Por Isabel Filgueiras e Fernando Torres, Valor Investe — São Paulo

Apesar de anunciada há poucos dias, talvez já tenha ficado claro para o consumidor que a nova modalidade de financiamento imobiliário oferecida pela Caixa Econômica Federal impõe um risco elevado para o mutuário — e também para o banco, por eventual inadimplência —, em caso de descontrole inflacionário ao longo do período do empréstimo, que pode chegar a 30 anos.

Mas o consumidor precisa saber que a troca de modalidade de financiamento pode ser mais arriscada mesmo que a inflaçãopermaneça comportada.

Conforme anúncio feito na terça-feira, as novas linhas da Caixa preveem a cobrança de juros que vão variar de 2,95% a 3,95% ao ano, mais a correção do saldo devedor pela inflação medida pelo IPCA. Atualmente, as linhas tradicionais do banco possuem juros anuais a partir de 8,50%, mais a correção pela Taxa Referencial (TR), no momento em zero.

Como se noticiou nos últimos dias, um dos problemas do modelo é que ele transfere o risco da inflação do banco para o cliente — num país com histórico recente de inflação ainda inconstante.

Em resumo, com o novo financiamento a Caixa oferece uma troca. O comprador consegue juros mais baixos, mas aceita se submeter aos altos e baixos da inflação oficial.

Mas como será o comportamento das parcelas, nas diferentes modalidades, em um cenário de inflação controlada? No gráfico que acompanha essa matéria o leitor encontra uma simulação de como ficariam as parcelas mensais, ao longo do tempo, em três exercícios de comportamento de inflação futura, e com os juros no meio do intervalo divulgado pela Caixa, de 3,95% ao ano.

Todos os cenários têm como base a inflação de 3,50% ao ano nos próximos cinco anos — índice próximo ao nível atual em 12 meses, e em linha com a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2022, e que se espera que não suba.

A partir do sexto ano, num governo que não se sabe qual será, a inflação anual cairia para 2% ao ano no cenário 1 (num padrão de país desenvolvido), ficaria nos 3,50% ao ano no cenário 2, e subiria para 4,50% ao ano no cenário 3, o que ainda se pode chamar de inflação controlada. Essas novas taxas seriam constantes até o fim do financiamento, que no exemplo é de 30 anos.

Em contraposição a estes três cenários, trazemos também o comportamento das parcelas no financiamento com juros de 8,50%, mais a TR zerada.

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