Antes esperançosos, congressistas desistem de esperar acenos do presidente

Em 4 de dezembro, Jair Bolsonaro afirma que, “antes de mandar qualquer projeto para a Câmara”, iria “ouvir no Planalto as lideranças”

Em 10 de dezembro, ele é diplomado presidente e chama Rodrigo Maia de seu companheiro

Em 20 de fevereiro, entrega a reforma da Previdência à Câmara e diz aos deputados que é igualzinho a eles. “Eu errei no passado”, redime-se, apelando aos ex-pares que o ajudem a aprovar a proposta. “A nova Previdência será justa e para todos. Sem privilégios”, promete.

O texto é recebido com uma dose de resistência. Nos corredores, deputados dizem que foi enviado cheio de gordura para queimar. Enchem-se de expectativa. O presidente, igualzinho a eles, vai recebê-los no palácio, pedir por favor, fazer selfies e disponibilizar cargos. 

Não aconteceu como esperavam.

O Planalto resolve apelidar indicações políticas de “banco de talentos”

O ministro Onyx Lorenzoni, egresso da Câmara como o presidente, igualzinho a eles, diz que “não tem nada de errado um senador ou deputado conhecer um técnico de excelente reputação” para indicar.

Os cargos disponíveis chegam ao conhecimento de deputados e senadores, que os recusam. Os melhores já estão ocupados.

Onyx vai para a Antártida.

Em 20 de março, Bolsonaro envia a proposta de reforma da Previdência dos militares, mais branda. “Levem em conta o que nós [militares] perdemos lá atrás”, justifica“Eu, no fundo, não gostaria de fazer a reforma da Previdência”, admite. 

Congressistas desistem de esperar qualquer gesto de Bolsonaro.

Maia esbraveja que não vai mais negociar pelo governo uma base para aprovar a medida. 

O presidente responde que não deu motivo para o seu companheiro deixá-lo e o promove a namorada

“Quando ela quis ir embora, o que você fez para ela voltar? Não conversou?”, compara. “Eu o perdoo.”

Na nova política, promete-se o que não se cumpre, e critica-se o que se pratica.

Thais Bilenky
Folha de S.Paulo