Em 2014, logo após a reeleição de Dilma Rousseff (PT), pecuaristas de São Paulo criaram em Araçatuba, no interior do estado, a Frente Produtiva do Brasil. O movimento liderado pela UDR (União Democrática Ruralista) — entidade conhecida por posições extremistas em temas fundiários que vinha perdendo espaço em Brasília —, se cobriu com as cores da bandeira nacional para espalhar críticas à lisura do processo eleitoral e atacar a corrupção, seguindo o cardápio da Operação Lava Jato.

Caio Pompéia*

A iniciativa ajudou a dar corpo em municípios do Oeste paulista à oposição ao segundo mandato de Dilma e a radicalizar a aversão dos produtores ao PT. Foi o início de uma das frentes do agronegócio que se alinharia com Jair Bolsonaro, alguns anos depois.

Os pecuaristas reunidos na Frente Produtiva do Brasil tinham outra coisa em comum: estavam insatisfeitos com as elites do agronegócio e a proximidade dessas com governos petistas. 2 anos antes da reeleição de Dilma, a UDR e a Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) haviam comandado o Movimento Nacional Contra o Monopólio dos Frigoríficos, com o objetivo de confrontar a concentração industrial crescente na cadeia de carne, que reduzia o preço da arroba do boi.

Para muitos dos bovinocultores, o fortalecimento de grandes frigoríficos — como JBS e Marfrig —, era fruto de estratégia do PT para expandir as posições internacionais dessas corporações.

Ao mesmo tempo, a UDR e outras lideranças da Frente Produtiva do Brasil questionavam a legitimidade da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), uma das mais importantes representações do agronegócio.

Essa reprovação atingiu ponto de ebulição com a articulação entre Dilma e a então presidente da CNA, a pecuarista e senadora Kátia Abreu (na época do MDB-TO, hoje do PP). Afinidades pessoais haviam ligado as 2 líderes, mas também interesses estratégicos.

A presidente tentava explorar divisões no agronegócio, enquanto a senadora, julgando Dilma razoavelmente sensível às agendas que representava, via chance de ampliar sua influência em Brasília. À frente da UDR, o pecuarista Luiz Antônio Nabhan Garcia protestou quando Kátia Abreu assumiu o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, acusando-a de trair o próprio segmento.

(*) Doutor em antropologia social pela Unicamp e autor de Formação Política do Agronegócio (Elefante), realizou estágios em nível de doutoramento e pós-doutoramento nas Universidades Harvard e Oxford, respectivamente. Publicado originalmente no portal Carta Maior

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