Desemprego elevado é principal razão para que maioria das remunerações ofertadas tenha caído



Maria Cristina Frias

O salário de admissão da maior parte dos profissionais com carteira assinada caiu no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2017. Os dados são do Ministério do Trabalho.

As remunerações profissionais de duas faixas etárias, de 30 a 39 anos e de 40 a 49, tiveram crescimento acima da taxa do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Todas as demais apresentaram quedas.

É natural que os trabalhadores dessas idades ganhem os melhores salários de contratação, segundo Clemente Ganz Lucio, diretor do Dieese (departamento de estudos intersindicais). 

“Nessa faixa, eles têm maior produtividade, pois são experientes e têm vigor. A tendência é que sejam os primeiros a ganhar aumento real. Exceto quando se trata de trabalhado intelectual, que é minoria.”

O motivo de a maioria dos salários de admissão ter caído neste ano é a persistência do desemprego em um patamar elevado, segundo Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre/FGV e do Idados.

“É uma questão de oferta e demanda. Há muita gente em busca de uma vaga e isso pressiona os salários para baixo.”

O fato de alguns dos piores resultados terem ocorrido entre os mais velhos sinaliza que profissionais dessas idades buscam emprego mais ativamente.

Os números não devem melhorar, segundo Hélio Zylberstajn, professor da USP.

Foram criadas 440 mil vagas entre janeiro e julho. No mês de dezembro, no entanto, o país costuma fechar cerca de 500 mil vagas, e o saldo positivo poderá ser perdido.

“A adição de emprego que acontecer entre agosto e novembro representará todo o resultado do ano. Como o mercado formal crescerá pouco o salário não deverá subir.”

Lógica de remuneração

O Hospital Israelita Albert Einstein investiu R$ 25 milhões em um centro ambulatorial no Alto de Pinheiros, em São Paulo.

Será um local sem tecnologia de alta complexidade, para tratamentos de doenças que não demandam pronto-atendimento, segundo o presidente Sidney Klajner.

O Einstein se prepara para uma eventual mudança na forma como é remunerado pelas operadoras de saúde.

O grupo recebe por procedimento, mas há a possibilidade de passar a ganhar um valor fixo por cliente, não importa se ele usa muitos serviços ou poucos.

Nesse cenário, é interessante, para o hospital, baixar os custos do atendimento médico, segundo Klajner.

“Esse ambulatório é uma primeira experiência. Para o sistema ser menos oneroso, faz sentido oferecer mais atenção primária (intervenção inicial). A clínica tem investimento menor e deverá dar lucro em sete anos.”

Trazer para dentro de casa

A Mutant, que presta serviços como atendimento a clientes de terceiros e cobranças, adquiriu a desenvolvedora de software Dextra, que já trabalhava indiretamente com a empresa há cerca de um ano.

O valor da transação não foi divulgado, mas a aquisição faz parte do investimento de aproximadamente R$ 80 milhões previsto para 2018, diz o presidente Alexandre Bichir.

A companhia havia feito uma pausa nas aquisições em 2017 e, agora, voltou às compras, afirma o executivo.

“Temos clientes em comum que atendíamos separadamente, em competição pelo mesmo orçamento, mas há também uma complementação, porque eles trazem grandes empresas que não estavam em nossa carteira.”

3 mil
serão os funcionários da Mutant após a aquisição

Mais crédito

A proporção de famílias brasileiras com dívidas subiu pelo segundo mês consecutivo em agosto, e chegou a 60,7%, segundo a CNC (confederação do comércio).

Na comparação com o mesmo período de 2017, porém, houve queda de 1,1 ponto percentual no indicador.

“É um crescimento pequeno, de 0,5 ponto, mas é positivo porque mostra uma disposição maior em adquirir crédito, o que movimenta setores como o varejista de bens duráveis”, diz Marianne Hanson, economista da entidade.

A tendência deve se mater para os próximos meses, mas o quadro eleitoral indefinido pode afetar negativamente o dado.

“O segundo semestre sempre é mais forte por conta das datas comemorativas e da geração de vagas temporárias, mas o movimento deverá será moderado por conta do baixo crescimento econômico.”

Carga importada por via aérea sobe mesmo com dólar em alta

O total de cargas internacionais recebidas pelo Brasil por via aérea cresceu 14,6% no acumulado de 2018 até julho, segundo a Anac (agência reguladora da aviação civil).

“A retomada de indústrias como a automotiva influenciou o dado. Na crise, as empresas que importavam bens de alto valor usaram mais transporte marítimo”, diz Maria Fan, gerente do terminal de cargas do aeroporto de Guarulhos.

Mesmo com a alta do dólar, Guarulhos bateu em agosto seu recorde de cargas importadas (14,17 mil toneladas). O crescimento é de 12% no ano.

O terminal também registrou subida na chegada de produtos farmacêuticos. “O setor tem pouca sazonalidade e é resiliente. A importação de produtos de alto valor cresce mais.”

O Galeão, no Rio, recebeu nos sete primeiros meses deste ano 21,6 mil toneladas, número 24,6% maior que o do mesmo período de 2017. O valor das cargas foi de US$ 4 milhões no período, alta de 34,2%.

Aporte... A concessionária GRU Airport vai investir R$ 10 milhões em expansão e remodelagem do complexo frigorífico do aeroporto de Guarulhos.

...gelado A obra deverá ficar pronta em dezembro, diz Monica Lamas, diretora comercial da companhia. Com a reforma, o terminal terá 22 câmaras frias.

Alimentação A fabricante de salgadinhos Milho de Ouro aportou R$ 10 milhões em uma nova fábrica em Embu das Artes (SP) para triplicar sua produção.

com Felipe Gutierrez, Igor Utsumi e Ivan Martínez-Vargas

Mercado Aberto

Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.

Fonte: Folha de S.Paulo, 6 de setembro de 2018.