Atividades ligadas ao agronegócio e à alimentação puxam geração de emprego até maio e criam expectativa positiva para outros setores.

                      

Arquivo Folha

                                             

A indústria paranaense abriu 11,4 mil vagas de emprego nos primeiros cinco meses deste ano e o mercado de trabalho começa a ensaiar uma recuperação no Estado. A safra recorde e os bons resultados na pecuária reforçaram o saldo positivo entre admissões e demissões entre atividades as quais são diretamente ligadas, como a fabricação de alimentos, ou indiretamente, como maquinário e transporte. Os números são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego. 

Outro fator que aponta para a relação direta com o agronegócio é que a maior parte das vagas foram criadas no interior, com saldo negativo na RMC (Região Metropolitana de Curitiba). Somente em maio, a RMC perdeu 1,7 mil postos de trabalho e as cidades menores contaram com a abertura de 4,1 mil vagas. 

No entanto, é mesmo o resultado da indústria que gera expectativa nos analistas. Isso porque são empregos com salários mais altos e que indicam uma previsão de maior atividade econômica nos próximos meses, com crescimento do consumo, por exemplo. Outra vantagem é que a abertura de vagas ocorre em várias atividades manufatureiras, e não apenas em uma ou duas como em 2016. Vale lembrar, porém, que se trata de uma recuperação de empregos, em um setor que tem encolhido e muito nos últimos anos. 

Os subsetores fabris que puxam o resultado são alimentícios e bebidas (4,8 mil), têxtil e vestuário (2,5 mil), borracha, fumo e couros (1,1 mil), farmacêuticos e veterinários (1 mil), material de transporte (783), material elétrico e de comunicações (742), além de madeira e mobiliário (732). Para o presidente do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), Julio Suzuki, é preciso destacar que o agronegócio fortalece a indústria de maquinário, de transporte e de insumos agropecuários, mas também traz a reboque o setor de peças, que inclui borracha e material elétrico. "A indústria de alimentos gerou muitos empregos, mas não podemos pensar somente na agropecuária", diz. "É um conjunto que inclui indústrias e serviços", completa. 

Consultor econômico e especialista no mercado de trabalho, Cid Cordeiro afirma que o agronegócio tem efeito irradiador de riquezas. "A estimativa é que o crescimento de 1% no PIB do agronegócio signifique alta de 0,5% a 1% no PIB dos outros setores", cita. "Com a renda do agronegócio, abre-se espaço para mais contratações, mais renda e maior consumo", afirma. 

O reflexo ajuda a explicar o aumento no setor têxtil e de vestuário. Profundamente prejudicada pela cotação baixa do dólar e pela concorrência chinesa nos anos anteriores, a atividade, que demanda mão de obra intensiva, começa a recuperar espaço. "São bens não duráveis e de baixo valor, o que permite a compra parcelada mesmo em período de crise", lembra Suzuki. 

Já o consultor considera que o cenário macroeconômico também contribuiu. "O cenário atual é de inflação de cerca de 4%, quando foi perto de 10% no ano passado. Os juros menores e a redução do endividamento das famílias também criam condições para a retomada do consumo." 

Cordeiro afirma que, por mais que o crescimento não seja tão significativo diante dos grandes saldos negativos nos últimos anos, há um alento pelo fim da retração. Porém, diz aguardar os resultados do segundo semestre para falar em tendência. "Se a crise política for mantida, há receio de desdobramentos na economia." 

                                         

Mais ampla 

O economista Roberto Zurcher, da FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), afirma que se trata de uma recuperação pequena, já que todos os subsetores têm números negativos ou piores em 12 meses do que no acumulado deste ano. "O aumento de empregos de abril a setembro é normal na indústria, mas, se fosse um ano com a economia normal, seria em número três vezes maior", diz. 

Após setembro, é também historicamente comum que o saldo na indústria fique negativo. Mesmo assim, diz que há a expectativa de manutenção dos postos de trabalho em áreas que reajam melhor. "O aumento neste ano é melhor do que no ano passado, ao menos, mas o mais importante é que é diversificado, e não em apenas uma ou duas atividades", diz Zurcher.

                                                                            

Fonte: Folha de Londrina, 26 de junho de 2017