Brasil tem a melhor chance em décadas de deixar para trás a era de taxas aberrantes

Segundo as últimas projeções do Banco Central, o país pode atingir uma auspiciosa marca em 2019 —o mais longo período de juros baixos, ou civilizados ao menos, de sua história documentada.

Trata-se, sem dúvida, de um fator a dar consistência para o otimismo dos brasileiros com a economia. Segundo o Datafolha, 65% creem que a situação nacional vai melhorar nos próximos meses.

A não ser por uma deterioração aguda do ambiente externo, ou na hipótese de fracasso do novo governo em fazer avançar uma reforma da Previdência, o cenário indica que o patamar atual da taxa do BC —os 6,5% anuais vigentes desde março— poderá ser mantido em 2019 sem pressionar a inflação.

Nas estimativas mais consensuais de analistas, a variação do IPCA ficaria em torno de 4% ao ano até 2020, compatíveis com as metas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,25% para o próximo ano e 4% para o seguinte.

A expectativa de evolução benigna dos preços se deve, em parte, à elevada ociosidade no mercado de trabalho, com taxa de desemprego ainda próxima de 12%.

Parece evidente que as incertezas político-eleitorais dos últimos dois anos limitaram a recuperação da economia. Quase cinco anos depois de iniciada a mais profunda recessão das últimas décadas, o Produto Interno Bruto permanece 5% abaixo do patamar atingido no início de 2014.

Por essas razões mantiveram-se dormentes as pressões de preços até em setores mais problemáticos, como o de serviços.

Seria natural até antever um retorno à normalidade brasileira de juros escorchantes quando a economia enfim voltar a crescer de modo mais acelerado. Mas talvez não seja assim desta feita.

Pode estar em curso uma mudança estrutural em outra variável essencial para explicar a anomalia das taxas do país —o crescimento dos gastos públicos.

Entre 1994 e 2015, contabilizou-se expansão real de cerca de 6% ao ano, em média. Nesse quesito, governos tucanos e petistas se comportaram da mesma maneira, apertando a política monetária para conter a inflação oriunda da prodigalidade estatal.

A partir de 2016, contudo, o padrão foi alterado. Além da gestão mais austera do Orçamento, por absoluta e inadiável necessidade, o advento do teto para a despesa federal proporcionou um horizonte mais longo de controle.

Como se sabe, o congelamento do gasto só se sustentará se as despesas previdenciárias forem equacionadas. Conforme apontou o Banco Central, aí reside a maior incerteza, para 2019 e para o mandato de Jair Bolsonaro (PSL). De todo modo, o país está diante da melhor chance das últimas décadas de deixar para trás a era dos juros aberrantes.

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Folha de S.Paulo