Após protestos, presidente do Chile se distancia das posições do brasileiro no dia seguinte à visita

Sylvia Colombo
SANTIAGO

Neste domingo (24), dia seguinte à visita oficial do presidente Jair Bolsonaro ao Chile, Sebastián Piñera marcou distância de frases ditas pelo brasileiro sobre as ditaduras latino-americanas “com as quais não concorda”, disse a jornalistas, apesar de elogiar outras qualidades.

Indagado sobre quais seriam as frases, Piñera citou “Quem procura osso é cachorro”, uma das que estampavam cartazes de protesto de grupos de direitos humanos que pediam que Bolsonaro deixasse o Chile.

Frases como a que citou “são tremendamente infelizes”, disse Piñera. “Não compartilho muito do que Bolsonaro diz sobre o tema.”

Nos dois dias da visita, houve protestos contra o brasileiro, do lado de fora do palácio de La Moneda e em pontos da cidade, feitos por estudantes, organizações de direitos humanos e feministas. A isso Bolsonaro respondeu: “Protestos assim existem onde quer que eu vá, mas o importante é que, no meu país, fui eleito por milhares de brasileiros”.

Em 2018, após o triunfo de Bolsonaro, Piñera disse que o brasileiro havia obtido “uma enorme vitória”, algo que voltou a repetir publicamente, em tom elogioso, no último sábado (23).

No entanto, depois das felicitações no ano passado, Piñera disse ter “discrepâncias profundas em algumas áreas e coincidências importantes em outras”, sendo estas “os temas de modernização da economia e de recuperação de equilíbrios fiscais”.

“Obviamente, essas afirmações sobre condutas homofóbicas e pouco respeitosas em relação às mulheres são afirmações com as quais eu definitivamente não estou de acordo”, afirmou à época.

Piñera condena a ditadura pinochetista (1973-1990) e sempre fez questão de dizer que votou pelo “não” no plebiscito de 1989 que decidiu a continuidade do regime militar. Já Bolsonaro fez elogios públicos ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e, mais recentemente, ao general Alfredo Stroessner, ditador do Paraguai entre 1954 e 1989.

Neste domingo, Piñera voltou a defender o Prosulbloco criado em Santiago na sexta (22), e reafirmou não ser bloco “de países de direita”. Disse que, apesar de Uruguai e Bolívia não assinarem a declaração conjunta, ambos continuam convidados a fazê-lo. Segundo ele, só a Venezuela está fora, “por não cumprir com o requisito de ser um país democrático e com respeito aos direitos humanos”. 

A respeito de sua posição política, Piñera quer ser identificado como de “centro-direita mais diversa, mais tolerante, mais moderna e sintonizada com a cidadania”.

Folha de S.Paulo