No processo que tem Lula como principal réu, juiz analisou pedidos de compadre de petista e de Bumlai

Felipe Bächtold
SÃO PAULO

Após ser procurado pela equipe de Jair Bolsonaro (PSL) para integrar seu ministério, o juiz Sergio Moro despachou normalmente na 13ª Vara Federal, ouviu o ex-deputado Eduardo Cunha, um dos presos mais célebres da Lava Jato, e rejeitou pedido de réus em um processo que tem o ex-presidente Lula como o principal acusado.

O interrogatório de Cunha ocorreu nesta quarta (31), em ação penal em que o ex-presidente da Câmara dos Deputados é acusado de receber propina em contratos da Petrobras. O ex-deputado do MDB está preso há dois anos.

Na audiência, o juiz chegou a bater boca com um advogado de defesa que pedia o adiamento do interrogatório.

"Em um processo que tem mais de dois anos, quase três anos de trâmite, a defesa argumentar que não teve tempo de conversar com o cliente é um total disparate", disse Moro.

Na terça-feira (30), Moro havia dito que estava honrado com convite feito por Bolsonaro para o Ministério da Justiça e manifestou a intenção de conversar com o presidente eleito a respeito.

Um dia antes, na segunda (29), ele deu sua decisão mais recente em um processo envolvendo o ex-presidente Lula. Na ação sobre o sítio de Atibaia (SP) usado pelo ex-presidente, Moro rejeitou pedido do pecuarista José Carlos Bumlai para ser interrogado por videoconferência, no próximo dia 14, e autorizou viagem ao exterior de Roberto Teixeira, réu e compadre do petista.

Lula tem interrogatório marcado para o próximo dia 14 nessa ação penal.

Além desse processo, Lula é réu em ação em estágio muito mais avançado, sobre suposta propina da Odebrecht na compra de um terreno para o Instituto Lula.

Coincidentemente, o prazo para a entrega das alegações finais das defesas nesse caso se encerrou nesta quarta. Ainda assim, os advogados de Lula conseguiram incluir entre os argumentos para a absolvição a aproximação entre o juiz e o presidente eleito.

A entrega das alegações finais é o último passo do processo antes da sentença.

A última manifestação de Moro nesse caso havia sido no dia 1º de outubro, seis dias antes do primeiro turno da eleição, quando o juiz tornou públicos trechos da delação do ex-ministro Antonio Palocci.

A iniciativa à época despertou muitas críticas do PT pela proximidade com a votação e seu eventual impacto eleitoral.

Moro, na ocasião, argumentou que a publicidade era necessária para garantir a ampla defesa de todos os acusados. Como o depoimento poderia ser usado para embasar a sentença, seria preciso informar seu conteúdo a todas as defesas.

A primeira sondagem a Moro foi feita pelo futuro ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, ainda durante a campanha.

O juiz afirmou à Folha que, quando decidiu liberar o sigilo da delação de Palocci, a seis dias do primeiro turno, ainda não havia recebido o convite para integrar o ministério de Bolsonaro.

“Não tem uma semana [que recebi o convite]”, declarou.

Ao longo do mês de outubro, o trabalho seguiu normalmente na Vara Federal responsável pela Lava Jato.

Moro, por exemplo, mandou soltar no último dia 22 o engenheiro Sérgio Boccaletti, suspeito de ser operador financeiro e que estava preso desde maio.

Também pediu ao ministro do Supremo Dias Toffoli, na última segunda-feira (29), que fosse devolvido ao seu comando uma ação em que é réu o ex-ministro Guido Mantega.

Na fila de julgamentos da Lava Jato no Paraná, Mantega é o principal alvo que ainda não tem condenação nem está preso. Toffoli havia interrompido a tramitação desse caso em setembro.

Ainda em outubro, Moro pediu à defesa do ex-deputado e réu Candido Vaccarezza (do partido Avante) mais informações para a convocação da ex-presidente Dilma Rousseff como testemunha defesa em um processo.

Há cerca de 30 ações penais relacionadas à Lava Jato em andamento no Paraná, além de outras relacionadas que foram desmembradas ou que estão com trâmite suspenso.

Colaborou Estelita Hass Carazzai, de Curitiba

Folha de S.Paulo