Os cem dias de Bolsonaro à frente do governo do Brasil é um dos temas da mídia internacional nesta quarta-feira (10), assim como as chuvas torrenciais no Rio com a morte de 10 pessoas. Reuters fala em “caos” e da tempestade que o prefeito descreveu como “absolutamente anormal”. Outros destaques são o plano de demissões anunciado pela Ford em Camaçari, na Bahia. As declarações de Bolsonaro na Jovem Pan também continuam a repercutir na mídia estrangeira. 

Por Olímpio Cruz

Reprodução: DW
 O alemão DW chama Bolsonaro de " Messias com insegurança" O alemão DW chama Bolsonaro de " Messias com insegurança"
Atenção à ampla cobertura sobre o Brasil no jornal francês Le Monde, que aborda o governo Bolsonaro como um problema para o país. Em editorial o diário apresenta Bolsonaro como “o Trump dos trópicos”. 

O jornal avalia que, três meses depois de ter tomado posse, “o presidente brasileiro parece não estar tomando a medida de suas responsabilidades, abordando seu eleitorado mais radical e esquecendo o resto do país, que enfrenta desafios assustadores”.

O diário francês afirma que, depois de um trimestre caótico ao leme do Brasil, Bolsonaro “entra em colapso nas pesquisas”. Diz que ele “colhe o pior desempenho no início de seu mandato, em situação pior que seus inimigos de esquerda, Lula e Dilma Rousseff”.

Ainda no Le Monde, reportagem da correspondente Claire Gatinois informa que o lobby evangélico se sente abandonado por Bolsonaro. Católico, o chefe de estado brasileiro foi eleito graças ao apoio das igrejas pentecostais, que hoje instigam o controle militar sobre o governo. 

Outra reportagem do mesmo jornal ressalta que Bolsonaro não pretende se apresentar como chefe de Estado, pronto a unir o país. “Confirmando sua reputação como `Trump dos Trópicos´, ele é rápido para castigar os inimigos eternos: o socialismo, mídia ou os direitos humanos, defendendo os criminosos à custa dos cidadãos de bem.

Em outro texto, o jornal destaca que a reforma previdenciária foi prejudicada pelos excessos de Bolsonaro. Relutantemente, ele apoia a sua política de reformas das pensões, consideradas essenciais para um país cuja dívida ultrapassa os 90% do produto interno bruto.

Por fim, a cobertura sobre o país neste que é um dos principais jornais da França trata da denúncia de líderes indígenas brasileiros, que acusam o presidente brasileiro de promover um “apocalipse” para os povos originários do país. 

Os índios apelam: “Desde a eleição de Jair Bolsonaro, vivemos o início de um apocalipse”. Treze representantes de povos indígenas de diferentes nações, incluindo os da Amazônia brasileira, pedem a proteção do “sagrado” da natureza e se opõem aos projetos de Bolsonaro.

Em despacho, Agence France Presse reporta os primeiros meses do governo Bolsonaro destacando que “o presidente de extrema direita” alcançará na quarta a marca simbólica de cem dias à frente do Brasil, mas que parece nunca ter conhecido o estado de graça normalmente desfrutado por um recém-eleito chefe de Estado.

“O mínimo que podemos dizer é que o começo do prazo é decepcionante”, diz Thomaz Favaro, da Control Risks. “Houve um equívoco de que ele tinha uma base sólida de apoio, mas acho que percebemos que essa base não é tão forte quanto pensávamos”, acrescenta. Segundo a AFP, apesar dos “excessos racistas e homofóbicos” contra adversários, Bolsonaro tem atraído milhões de eleitores com seu discurso de segurança e sua promessa de erradicar a corrupção.

Der Standard

No alemão Der Standard, reportagem fala que, depois de cem dias no governo, há “medo e desilusão” no Brasil com Bolsonaro. O jornal reporta que o líder brasileiro, apresentado como “um populista de direita”, anunciou que queria tornar o Brasil mais seguro e criar empregos. “Em vez disso, elogia a ditadura militar e envergonha o país no exterior”.

O texto diz que, mesmo entre seus eleitores, a euforia há muito se transformou em desilusão profunda. A prometida recuperação econômica não veio. Em vez disso, o governo, que é dominado pelos evangélicos militares e ultraconservadores, é mencionado por incompetência, escândalos e lutas internas pelo poder. 

