“Diferentemente do que ocorreu em 2018, o clima antissistema hoje é baixo, o que tende a comprimir a taxa de renovação. Em alta estará a tendência à reeleição”, aponta o Valor Econômico

Os candidatos que polarizam a disputa presidencial de 2022 – Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) – devem ser também os principais cabos eleitorais do País nos pleitos para a Câmara Federal e para as assembleias legislativas. É o que apontam especialistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico.

“Diferentemente do que ocorreu em 2018, o clima antissistema hoje é baixo, o que tende a comprimir a taxa de renovação. Em alta estará a tendência à reeleição”, aponta o jornal nesta segunda-feira (8). Segundo esses especialistas, “a esquerda cresce, mas não o suficiente para mudar o perfil majoritário de centro-direita da Câmara. E o número de partidos com representação no Congresso deve cair.”

Todos os entrevistados apostam que Lula terá em 2 de outubro mais votos do que o petista Fernando Haddad teve no primeiro turno da eleição 2018. Com isso, a “onda Lula” deve “impulsionar a sigla na disputa proporcional”, bem como o PCdoB e o PV – partidos que compõem, ao lado do PT, a Federação Brasil da Esperança.

Em 2018, o voto antissistema e antipetista levou o nanico PSL, partido de Bolsonaro, a se tornar a segunda maior legenda da Câmara, com 52 deputados federais eleitos, só atrás da bancada do PT, de 56 parlamentares. Embora não haja uma “onda bolsonarista” similar à de quatro anos atrás, o presidente busca a reeleição, agora, com uma “estrutura partidária mais sólida”. Assim, PL e PP, os partidos com mais deputados federais hoje, devem manter bancadas significativas.

Uma das mudanças esperadas, em decorrência também da polarização, é a queda nas taxas de abstenção e de votos nulos ou em branco. O chamado “não voto”, que foi alto em 2018, aumentou ainda mais na eleição municipal de 2020, devido à pandemia de Covid-19. Agora, a crise sanitária mais controlada e o clima acirrado “motivam o eleitorado a comparecer e a tomar posição”.

Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, um fator que deve ter peso na escolha dos brasileiros é a disparada das emendas parlamentares. Com um adicional: o chamado “orçamento secreto”, que, apenas em 2012, foi de R$ 21 bilhões para senadores e deputados federais. “Emenda parlamentar, mostra a literatura, sempre foi instrumento importante para criação de redutos e manutenção de mandatos”, lembra Nunes.

“No período recente, o montante de recursos dessas emendas aumentou muito, inclusive com o chamado orçamento secreto. Deputados que definiam do destino de R$ 2 milhões e depois eram apoiados por prefeitos passaram a direcionar R$ 30 milhões, R$ 40 milhões”, agrega. “Isso é um fator que favorece muito os que tiveram mais acesso às emendas, os governistas.”

Por fim, o número de partidos com deputados eleitos deve cair, devido à nefasta cláusula de barreira (que será de 2% em 2022) e o fim do “sistema de sobras”. Cada partido deve ter uma votação mínima – de 20% do quociente eleitoral – para disputar as cadeiras remanescentes. “Os (partidos) pequenos que formaram federação ainda conseguem se proteger disso. Os demais correm o risco de extinção”, analisa o consultor Antônio Augusto de Queiroz, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Especialistas também apontam que siglas como PSDB, PDT, PTB e Podemos devem ter representação diminuída no Congresso, por distintas razões: falta de “vínculo com presidenciável competitivo”, pouca margem para receber e destinar emendas, dificuldades para suprir a cláusula de barreira, entre outras.

VERMELHO

https://vermelho.org.br/2022/08/08/renovacao-da-camara-lula-e-bolsonaro-sao-os-grandes-cabos-eleitorais/