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Eleito neste domingo (30/10) após vencer o candidato à reeleição Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva obteve a menor vantagem já registrada sobre um oponente em disputas realizadas após a redemocratização do país: 1,8 ponto, com 99% das urnas apuradas.

Sinal de que, no campo político, o petista herdará um país rachado, o que exigirá toda a sua capacidade de negociação, seja para lidar com a feroz oposição prometida desde já pelos bolsonaristas, seja para lidar com as siglas e os parlamentares que se uniram a ele na frente ampla para derrotar o atual mandatário.

Assim, Lula terá de encontrar espaço para os partidos que formaram a coligação Brasil da Esperança — que reuniu PT, PSOL, PSB, Rede, PCdoB, PV, Solidariedade, Agir, PROS e Avante —, além do PDT, tradicional aliado de centro-esquerda, e lideranças que declararam apoio a ele no segundo turno, caso de Simone Tebet.

Isso sem contar a bancada bolsonarista, que não deve abandonar a orientação de extrema direita, e o Centrão, que, ao longo da transição, deve buscar algum diálogo com a futura gestão petista. Nesse sentido, a expectativa é de que Lula destoe de Bolsonaro — que assumiu com a promessa de reduzir o número de ministérios — e crie mais pastas para acomodar seu arco de apoiadores.

Em relação ao campo adversário, porém, Lula colheu ainda neste domingo um aceno importante vindo da nova leva de governadores: eleito em São Paulo na disputa contra o petista Fernando Haddad, o ex-ministro de Bolsonaro Tarcisio de Freitas (Republicanos) sinalizou que irá priorizar o interesse do estado e, para isso, tentará se alinhar ao Palácio do Planalto.

Na relação com o Poder Judiciário, que foi motivo de crise permanente durante o governo Bolsonaro, as expectativas são mais favoráveis ao presidente eleito. Agora, com o presidente de saída do Planalto, os ministros do Supremo Tribunal Federal dizem esperar que a corte reconstrua sua credibilidade e as pontes com o governo federal, conforme apurou a colunista Carolina Brígido, do UOL.

Já no campo da economia, a vitória de Lula gera apreensão no mercado financeiro. Lula ainda não apresentou os nomes que irão compor seus ministérios, incluindo o da Economia — o que deve se refletir na Bolsa e na cotação do dólar nas próximas semanas.

Outros motivos de preocupação para o mercado são a promessa, feita pelo petista durante a campanha, de acabar com o teto de gastos e a tendência, comumente associada a seu partido, de frear as privatizações e intervir mais em estatais como a Petrobras e o Banco do Brasil.

Outros dados que geram desconfiança no mercado: a promessa feita por Lula de isentar de Imposto de Renda contribuintes que ganham até R$ 5.000 por mês, além dos R$ 150 extras para beneficiários do Auxílio Brasil.

Na política econômica, Lula terá de contar com uma equipe qualificada de economistas para lidar com as contas que receberá do atual governo. Isso porque herdará de Paulo Guedes e Bolsonaro um rombo que pode chegar a R$ 103 bilhões em 2023 caso o gasto adicional do Auxílio Brasil fique fora do teto, de acordo com projeção divulgada na semana passada pela Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado Federal.

Nas relações diplomáticas, Lula terá o desafio de recuperar a credibilidade do país no cenário internacional. Durante a gestão Bolsonaro, o país se distanciou de parceiros tradicionais e ficou isolado depois que Donald Trump deixou a presidência dos Estados Unidos.

Mas o presidente eleito estará à altura do desafio, apostam especialistas. Um sinal disso foi dado neste domingo, logo após o anúncio da vitória do petista: o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por exemplo, foi um dos primeiros a parabenizar Lula.

Em mensagem divulgada pela Casa Branca, o democrata afirmou que espera trabalhar junto com o brasileiro para manter "a cooperação entre nossos dois países nos próximos meses e nos anos que virão".

Outro desafeto de Bolsonaro, o presidente da França, Emmanuel Macron, usou o Twitter para homenagear Lula. "Juntos, vamos unir nossas forças para enfrentar os muitos desafios comuns e renovar o vínculo de amizade entre nossos dois países", disse Macron, que foi alvo de ofensas de Bolsonaro logo nos primeiros dias da atual gestão.

Revista Consultor Jurídico

https://www.conjur.com.br/2022-out-31/lula-enfrentara-desafio-unificar-pais-administrar-crise-fiscal