Será nesta terça-feira (21), às 9h30, a posse de Michelle Bolsonaro como presidente do PL Mulher. O PL reservou  um espaço no Hípica Hall, em Brasília, para fazer um evento de porte. A intenção inicial do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, era fazer a posse de Michelle no cargo com o máximo de pompa possível. O evento vai acontecer, mas acabou murchando um pouco por conta daquilo que Caetano Veloso chamou numa canção de “a monstruosa sombra do ciúme”.

A confusão já começou pela data. O PL anunciou que o evento aconteceria no dia 21 porque esse seria o dia do aniversário de Michelle. Na verdade, Michelle nasceu em Ceilândia, no Distrito Federal, no dia 22 de março de 1982. Quem faz aniversário no dia 21 de março é seu marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele nasceu na cidade de Glicério, em São Paulo, no dia 21 de março de 1955. Ou seja: Michelle entra para a política como alternativa a Bolsonaro no dia em que ele faz 68 anos. Um dia antes de fato de quando Michelle fará 41 anos. Dia 22 ainda teria outro adicional simbólico: 22 é o número eleitoral do PL.

Mas é a partir dessa confusão que vai crescendo o rolo. Recordemos. No começo da campanha de Bolsonaro à reeleição, quando ele escolheu o PL como partido, era Michelle quem resistia. Ela não queria se envolver e, segundo contam pessoas próximas, tinha certa desconfiança de Valdemar Costa Neto pelo fato de ele ter se envolvido e sido condenado no mensalão. A performance de Michelle no evento de filiação de Bolsonaro foi fazendo com que os olhos crescessem para ela. Bonita, simpática, com boa retórica, começou a avançar a ideia de tê-la como alternativa política.

O primeiro esforço foi na própria campanha como ferramenta para tentar reduzir a rejeição de Bolsonaro junto ao eleitorado feminino. Depois, ela acabou tento papel fundamental como cabo eleitoral da ex-ministra Damares Alves na sua eleição para o Senado, frustrando os planos da também ex-ministra Flávia Arruda. Damares no Republicanos, Flávia no PL.

A alternativa Michelle foi crescendo aos olhos do PL à medida que parecia se esvaziar a alternativa Bolsonaro. Na virada do ano, Valdemar planejava ter Bolsonaro no país para que liderasse a oposição ao governo Lula. Mas Bolsonaro autoexilou-se nos Estados Unidos, sem muito combinar com o presidente do PL.

Depois dos atos do dia 8 de janeiro, Valdemar já considerava melhor que Bolsonaro adiasse a sua volta. Era preciso baixar a poeira da repercussão da tentativa de golpe. Valdemar já se declarava arrependido da história da ação que contestava o resultado das eleições do ano passado e que levara o partido a ser condenado por litigância de má fé.

Veio, então, o caso das joias. Bolsonaro recebeu o seu pacote. O de Michelle, com as milionárias joias de diamantes, ficou retido na alfândega. Mais complicado para Bolsonaro, de posse do seu conjunto, dizer que não sabia. Já Michelle sustenta que ela não sabia.

O problema de tudo isso é justamente todo esse caminho acabar por tornar Michelle uma alternativa política ao próprio Bolsonaro. E é sobre isso que vai pairando a “monstruosa sombra do ciúme”. Não apenas do próprio Bolsonaro, mas de seus filhos, especialmente o senador Flávio e o vereador Carlos.

No jantar que o PL fez para homenagear a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) à presidência do Senado em fevereiro, Michelle foi convidado e acabou brilhando como estrela. Segundo alguns dos que lá estiveram, para contrariedade de Flávio Bolsonaro. Logo depois que Michelle chegou, o filho 01 de Bolsonaro deixou o local discretamente. Segundo ele, porque receberia pessoas em sua casa.

Carlos também já teve problemas com Michelle. Há relatos de diversas brigas e discussões entre os dois.

Diante desse rolo, Bolsonaro teria, então, dito a Valdemar Costa Neto que freasse o ímpeto com Michelle. Ela até, segundo ele, poderia vir a ser candidata a algum cargo de parlamentar – ele próprio chegou a falar em senadora. Mas não para um cargo no Executivo. Muito menos como alternativa a ele mesmo.

Bolsonaro chegou a dizer que a insistência nessa estratégia poderia mesmo gerar uma “crise conjugal”, diante do fato de os filhos não a aceitarem “de jeito nenhum”. No fundo, porém, parece haver um problema com o próprio Bolsonaro. Ele não gostaria de se ver substituído pela própria mulher como projeto político.

Amanhã, ela toma posse no PL Mulher. E ele segue autoexiliado nos Estados Unidos.

CONGRESSO EM FOCO

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