Ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro lamenta a vulnerabilidade dos moradores de bairros mais pobres e o acesso desigual ao atendimento médico

Periferia - Léu Britto_ Dicampanha Foto Coletivo

O Ministério da Saúde reconheceu que os casos de Covid-19 seguirão crescendo e que não há perspectiva no momento de estabilização ou redução do avanço da doença.

A pandemia do coronavírus no Brasil agora vai chegando à fase da pauperização. Além da interiorização para as cidades de menor porte, a doença arrasa as periferias das metrópoles brasileiras, onde crescem não apenas os casos, mas as mortes decorrentes do Covid-19.

Em São Paulo, os 20 distritos mais pobres registraram aumento médio de 170% das mortes em rês semanas e acumularam 1.279 dos 4.874 óbitos ocorridos em toda a cidade até o último sábado (8). Apenas Marsilac, no extremo sul da cidade, não teve crescimento superior a 100% nos registros.

Esses bairros também são os que possuem menos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com um máximo de oito para cada 100 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 30 para cada 100 mil. Na capital paulista, 60% dos leitos de UTI estão concentrados em três distritos: Sé, Vila Mariana e Pinheiros, os dois últimos, de classes média e alta.

“Semanalmente o número de mortos, tanto confirmados quanto suspeitos, vocês veem que começa na zona central da cidade, mas vai aumentando muito na periferia, Brasilândia, Grajaú, Sapopemba, Cidade Tiradentes, mostrando o quanto isso está se disseminando na periferia e isso se concentra nas áreas que temos favela na cidade de São Paulo”, disse o prefeito Bruno Covas em coletiva no começo do mês.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro manifestou preocupação com a situação. “É a efetiva ‘periferização’ das mortes de Covid-19, revelando toda vulnerabilidade da nossa população e a gravidade do quadro”, lamentou Chioro, médico sanitarista que comandou a pasta da Saúde entre 2014 e 2015, no governo Dilma.

Segundo o ex-ministro, os moradores de periferias são pessoas que vivem com piores condições sanitárias e têm estrutura habitacional muito mais frágil para poder fazer o isolamento preventivo ou quando houver casos na própria família. “Não têm condições, às vezes, de acesso a produtos de higiene, material de limpeza de roupas, poder separar talheres, roupas de cama. Às vezes dormem na mesma cama e, portanto, potencializa o processo de disseminação da doença”, detalha Chioro.

Para o médico infectologista e diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo Gerson Salvador, o crescimento do número de mortes em bairros de periferia evidencia a desigualdade não apenas social, mas também na assistência à saúde.

“A gente está vendo o número de mortos crescendo desproporcionalmente nos bairros mais pobres. Isso reflete uma iniquidade de acesso à saúde”, critica Salvador, lembrando que as regiões periféricas têm um contingente de pessoas que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A gente sabe que outras doenças de transmissão respiratória, por exemplo a tuberculose, acometem de maneira desproporcional as pessoas que vivem na rua, em cortiços e em favelas”, observa. “O risco de transmissão da Covid-19 em pessoas que vivem nessas condições vai ser maior. A falta de assistência e as condições de vida acabam resultando num número desproporcional de mortes na população mais pobre”, aponta o médico.

PT Nacional