Saiu nesses dias uma pesquisa da CNT/MDA sobre a aprovação do governo federal e as expectativas do povo sobre o futuro de Bolsonaro. As manchetes pró-governo estampam a vitória dos 57% de aprovação, melhor marca desde as jornadas de junho de 2013 e da incessante crise política que o Brasil enfrenta desde então. Essas manchetes mascaram a tragédia anunciada que está por vir e as dificuldades que esse governo encontrará.

Por Leonardo Guimarães*

 
A pesquisa indica que 39% avaliam o início do governo como positivo. Pior resultado de avaliação do início de governo dos últimos três presidentes eleitos. FHC (57%, em 1995), Lula (56,6%, em 2003) e Dilma (49,1% em 2011). Todo governo quando começa, goza de certa confiança das pessoas e, em especial um que se coloca contra "tudo que está aí", deveria ser mais bem avaliado. Parece que a desconfiança está chegando mais rápido que esperávamos.

O governo começa cambaleando. É escândalo atrás de escândalo, tudo bem explorado pela Rede Globo. Caixa 2 no gabinete do filho, candidato laranja, ministro caindo, áudios vazando, desentendimento entre os setores do governo. Pra quem esperava uma governabilidade simples por conta da adesão da grande mídia às pautas neoliberais, uma boa surpresa.

Permanece a guerra do clã Bolsonaro X a Farda X indicações da bancada da Bíblia X a Toga X PSL e a base de apoio na câmara X o Mercado de Paulo Guedes. São muitos setores, vários ministros despreparados brigando por espaço e pela condução do governo. Um ministro caiu mais cedo que em todos os outros governos. Bolsonaro considera já mudar de partido indo pra UDN, com o desgaste com Bebiano e o envolvimento do presidente da sua legenda (PSL) em escândalos. O governo já foi derrotado na Câmara dos Deputados pela oposição no que toca à publicidade de documentos oficiais. Na pesquisa CNT/MDA, 75,1% avaliam que familiares, independentemente de serem ou não políticos, não devem influenciar um presidente da República nas suas decisões de governo. Carlos Bolsonaro virou "Tonho da Lua". Os corredores do planalto andam exaltados. É dedo na cara e gritaria.

A pesquisa indica que medidas importantes do governo não tiveram aceitação popular. O salário mínimo em R$ 998 contou com 66,9% de desaprovação. O decreto que flexibiliza a posse de armas conta com 42,9% de aprovação e 52,6% de rejeição. A discussão sobre a reforma da Previdência tem 43,4% de aprovação e 45,6% desaprovação. As privatizações das estatais tampouco gozam de apoio popular.

Mesmo com forte propaganda desde Temer, a Reforma da Previdência, principal pauta do governo, não ganha adesão do povo. No auge do governo Temer, foi a Reforma da Previdência que uniu centrais sindicais e o povo para dar uma forte resposta nas ruas. Parece que as centrais sindicais já indicam um novo dia de greve geral no Brasil contra a reforma. Quando as maldades da proposta forem desnudadas, o índice de aprovação da reforma cai e, se tudo der certo, a lua de mel do povo com Bolsonaro vai começar a ser questionado.

Na educação, as coisas não vão bem. As declarações do Ministro da Educação parecem constranger o governo que a todo momento volta atrás. Enviou email para as escolas com slogan de campanha do governo mandando filmar menores sem autorização dos pais, a ação foi defendida pela Ministra da Família e no dia seguinte o MEC volta atrás e pede desculpas. Parece que Ministro não sabe bem o que está fazendo. Os setores militares estão cada vez mais de olho na pasta.

"Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude.", diria famoso escritor italiano Giuseppe Tomase di Lampedusa. A esperança da mudança radical com Bolsonaro é grande ainda, mas pelo caminhar da recuperação econômica e da retomada dos empregos, as coisas permanecem iguais. Essa contradição uma hora vai estourar. Vamos esperar. E lutar muito para retomar maioria no povo.


*Leonardo Guimarães é estudante da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ e Diretor de Universidades Públicas da UNE
Vermelho