.167; em 40, um patrimônio nada desprezível de R$ 144.872.

No exemplo, o esforço de poupança não aumentou, os juros permaneceram estáveis, o tempo mais a capitalização composta dos juros fizeram o milagre acontecer. Se você começar cedo e conseguir aumentar sua contribuição mensal, seu futuro estará garantido.

Marcia Dessen

Planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.

Folha de S.Paulo