Bolsa avança com força impulsionada por cenário externo positivo, apesar de disputa comercial

Anaïs Fernandes
SÃO PAULO

Após recuar quase 1% na véspera, o dólar subiu ante o real nesta terça-feira (18), num movimento de leve correção, mas em sintonia com tensões comerciais no exterior e investidores de olho no cenário eleitoral brasileiro.

O dólar comercial registrou alta de 0,46%, cotado a R$ 4,145. 

Na segunda (17), o presidente americano, Donald Trump, anunciou que vai sobretaxar mais US$ 200 bilhões (R$ 829 bilhões) em importações chinesas a partir da próxima semana. Em resposta, Pequim disse nesta terça que imporá sobretaxas equivalentes a US$ 60 bilhões (R$ 248,7 bilhões) de importações em produtos americanos. 

As medidas, no entanto, já eram esperadas pelos mercados, o que gerou reações mistas. Das 31 principais divisas do mundo 19 perderam para o dólar. 

Com investidores já se antecipando à decisão, os mercados acionários internacionais se mantiveram positivos. Em Wall Street, o Dow Jones, principal índice de Nova York, subiu 0,71%. Na Europa, as principais Bolsas também fecharam no azul.

O Ibovespa, índice das ações mais negociadas no Brasil, ganhou 1,99%, a 78.313,96 pontos.

Apesar do contexto externo, analistas apontam que é mais o cenário político local que segue precificando ativos.

Investidores aguardam a divulgação, na noite desta terça, da pesquisa Ibope de intenção de votos à Presidência.

Na véspera, a pesquisa CNT/MDA, da Confederação Nacional do Transporte, e o levantamento do banco BTG Pactual reforçaram os caminhos apontados pelo Datafolha na última sexta (14): consolidação de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno e crescimento de Fernando Haddad (PT) rumo à próxima etapa na disputa.

Apesar do susto inicial do mercado com o avanço de Haddad e o desempenho aquém do desejado de Geraldo Alckmin (PSDB), candidato preferido entre agentes financeiros, analistas apontam que a leitura passou a ser de que o candidato petista no segundo turno reforça as chances de vitória de Bolsonaro. 

"O mercado já vê com bons olhos um segundo turno entre Bolsonaro e PT, porque há grandes chances de ele [Bolsonaro] vencer", comentou o operador Jefferson Laatus, sócio da LAATUS Educacional.

"Ciro Gomes não está morto ainda [na disputa] e o risco de no segundo turno ter um [candidato com viés] de esquerda que não seja o PT existe", acrescentou, ao ponderar que, neste cenário, pesquisas indicam que Ciro é mais forte para derrotar Bolsonaro.

Por isso, além do ritmo de Haddad e Bolsonaro nas pesquisas, investidores devem acompanhar como anda a rejeição a cada um, indicador relevante para avaliar votos úteis num eventual segundo turno.

Ao aceitar Bolsonaro, o mercado mira Paulo Guedes, coordenador econômico do programa do capitão reformado do Exército.

O diretor executivo de uma gestora, que pediu anonimato, disse que, apesar de Guedes ser um liberal, deveria haver desconfiança em relação ao passado de Bolsonaro que, segundo ele, enquanto deputado, votou no sentido contrário do ajuste fiscal em pautas como a reforma da Previdência. 

Ele afirma, no entanto, que o mercado pode dar à candidatura o benefício da dúvida.

"É arriscado. Teoricamente, está no plano econômico da candidatura, Bolsonaro não teria vetado a própria propaganda. Mas ele é um recém-convertido, não se comportava como um liberal ao longo de sua carreira, então há um descrédito", avalia Glauco Legat, analista-chefe de investimentos da Spinelli.

Com Reuters

Fonte: Folha de S.Paulo, 20 de setembro de 2018.