Patrões cobram menos interferência do governo na produção, mas querem benefícios



A cada quatro anos, a indústria expõe suas contradições ao convocar para um beija-mão os principais candidatos à Presidência. Desta vez, a crise econômica apagou o constrangimento de um setor que cobra a redução de benefícios trabalhistas, enquanto estende o chapéu ao governo para pedir incentivos.

Em sabatina com seis postulantes ao Planalto, nesta quarta (4), o presidente do sindicato das construtoras reclamou que o Ministério Público e a legislação ambiental são uma “parafernália” que cobra um preço alto da indústria. Disse que essas regras são ineficientes e precisam mudar.

A manifestação carrega uma compreensível reivindicação pela redução de custos burocráticos e da carga de impostos pagos pelos produtores. Seria um belo discurso, caso a indústria não fosse tão dependente do peso do próprio Estado.

Como se a crise econômica não tivesse sido acentuada por esse antigo vício, os empresários acenaram com pedidos de estímulo (leia-se subsídios) e intervenções do governo para baratear a oferta de crédito.
Como de hábito, os candidatos tentaram agradar. Henrique Meirelles (MDB) e Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, prometeram reduzir os impostos cobrados das empresas.

Jair Bolsonaro (PSL) foi quem vestiu com mais entusiasmo o uniforme de industrial. “Não faremos nada da nossa cabeça. Os senhores que estão na ponta das empresas serão os nossos patrões”, afirmou.

Sob aplausos, o capitão da reserva seduziu a plateia: disse ser possível “vencer os problemas ambientais” e sentenciou que a indústria não deve ser tratada como inimiga. Declarou ainda ter ouvido que os trabalhadores precisarão escolher entre ter “menos direitos e emprego” ou “todos os direitos e desemprego”.

Ciro Gomes (PDT) foi vaiado ao dizer que vai rever a reforma que flexibilizou direitos dos empregados. Prometeu um ambiente de negócios mais favorável, mas se estranhou com o PIB. “Ganhar dinheiro é importante, mas temos um povo para alimentar. Vou prestigiar essa gente.”

Fonte: Folha de S.Paulo, 6 de julho de 2018.