A China foi citada como exemplo de projeto de desenvolvimento planejado.

por Carlos Pereira

O diretor de Educação e Tecnologia da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Rafael Lucchesi, declarou que há 40 anos não existe um projeto de país. O PIB brasileiro cresce a metade do crescimento dos países desenvolvidos. “O fosso tem aumentado”. As declarações foram feitas na mesa de discussões “Trabalhadores por um novo projeto de desenvolvimento”, promovida por José Pereira, líder metalúrgico, que foi durante 20 anos presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos. João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar em 1964, participou da mesa transmitida pela Agência Sindical. A conversa foi acompanhada por uma plateia de dirigentes sindicais e personalidades políticas, que interagiram com perguntas e considerações.

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Reprodução Agência Sindical

Lucchesi lembrou que ”já fomos bons” e que, durante 50 anos, de 1930 a 1980, fomos o país que mais cresceu no mundo. Assinalou que saímos de uma pequena economia agrário-exportadora para o 7º parque industrial, no final dos anos 70. “Crescemos mais que o Japão, a uma taxa de 7% ao ano”.

Segundo o diretor da CNI, “o Brasil mudou a matriz econômica (de uma consistente base industrial) para um rentismo improdutivo e exportação de commodities”. Ele afirmou que “a China buscou a agenda vencedora do Brasil, pegou o bastão da liderança no crescimento e se colocou como grande potência industrial focada na construção de uma moderna plataforma manufatureira”. Citou que “em 1980 o PIB da China era 1% do PIB dos EUA, no ano 2000 era 12% e hoje é 75%”.

Seguindo a exposição, assinalou que em 1980 a indústria era 50% do PIB, em 2009 era 27% e hoje é menos que 20%. “Temos problemas imediatos seríssimos: o preço dos insumos disparou, agravamento da crise energética, a inflação estourou e a taxa de juros aumentou muito o preço do dinheiro. O desemprego de 14,4 milhões de trabalhadores é uma questão muito grave. Temos uma depressão no consumo das famílias”.

Lucchesi citou ainda que estamos muito atrasados em produtividade e inovação. Conforme planilha da CNI, em 18 países que mais parecem com o Brasil, em produtividade somos o penúltimo. Em inovação estamos em 57º lugar, apesar de sermos a 12ª economia do mundo.

Para Rafael Lucchesi, apesar da queda da participação da indústria no PIB, são da indústria 70% das exportações, 33% dos tributos arrecadados e 29,7% da arrecadação previdenciária. “A agricultura, que é 5% do PIB, não paga impostos”, denunciou. 

Para se manter como nação é preciso uma forte base industrial

Luccheti, voltando ao tema sobre um projeto nacional, considera que o Brasil não pode se manter como nação sem uma forte base industrial”. “O risco de um esgarçamento social não é pequeno”, disse. Para ele, o Brasil perdeu a 3ª revolução industrial. Citou que “em 1980, o Brasil produzia 29 milhões de toneladas de aço e a China 36 milhões. Hoje, 40 anos depois, produzimos 34 milhões e a China 900 milhões de toneladas. Afirmou que a microeletrônica e as telecomunicações permitiram a mundialização da produção, e a China saiu vitoriosa nesse processo.

Estudos da CNI apontam que “na 4ª revolução, 50% das atividades de trabalho serão automatizadas até 2065. Serão destruídos 75 milhões de empregos”. O algorítimo e a inteligência artificial vão substituir muito do trabalho repetitivo e manual, afirmou. Mas, serão criadas 133 milhões de novas atividades”. Para o representante da CNI, não existe desemprego tecnológico.

Afirmou que “existe uma enorme guerra industrial. Os EUA gastam hoje 500 bilhões de dólares e a China 350 bilhões”. “O que vemos é a necessidade de domínio dessas novas tecnologias e de qualificação dos trabalhadores”.

O empresário avaliou que o Brasil está paralisado em sua revolução educacional. “Na nossa agenda temos o chamado custo Brasil, além da Educação, o financiamento, a infraestrutura, o preço do dinheiro – esses bancos expoliam as famílias e as empresas – e a ausência de uma política industrial”.

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“Desenvolvimento se alavanca na reindustrialização e na valorização do salário mínimo”.

João Vicente Goulart iniciou sua explanação ressaltando sua herança política:  “Minha origem é trabalhista. Nós damos prioridade ao poder aquisitivo dos trabalhadores. Meu pai, em 1954, era ministro do Trabalho e deu 100% de aumento para o salário mínimo porque o Dutra não tinha reposto nada da inflação durante seu governo. Jango, presidente da República, criou o 13º salário.

Para o filho de Jango, “o Brasil pós 2022 será um país destroçado pelos rentistas e pelas multinacionais. “ Bolsonaro é uma figura nefasta que precisa ser expelida do governo o quanto antes, senão, não vai sobrar muito. Foram fechadas 700 mil empresas, o desemprego campeia, volta da insegurança alimentar: É uma volta a antes da Revolução de 1930. Tínhamos, então, os barões do café, voltados totalmente para monocultura de exportação, hoje temos os barões do agronegócio”.

Todo mundo está falando num projeto de desenvolvimento. Ciro fala, Lula fala em alguns aspectos. Para Goulart, “realizar uma plataforma nacional desenvolvimentista só será possível com a unidade de todas as forças políticas brasileiras”. “Precisamos consolidar a aliança dos trabalhadores com o empresariado nacional”.

Resumiu: “Eu creio que um projeto de desenvolvimento terá que se alavancar na reindustrialização e na valorização do salário mínimo”. Na questão da reindustrialização temos que ter claro, o capital externo pode ser positivo, mas é transnacional e sai a hora que quiser sair, como fez a Ford recentemente”. Afirmou que a prioridade é “dar financiamento à empresa nacional”. 

Goulart considera que a Educação é um problema de Estado. “Hoje, a Educação está na mão de 3 ou 4 empresas estrangeiras”.

Afirmou ainda que “temos que discutir a vergonha das privatizações”. A Vale, por exemplo, com o que aconteceu em Mariana em Brumadinho mostrou que não tem o mínimo compromisso com o ser humano. E completou:  “Se a Petrobrás tem a melhor tecnologia de extração, refinarias suficientes para refinar todo o combustível que precisamos, por que a gasolina e o diesel estão atrelados aos preços internacionais? É para beneficiar os rentistas e as grandes petroleiras”, concluiu.

“Outra coisa é a dívida pública”, disse. “Tem que fazer o que Vargas fez. Uma auditoria. Tem que mexer com os bancos também. O ano passado pagamos de juros da dívida pública 300 bilhões de reais. Tem que fazer uma moratória e aplicar o recurso em questões sociais”, argumentou.

Fonte: Hora do Povo

https://vermelho.org.br/2021/11/11/debate-sobre-projeto-nacional-de-desenvolvimento-reune-trabalhadores-e-empresarios/