“O diário britânico, que expressa os interesses dos capitais financeiros globais, publicou um artigo no qual afirmou que ”a crise monetária do país se reavivou e o rendimento dos bônus aumentaram, colocando em risco não só o programa do FMI para a Argentina como também a reputação do órgão e da sua líder”, em referência à diretora-gerente Christine Lagarde.”

 
O tempo passa e pressiona tanto o governo argentino quanto o Fundo Monetário Internacional (FMI). A paciência dos mercados está no limite, e a desconfiança é uma constante. São apenas alguns conceitos do duro artigo publicado nesta terça-feira (14) pelo diário britânico Financial Times, um dos mais influentes porta-vozes do establishment financeiro a nível global. “O FMI colocou sua reputação em risco na Argentina”, é o título do texto, assinado pelos colunistas Colby Smith e Benedict Mander. Os autores analisam com preocupação a grave crise econômica local e a deterioração da imagem de Mauricio Macri, mas, sobretudo, alertam sobre um possível fracasso do programa de resgate do órgão com o país, iniciado há exatamente um ano (maio de 2018). Um resultado negativo que poderia afetar fortemente a figura de sua diretora-gerente, a economista francesa Christine Lagarde, e levar a um grave prejuízo na já golpeada confiabilidade do organismo de crédito.

“Alguns temem que este, o maior resgate da história do Fundo, está se enfraquecendo, e não poderia sobreviver a uma sacudida eleitoral”, alerta o Financial Times, diário que aplaudia as políticas neoliberais do governo de Macri, anos atrás, e que agora, diante do inegável fracasso, se mostra crítico pelos resultados. “O FMI nunca deveria ter emprestado tanto dinheiro a um país como a Argentina, mesmo em meio a este cenário”, opina a publicação. Esse compromisso, segundo os articulistas, deixa expostos o próprio organismo e suas autoridades. “A crise monetária do país se reavivou e o rendimento dos bônus aumentaram, colocando em risco não só o programa do FMI para a Argentina como também a reputação do órgão e da sua líder”, em referência à diretora-gerente Christine Lagarde.

O maior perigo apontado pelo Financial Times é o possível retorno de Cristina Fernández de Kirchner ao poder, em função da decepção da população com o atual governo macrista, o que é visto pelo diário como um risco para os interesses dos capitais financeiros: “o programa do FMI poderia colapsar se a oposição populista, encabeçada pela ex-presidenta esquerdista Cristina Fernández de Kirchner, vencer as eleições presidenciais de outubro”. E completa: “Lagarde se arriscou neste caso”.

“Quando o FMI completou sua terceira revisão da economia da Argentina, no início de abril, a diretora-gerente elogiou as políticas governamentais vinculadas ao resgate recorde de 56 bilhões de dólares, e assegurou que estavam `tendo resultados´”, conta a publicação. E agrega: “menos de um mês depois, o país vive em meio a sombrias perspectivas políticas para o presidente Mauricio Macri. Se Cristina vencer as eleições, o cenário será devastador para o FMI, devido ao forte apoio dado a Macri”.

O diário destaca uma declaração de William Rhodes, ex-alto executivo da Bolsa de Londres: “este é o maior programa individual já apresentado (pelo FMI), e por isso sua reputação está em jogo”. Outra voz de preocupação é a de Claudio Loser, ex-alto funcionário do Fundo, também preocupado pela imagem do organismo. “Lagarde realmente se arriscou com este programa, ela o tem apoiado com todo o coração”, disse Loser, que em 2001 foi chefe do departamento do FMI para o hemisfério ocidental. Ele acrescenta que “um fracasso do programa levaria a uma perda de credibilidade importante (do órgão)”.

“Os planos já se desviaram significativamente do seu curso, com Macri sendo obrigado a voltar ao FMI para renovar o acordo apenas três meses depois do convênio original, apresentado em maio do ano passado. Em setembro, o FMI anunciou que emprestaria 7,1 bilhões de dólares adicionais, o que permitiria ao país receber um maior adiantamento, em troca de um programa de austeridade mais severo”, explica o artigo. “O acordo obrigava a Argentina a executar um orçamento equilibrado em 2019, e reduzir seu déficit externo. Em ambos os aspectos, o país teve sucesso”. Contudo, o texto também lembra dos grandes problemas pendentes, com a alta da inflação e dos índices de pobreza.

Além disso, os colunistas destacam a tumultuada relação da Argentina com o FMI. “Poucos se esquecem do desastroso final do último programa da Argentina com o FMI: dois meses antes da moratória decretada em 2001, o país pediu ao Fundo um novo empréstimo, de 8 bilhões de dólares, a maioria dos quais foram utilizados para comprar pesos a investidores institucionais que queriam fugir da Argentina”. Por isso, o Financial Times indica, agora, que um novo fracasso semelhante àquele, que levou ao corralito, seria um duro golpe para o FMI.



 Fonte: I21 via Página/12 e Carta Maior | Tradução de Victor Farinelli