Ao adiar troca de Lula, sigla amplia angústia de grupo que pode migrar para Ciro
O PT aceitou correr o risco de frustrar uma fatia de seu eleitorado ao esticar até o limite a substituição de Lula. Dirigentes argumentam que insistir na manutenção do ex-presidente na corrida é a melhor maneira de garantir a fidelidade de petistas de baixa renda —mesmo que a demora afaste a classe média.
A sigla acompanha o humor de seus eleitores com pesquisas periódicas. Os números, segundo integrantes do partido, mostram que a ansiedade pela substituição de Lula se concentra principalmente em segmentos intermediários de renda.
Estes eleitores têm mais acesso à informação, têm consciência de que são baixas as chances de o ex-presidente ser candidato, agem pelo chamado “voto de opinião” e já procuram alternativas por conta própria —antes, portanto, que Lula abençoe Fernando Haddadoficialmente.
Apesar do risco, dirigentes petistas insistem que qualquer precipitação na troca de Lula por Haddad prejudicaria o partido em sua principal trincheira, que é a população de renda mais baixa. Esta, avaliam, não absorveria gestos que pudessem insinuar que o PT desistiu de Lula, rifando-o da corrida eleitoral.
Entre eleitores que ganham até dois salários mínimos, 58% dizem que votariam “com certeza” ou “talvez” no candidato de Lula. Em uma faixa de renda acima, de dois a cinco salários, esse índice cai para 43%.
Embora a lentidão da sigla para substituir seu candidato amplie as angústias do eleitor de classe média, o PT acredita que é preciso manter o holograma do “Lula candidato” aceso para reter o eleitorado mais pobre, base de suas forças.
Depois, caberá a Haddad a missão de recuperar a classe média que poderá migrar para Ciro e companhia.
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).