Também na alemã 2DF, outro texto fala que “o presidente populista de direita do Brasil” não teve um bom começo. “Seus primeiros 100 dias foram marcados por mudanças de direção e desistências”. A Nau, órgão da mídia suíça, aponta que os cem dias de governo Bolsonaro são marcados pela violência policial e que a destruição ambiental está em ascensão. “Milhões estão desempregados e a taxa de homicídios é alta”, destaca.

Reportagem da AP trata dos 100 dias do governo Bolsonaro, apontando que o líder brasileiro conseguiu manter animada sua “base de extrema direita”. Desde o início do seu governo, seu mandato foi marcado por “lutas internas em sua administração”, “insultos a adversários e aliados”, “elogios à ditadura brasileira de 1964-1985” e à escassez de leis aprovadas pelo Congresso. O extenso material com o balanço do governo é reproduzido em mais de 5 mil sites de notícias pelo mundo, incluindo jornais influentes como o Washington Post e Miami Herald.




A agência católica de notícias alemã KNA informa que Bolsonaro se propôs a tirar o Brasil da miséria econômica e moral, mas nos seus primeiros 100 dias como presidente fez mais polêmica do que política. 

“No domingo à noite, Jair Messias tuitou novamente com ‘hahahaha’, comentou uma pesquisa que mostrou que apenas 58 por cento dos seus compatriotas classificam-no como ‘muito inteligente’, muito menos do que seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff”. 

Diz a reportagem: “Em geral, Bolsonaro, que assumiu o cargo em 1º de janeiro, não se sai bem. Sua vitória esmagadora em outubro foi pouco eufórica, sua avaliação de 100 dias é a pior de todos os presidentes eleitos nos últimos 30 anos”. 

O jornal russo Kommersant destaca que Bolsonaro não descarta invasão militar da Venezuela. Na entrevista à Jovem Pan, o brasileiro “prometeu até criar uma base militar americana em seu país”. A Gazeta Russa destacou que Bolsonaro “esclareceu que coordenaria [a invasão] com seus colegas americanos”.

Reuters repercute a entrevista em Bolsonaro disse que está trabalhando com o governo dos EUA para semear a dissidência dentro do Exército venezuelano. Na entrevista à Rádio Jovem Pan, ele disse que, se houver uma invasão militar na Venezuela, pedirá a opinião do Conselho de Defesa Nacional e do Congresso sobre a ação. Russia Today também reporta que Bolsonaro fala em criar “rachas” nas forças armadas de Maduro. 

“Não podemos permitir que a Venezuela se torne uma nova Cuba ou a Coréia do Norte”, disse o presidente da direita. Bolsonaro disse que, se qualquer intervenção militar de fato depor o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, é bem provável que o país veja a guerra de guerrilha travada pelos defensores de Maduro e quem quer que assuma o poder. O despacho da Reuters é replicado por 3.760 veículos noticiosos ao redor do mundo.

Reuters publica ampla reportagem sobre a explosão da guerra de gangues nos presídios brasileiros, um problema para o governo Bolsonaro. O despacho é produzido a partir de Porto Alegre e aponta que a população encarcerada no Brasil aumentou oito vezes em três décadas. Hoje são 750 mil presos, a terceira mais alta do mundo. O texto fala que as gangues de prisioneiros passaram a exercer um vasto poder que vai muito além das muralhas da prisão. 

A promessa de Bolsonaro de reprimir a escalada do crime colocou-o em rota de colisão com as gangues da cadeia. Em uma estratégia detalhada para a Reuters pela primeira vez, autoridades de segurança disseram que planejam isolar chefes de gangues, aumentar a vigilância, construir mais bloqueios e mobilizar forças federais para os sistemas penitenciários estaduais sitiados. O material já foi replicado em mais de 780 sites noticiosos ao redor do mundo.

No cenário econômico, Reuters noticia que a unidade da Ford anunciou que está iniciando um programa voluntário de demissão de sua fábrica em Camaçari, na Bahia, com o objetivo de reduzir a força de trabalho. A empresa em seu comunicado não informou quantas pessoas esperava dispensar. Ford disse anteriormente que a fábrica estava operando com cerca de 700 trabalhadores excedentes. A planta emprega 7.400 pessoas em Camaçari, onde produz o compacto Ka e o tamanho médio EcoSport SUV.
Vermelho