Os suíços aprovaram, por uma pequena margem, o controverso plano de reforma previdenciária do governo, que aumenta a idade de aposentadoria para que as mulheres desfrutem da pensão completa. Apenas 50,57% dos suíços aceitaram a reforma.

Depois de duas tentativas anteriores, em 2004 e 2017, Berna conseguiu os votos suficientes para “estabilizar” o sistema previdenciário, em risco pelo aumento da expectativa de vida da população e pela enorme geração baby boomer chegando à idade de aposentadoria. A parte mais polêmica da reforma estipula que as mulheres trabalhem até os 65 anos para receber a pensão integral, em vez de permitir que saiam um ano antes dos homens, como acontece atualmente.

As medidas, que incluem também o aumento do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado), foram aprovadas no ano passado pelo Parlamento, mas partidos de esquerda e sindicatos criticaram que a reforma seria feita “às custas das mulheres”. Por esta razão, a questão foi levada a um referendo, mecanismo garantido pelo sistema suíço de democracia direta.

Os defensores da reforma argumentaram ser razoável estabelecer a mesma idade de aposentadoria para homens e mulheres, mas a medida gerou rejeição, principalmente entre as mulheres. Os opositores apontaram que as mulheres enfrentam discriminação e disparidade salarial na Suíça, resultando em pensões mais baixas do que as dos homens. Também salientaram que é injusto aumentar a idade da reforma sem antes resolver essas questões.

Em 2020, as mulheres na Suíça receberam, em média, pensões quase 35% mais baixas do que os homens, de acordo com o Ministério da Economia.

O resultado da votação “é doloroso para a esquerda e para os sindicatos, mas sobretudo para as pessoas afetadas”, disse Samuel Bendahan, conselheiro nacional do Partido Socialista, em entrevista ao canal de TV público RTS.

Pecuária intensiva

Por outro lado, a iniciativa de banir a pecuária intensiva, erradicando as explorações industriais neste país ainda predominantemente rural, embora a agricultura tenha um peso relativamente pequeno na riqueza nacional, foi rejeitada por 63% de votos.

As organizações de defesa dos animais que pressionaram a medida queriam dar proteção constitucional a animais de criação, como vacas, galinhas e porcos. “Acreditamos que a criação de animais é uma das questões que definem nosso tempo”, disse em seu site o grupo de bem-estar animal Sentience, que lançou a iniciativa.

A proposta, apoiada por partidos de esquerda e organizações ambientalistas como o Greenpeace, buscava impor requisitos mínimos para o cuidado dos animais, seu acesso ao exterior e práticas de abate. A regulamentação também seria aplicada à importação de produtos de origem animal.

O governo e o Parlamento rejeitaram a iniciativa, insistindo que a Suíça já possui uma das leis de bem-estar animal mais rígidas do mundo. Pela lei atual, as fazendas não podem ter mais de 1.500 porcos de engorda, 27.000 frangos de abate ou 300 bezerros, o que as impediria de ter fazendas industriais como as de outros países.

Berna havia alertado que o aperto dessas regras causaria um forte aumento nos preços e a cláusula de importação afetaria as relações com seus parceiros comerciais. Tais argumentos parecem ter convencido um número crescente de suíços.

Os suíços também votaram sobre questões regionais, incluindo uma do cantão de Berna para reduzir a idade de voto de 18 para 16 anos.

Fonte: RFI
Data original da publicação: 25/09/2022

DMT: https://www.dmtemdebate.com.br/suicos-aprovam-reforma-que-eleva-idade-de-aposentadoria-das-mulheres-para-65-anos/