Funcionários explicam que prática disseminada apenas em bairros pobres visa evitar furtos ou desistências.

Bandeja de carne vazia entregue no Supermercado Extra do Jardim Ângela, na Zona Sul de São Paulo, na quinta-feira (14) — Foto: Reprodução/Facebook

Clientes do Extra do Jardim Ângela, na Zona Sul de São Paulo, denunciam nas redes sociais que o mercado entrega bandejas vazias de carne aos clientes até que o valor do produto seja pago no caixa.

A reportagem do g1 revela uma nova face do Brasil que se afunda na miséria, na fome e na intolerância gananciosa com práticas escandalosas como disputas por comida em caminhões de lixo, em depósitos de descartados de açougues ou mesmo venda de ossos e carcaças de animais abatidos a preços que muitos nem podem pagar. Os casos de mães presas por furtar alimentos para filhos também começam a aparecer. Vai se tornando inegável e visível a realidade da fome a cada cena nova que surge país adentro.

A reportagem mostra que a prática não é adotada em unidades da mesma rede localizadas em bairros nobres da capital, como a da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, próxima à Paulista.

Segundo os relatos, após escolher o produto e vê-lo ser pesado, o cliente recebe uma bandeja vazia com o código de barras. A carne pode ser retirada somente após o pagamento no caixa.

Segundo a denúncia de clientes, uma funcionária da loja disse que era para “evitar roubo”. Com isso, vão se naturalizando práticas violentas contra populações periféricas, que escandalizam mundo afora. Alimentos comuns na cesta básica dos trabalhadores vão se tornando artigos de luxo inacessíveis. Segundo pesquisa Datafolha de setembro, 67% dos entrevistados deixaram de consumir carne.

Em nota, o Extra disse que “o procedimento não faz parte de sua política de atendimento” e que a loja tomou “providências para que a prática fosse imediatamente descontinuada”. A empresa disse ainda que a conduta é uma “falha pontual de procedimento”. Após ser confrontado com a disseminação da prática, a rede não respondeu à reportagem, emitindo nova nota repetindo o argumento de “falha de procedimento”.

Apesar disso, os jornalistas estiveram em outra unidade, nesta segunda-feira (18), e, ao solicitar meio quilo de fraldinha, só recebeu a etiqueta. Depois do pagamento da compra, a funcionária do caixa foi buscar a carne no açougue. Questionada, uma funcionária disse que a prática ocorre porque as pessoas pesam a carne e desistem de comprar, e também para evitar roubos.

Nas redes sociais, clientes dos mercados Extra dos bairros Piraporinha, Avenida Cupecê, Cohab 2 e Belezinho, além da unidade Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, também relataram o mesmo procedimento.

Fonte: VERMELHO

https://vermelho.org.br/2021/10/18/na-periferia-paulistana-mercado-extra-so-entrega-carne-depois-de-paga/