Jornais lucraram com publicidade de uma “Associação Médicos pela Vida” defendendo medicamentos sem comprovação científica para tratamento viral. “Não existe tratamento precoce contra a Covid-19”, alertam deputados

Jornais de grande circulação divulgaram publicidade assinada por um grupo médico defendendo tratamento precoce para a covid-19, mesmo sem qualquer comprovação científica. Parlamentares condenaram a divulgação e o lucro com a disseminação de fake news.

Ao menos sete jornais de grande circulação – Folha de S.Paulo (SP), O Globo (RJ), Jornal do Commercio (PE), Estado de Minas (MG), Correio Braziliense (DF), Jornal Correio (BA), O Povo Online (CE) e Zero Hora (RS) –  divulgaram nesta terça-feira (23) um informe publicitário em defesa de “tratamento precoce” contra a Covid-19.

O texto, assinado pela Associação Médicos pela Vida”, defende o uso de um “coquetel de medicamentos”, que pode incluir hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, zinco, vitamina D, azitromicina e corticosteroides para conter a doença. O uso dos medicamentos já foi descartado pela comunidade científica e médica para o tratamento da doença por não demonstrarem em diversos estudos clínicos a capacidade de barrar o vírus, prevenir a doença ou tratá-la, podendo causar efeitos colaterais graves.

Parlamentares do PCdoB condenaram a postura dos veículos de comunicação e lembraram que não existe tratamento precoce contra a Covid-19. Em vez disso, médicos afirmam que o tratamento deve ser individualizado e pode, em alguns casos, incluir o uso de antibióticos (quando a infecção viral abre caminho para uma infecção bacteriana) e corticoides, que já demonstraram em pesquisas a capacidade de reduzir mortes pela doença em pacientes graves.

“Os principais jornais da grande mídia aceitaram publicar um anúncio enorme ($$$$) de um tal grupo “Médicos pela Vida” que defende tratamento precoce contra Covid-19. NÃO EXISTE TRATAMENTO PRECOCE”, alertou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) também lamentou a divulgação de fake news pelos jornais e cobrou retratação. “Lamentável a atitude dos jornalões que aceitaram divulgar publicidade de tratamento inexistente contra a Covid. A troco de 30 moedas, publicaram as fake news que tanto criticam. Em respeito aos quase 250 mil mortos, deveriam se retratar”, destacou.

A presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) Gulnar Azevedo, médica e professora no Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), afirmou que o anúncio é lamentável. Para ela, o anúncio confunde a população, passa uma informação que não é verdadeira e induz respostas indesejadas em um momento em que a pandemia faz o país registrar mais de 30 dias seguidos com a média móvel acima de mil casos por dia.

Os coordenadores do protocolo são médicos pernambucanos, um oftalmologista, Antônio Jordão de Oliveira Neto, e uma especialista em medicina nuclear, Cristiana Altino de Almeida, que recusam entrevistas sobre o assunto. Eles também defendem petição contra a obrigatoriedade das vacinas. Nenhum deles é infectologista.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) já rejeitaram a utilização da hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina no cuidado de pessoas que tenham sido contaminadas pelo coronavírus, uma decisão que é corroborada por instituições como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa, e mesmo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No caso da ivermectina, o próprio laboratório que originou o medicamento, nega sua eficácia contra o novo coronavírus.

O governo federal e o Ministério da Saúde, que já defenderam o uso do ‘kit Covid’ abertamente, hoje evitam o tema devido à investigação pelo Ministério Público Federal, que também cobra do Exército e da Aeronáutica detalhes dos recursos financeiros usados na produção e na distribuição de cloroquina. A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, enviou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, uma notícia-crime contra Bolsonaro por distribuir cloroquina no tratamento da Covid-19.

Com informações da Liderança do PCdoB na Câmara.

Disponível em: https://vermelho.org.br/2021/02/24/deputados-criticam-publicidade-de-tratamento-precoce-contra-covid/