Painel

Choque de realidade A volta a Brasília como presidente eleito ofereceu a Jair Bolsonaro uma amostra concentrada das dificuldades que enfrentará. Na celebração dos 30 anos da Constituição, parlamentares se revezaram com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para lembrá-lo dos limites impostos ao Executivo. Durante o dia, líderes do Congresso avisaram que não há como aprovar reformas ali antes da posse do novo governo.

Toca de lado Há entre as principais lideranças um acordo tácito para não discutir nenhuma proposta polêmica antes do fim do ano. A ordem, dizem os caciques, é esperar Bolsonaro apresentar com clareza as mudanças que pretende fazer e deixar que se entenda com o novo Congresso que tomará posse em fevereiro.

Prego na areia Na avaliação desses líderes, a equipe de Bolsonaro não tem segurança de que sua base apoiará uma reforma ambiciosa da Previdência. Eles apontam como obstáculos a força de corporações que rejeitam mudanças nas aposentadorias, como os militares, e de novatos muito sensíveis à pressão das ruas.

Nem em casa Embora Bolsonaro e seu guru econômico, Paulo Guedes, tenham reiterado o interesse em aprovar parte da reforma da Previdência ainda neste ano, até integrantes da equipe do presidente eleito se dizem céticos.

É assim mesmo No mercado financeiro, desencontros recentes entre o presidente eleito e seu futuro ministro não assustaram ninguém. Para um banqueiro, as propostas ventiladas até aqui são prematuras. Um gestor de investimentos acha normal o desacerto num governo ainda em formação.

Obra em progresso Há três modelos de reforma tributária em estudo no momento, e dez propostas diferentes para a Previdência. Caberá a Guedes selecionar as melhores ideias e submetê-las ao crivo de Bolsonaro e seu futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

No páreo Três integrantes da equipe de transição estão bem cotados na disputa pela presidência do BNDES: os economistas Rubem Novaes e Carlos Alexandre da Costa, ex-diretores do banco oficial de fomento, e Roberto Castello Branco, ex-diretor da Vale.

Volte uma casa O veto do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo a um acordo fechado pela Odebrecht com promotores estaduais e a prefeitura da capital pode esfriar negociações em andamento com outras empresas atingidas pela Lava Jato.

Para presente Entre os benefícios concedidos em troca da sua cooperação com as autoridades, a Odebrecht ganharia com o acordo o direito de retomar um contrato de R$ 503 milhões que ela mesma reconhece ter obtido de maneira fraudulenta no passado.

Também quero Os promotores apontaram erros na decisão e pediram aos conselheiros que reconsiderem o veto. Eles negociam acordo semelhante com a Andrade Gutierrez, e a Engevix é a próxima na fila. Todas esperam benefícios iguais aos da Odebrecht.

Não fui eu Em palestra nesta segunda (5) na Universidade Harvard, nos EUA, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, lamentou o fato de que nenhum dos políticos atingidos pelos escândalos dos últimos anos tenha pedido desculpas. “As pessoas simplesmente perderam o senso crítico”, disse.

Para todos Relator do processo que pode incluir a Ordem dos Advogados do Brasil entre as entidades submetidas à fiscalização do Tribunal de Contas da União, o ministro Bruno Dantas lembra que até o STF é auditado. “Ninguém nunca reclamou”, diz. O caso será julgado nesta quarta (7).

Visita à Folha Edison Lanza, relator especial para a Liberdade de Expressão da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), visitou a Folha nesta terça (6). Estava acompanhado de Tatiana Teubner Guasti, advogada na relatoria especial para a Liberdade de Expressão do órgão.


TIROTEIO

O presidente eleito falou como alguém que vai ao médico e não confia no termômetro porque não sabe como funciona

De Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, sobre críticas de Jair Bolsonaro às estatísticas do IBGE sobre o mercado de trabalho

RICARDO BALTHAZAR (interino), com THAIS ARBEX e JULIA CHAIB

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