Pré-campanha de Lula traçou uma estratégia com duas diretrizes básicas

As denúncias de corrupção envolvendo pastores evangélicos ligados à gestão Jair Bolsonaro (PL) provocaram a queda, na semana passada, do ministro da Educação, Milton Ribeiro. A crise também causou um ruído na relação entre o governo e os evangélicos, que representam aproximadamente 30% do eleitorado brasileiro e apoiaram maciçamente a candidatura de Bolsonaro em 2018.

Para tenta reverter o voto dos religiosos mais conservadores, a pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traçou uma estratégia com duas diretrizes básicas: o fortalecimento dos núcleos evangélicos da sigla já existentes em todos os estados, sobretudo nas periferias, e a aproximação de pastores pentecostais para realização de eventos em todo o país.

Na opinião do secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, a crise envolvendo os pastores bolsonaristas Gilmar Santos e Arilton Moura, suspeitos de negociar propina em troca da liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC) para municípios, desgasta Bolsonaro. “Essa trapalhada e a maneira como estão agindo acabam afastando os evangélicos que estão com ele (Bolsonaro). Constrange, não é?”, disse.

Em discurso na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), na quarta-feira da semana passada, Lula não deixou o episódio passar em branco. “O ministro (Ribeiro) só cuidava da educação dos pastores dele. Ele tinha um rebanho. Só cuidava do rebanho dele. Eram os pastores amigos do ministro que conseguiam dinheiro”, disse para uma plateia formada por estudantes.

Exemplo do novo contexto é do pastor paranaense Paulo Marcelo Schallenberger, que já foi ligado ao deputado Marco Feliciano (PL) e se candidatou candidato a vereador por São Paulo em 2020 pelo Podemos. Agora, Schallenberger começou a fazer uma série de encontros para arregimentar lideranças religiosas que ainda não estão ao lado de Lula. No fim de 2021, ele apresentou seu plano ao ex-presidente durante reunião de três horas no Instituto Lula, em São Paulo. O pastor diz que vai percorrer todos os estados do Brasil ao lado do petista.

“Já conseguimos o cadastramento aqui do WhatsApp de 6 mil pastores em todo o País. Estamos conectados com muita gente em diversas igrejas”, comenta. No dia 22 de abril, ele fará pregação num trio elétrico na Bahia para falar sobre o momento político do Brasil. “Eu consigo acessar uma camada dos evangélicos que o PT não acessa. O PT tem os núcleos evangélicos, mas são mais ligados ao setor progressista”, diz.

Na segunda quinzena de abril, o pastor vai estrear um podcast para mobilizar diversos representantes religiosos em torno da candidatura de Lula. Inicialmente, o programa, que será veiculado em várias plataformas digitais, ficaria sob a tutela da comunicação nacional do PT. No entanto, houve resistência de alguns setores do partido e o religioso deve contar com a estrutura do diretório do PT em São Paulo.

Uma das ideias é chamar pastores bolsonaristas para debater no programa. “O Abner Ferreira (um dos bispos mais influentes da Assembleia de Deus), por exemplo, eu gostaria de convidá-lo. Algumas pessoas assim. O Silas Malafaia não viria, não é?”, brinca. Para o pastor, as eleições deste ano vão ser menos marcadas pelo debate de costumes. “O que vai decidir a eleição é o estômago. A questão econômica estará no foco”, avalia.

A deputada Benedita da Silva, coordenadora do Núcleo de Evangélicos do PT (NEPT), diz que é preciso mostrar aos evangélicos que não votaram no PT nas últimas eleições como era a vida deles quando Lula governava o Brasil. “Sempre fizemos esse trabalho com os evangélicos, mas agora estamos dando mais visibilidade”, relata. “Vamos mostrar que as nossas políticas públicas beneficiaram muitos pobres. E a maioria desses pobres são evangélicos.”

Com informações da CartaCapital

https://vermelho.org.br/2022/04/04/queda-de-milton-ribeiro-pode-afastar-evangelicos-de-bolsonaro/