Decisão era consenso entre especialistas, mas deve provocar a ira de Trump, que pedia estabilidade

Danielle Brant
NOVA YORK

O banco central americano decidiu por unanimidade, nesta quarta-feira (19), subir pela quarta vez neste ano os juros nos Estados Unidos, levando a taxa para a faixa entre 2,25% e 2,5% ao ano, o maior patamar em quase 11 anos.

Nas projeções econômicas divulgadas com o comunicado, o Fed reduziu para duas a previsão de aumento de juros em 2019 --antes, a estimativa era de três altas.

Foi o nono aumento de juros desde que o Fed começou a normalizar sua política monetária, em dezembro de 2015.

No comunicado, o banco central americano ressaltou que aumentos graduais nos juros são consistentes com a expansão sustentada da atividade econômica, com as condições sólidas do mercado de trabalho e com a inflação próxima da meta de 2% ao ano no médio prazo.

Os Estados Unidos estão criando vagas de emprego há 98 meses consecutivos. Desses, somente em 12 a geração de postos ficou abaixo de 100 mil --e nenhum deles em 2018. O desemprego no país está em 3,7%, menor nível em 49 anos –para 2019, os membros do banco central veem a taxa caindo para 3,5%.

No país, o núcleo do indicador de inflação acompanhado pelo Fed está em torno de 2% ao ano, que é a meta estabelecida pelo banco central americano.

O Fomc (comitê de política monetária) julga também que os riscos para a economia estão equilibrados, mas disse que vai continuar a monitorar o cenário econômico e financeiro global e a analisar suas implicações ao panorama econômico.

Segundo o Fed, a economia americana vai crescer 3% neste ano, e 2,3% em 2019. A autoridade monetária não é a única a desenhar uma desaceleração nos EUA.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta um crescimento do PIB de 2,9% neste ano, mas uma expansão de 2,5% no próximo. Um aumento de juros costuma afetar a expansão dos países, por enxugar dinheiro da economia que poderia ser gasto com consumo ou em investimento produtivo.

A decisão do Fed já era consenso entre os analistas, mas deve provocar a irritação do presidente americano, Donald Trump. Ele avalia que, com as altas, o Federal Reserve (Fed) pode prejudicar os esforços de recuperação da economia americana.

Na terça-feira (18), Trump escreveu em uma rede social: “Sinta o mercado, não leve em consideração apenas números sem significados. Boa sorte!”

Em coletiva após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, descartou qualquer tipo de influência política na atuação do banco central.

“As considerações políticas não desempenham qualquer papel em nossas discussões ou decisões sobre política monetária. Nós sempre vamos focar na missão que o Congresso nos deu”, afirmou Powell.

“Nós temos as ferramentas para isso, temos a independência que achamos ser essencial para podermos fazer nosso trabalho em uma maneira não política”, continuou. “Nós, no Fed, estamos totalmente comprometidos com essa missão e nada vai nos impedir de fazer o que achamos que é a coisa certa a fazer.”

Powell também falou sobre a inflação, que não tem reagido ao fortalecimento do mercado de trabalho e ao patamar baixo de desemprego no país.

“A inflação não reagiu muito entre o desemprego de 10% para o desemprego de 3,7%”, reconheceu. Ele afirmou que espera que os salários continuem subindo, ainda que isso não necessariamente signifique mais inflação.

Durante a coletiva, as Bolsas americanas passaram a cair, pela sinalização de que o Fed vai continuar elevando os juros.

Powell destacou que o banco central vai continuar analisando os dados de economia americana. "Deste ponto em diante, nós vamos deixar os dados falarem conosco e nos informarem", ressaltou, reconhecendo que isso torna o caminho do aperto monetário incerto.

Em relatório divulgado após a decisão, a casa de análises Capital Economics reiterou a expectativa de duas altas de juros na primeira metade do ano, antes que a economia americana comece a dar sinais de desaceleração. Além disso, os analistas esperam que o Fed corte em 0,75 ponto percentual os juros em 2020.

Fonte: Folha de S.Paulo