Para André Lara Resende, alta da Selic faria mais sentido se preços estivessem pressionados por uma forte demanda
Por Marta Watanabe, Valor — São Paulo
A natureza da inflação persistente enfrentada no país gera controvérsia entre economistas sobre o alcance da elevação da taxa de juros básica pelo Banco Central (BC) como forma de combate à alta de preços.
Para o economista André Lara Resende, o aumento da taxa de juros faria mais sentido quando a alta de preços é resultado de pressão de forte demanda, o que não é o caso. A inflação atual, avalia, vem de choques de oferta resultantes da pandemia, que trouxe desorganização de cadeias produtivas internacionais. Na saída da crise sanitária, alguns setores sofreram pressão de demanda muito grande. Um reflexo disso, exemplifica, são os portos nos Estados Unidos, que encontram-se com capacidade saturada e revelam limitações logísticas globais. Há ainda, diz ele, a pressão vinda de commodities e de produtos energéticos, cujos preços subiram no mundo inteiro.
Não se trata, diz Resende, de uma clássica inflação de demanda, mas sim de alta de preços provocada por gargalos específicos. Por isso, avalia, é “altamente questionável e equivocada” a ideia de que se consiga combater a inflação com a alta de juros, o que deve trazer ainda custos para crescimento e investimento. “Ao subir a taxa de juros, sobem os custos do carregamento da dívida pública, que é passivo do Estado e ativo do setor privado.”
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