Por Bruno Villas Bôas, Valor PRO — Rio

Com famílias inteiras cumprindo quarentena, muitas com a dispensa da empregada doméstica, a divisão dos afazeres de casa tende a sobrecarregar ainda mais as mulheres, se mantida a divisão de tarefas existente antes da pandemia, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), referente a 2019, as mulheres que trabalham dedicam em média 18,5 horas para afazeres domésticos e cuidados de pessoas da famílias, especialmente os filhos. Homens empregados dedicam 10,4 horas para essas atividades.

Esses afazeres são cozinhar e lavar louça, cuidar da limpeza de roupas, realizar pequenos reparos em casa, limpar a residência e o quintal, pagar contas, fazer compras e cuidar dos animais domésticos. Em geral, homens têm participação mais elevada para pagar contas, fazer reparos e compras para o domicílios.

Desta forma, a jornada semanal feminina demandava 53,3 horas semanais em 2019, sendo 34,8 horas de emprego e as 18,5 horas de cuidados da casa e das pessoas. No casos dos homens, essa jornada ocupa em média 50,3 horas semanais, sendo 10,4 horas de cuidados em casa. Esses dados consideram apenas pessoas ocupadas com 14 anos ou mais de idade.

“Os homens tendem a trabalhar mais horas do que as mulheres, enquanto elas dedicam mais tempo aos afazeres de casa”, disse Alessandra Brito, analista da pesquisa do IBGE. “Como as mulheres dedicam muito tempo ao trabalho doméstico, é esperado que isso afete o tempo disponível para trabalhar fora de casa”.

Do total das mulheres, 92,1% realizaram afazeres domésticos no ano passado, de acordo com a pesquisa. Essa proporção era de 78,6% para os homens no ano passado. No caso dos homens, a taxa tem subido ano após ano. Em 2018, 78,2% dos homens realizavam algum afazer doméstico.

No caso dos cuidados de pessoas da família (como filhos e idosos), 36,8% das mulheres declararam realizar esses cuidados. Na maioria dos casos, são cuidados de crianças de zero a 14 anos de idade. No caso dos homens, essa taxa era de apenas 25,9% no ano passado.

A pesquisa chama atenção para o fato de filhas (84,4%) serem mais demandadas do que filhos ou enteados (66,5%) para realizar afazeres domésticos. Com uma distribuição desigual dos cuidados de casa desde a infância, a dupla jornada feminina tende a se perpetuar.

Informações anteriormente divulgadas pelo Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico