Cultura

O incêndio que durou seis horas no Museu Nacional ainda não teve a causa revelada, mas a tragédia já era anúnciada devido a falta de verba para a manutenção. A perda é irreparável; a reitoria da UFRJ e a direção do Museu Nacional vão tentar recuperar o que pode ser salvo

Francisco Proner Ramos
Bombeiros no momento do incêndio. Foto por Francisco Proner Ramos/ Farpa FotoBombeiros no momento do incêndio. Foto por Francisco Proner Ramos/ Farpa Foto
Após seis horas de chamas, parte do interior do edifício, que há séculos foi a residência da família real, desabou. O Museu Nacional era o mais antigo do país: completou 200 anos em junho. Seu acervo possuía mais de 20 milhões de itens, e era administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição que tem sido notícia devido ao seu desmonte por cortes de orçamentos. 

Não é o primeiro, e o temor é que não seja a última tragédia do tipo para a cultura do país. Em 2010, foi o Instituto Butantan, tragédia científica que destruiu 70 mil espécies de cobras conservadas no local. Em 2011, o fogo consumiu a Capela São Pedro Alcântara, outro prédio tombado sob administração da UFRJ. Nos anos seguintes, estão listados os incêndios no Arquivo Público do Estado de São Paulo (2012), Memorial da América Latina (2013), Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios (2014), Museu da Língua Portuguesa (2015), Cinemateca (2016) e a casa Erbo Stenzel, residência histórica do escultor paranaense, em Curitiba (2017).

Desde 2014 o Museu não vinha recebendo a verba necessária para a sua manutenção, apresentando sinais visíveis de má conservação como paredes descascadas e fios elétricos expostos. O palacete também não tinha sistema de prevenção de incêndio. O museu vinha sofrendo de goteiras, infiltrações e outros problemas gerais, segundo apontou relatório de 2016 da Biblioteca do Museu Nacional, segundo informa O Globo

Entre os inúmeros objetos de inestimável peso histórico e ciêntifico, estavam o crânio de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, coleções de vasos gregos e entruscos, máscaras de tribos indígenas da América Latina, e múmias trazidas por Dom Pedro II do Egito. 

O jardim não estava aberto ao público, assim como um terço das salas de exposições, devido a falta de manutenção. 

Walter Neves, biólogo, arqueólogo, professor e antropólogo evolutivo brasileiro, responsável pelo estudo de Luzia, o esqueleto humano mais antigo do continente americano, postou nessa manhã um vídeo em suas redes sociais falando da tragédia. "Infelizmente essa não era uma questão de se ia acontecer, mas quando iria acontecer, porque o Museu vem sofrendo um descaso publico de décadas. Certamente o Museu Nacional tem as coleções mais importantes do país. Entre eles, para a minha maior tristeza, está o crânio da Luzia", declarou. 

O que poderá ser salvo

Parte da coleção de meteoritos foi salva. Das 24 peças, 18 foram salvas. O meteorito de Bendegó, maior já encontrado no Brasil, não sofreu danos, segundo reportagem da Folha


Pesquisadores tentam salvar o que é possível enquanto museu ainda estava em chamas




O reitor da UFRJ, Roberto Leher, em entrevista para O Globo, destacou a grande magnitude da perda de acervos etnográficos e botânicos, que são mais suscetíveis ao fogo. 

Ainda que se façam esforços em parceria com o Ministério da Cultura, uma parte inestimável do acervo do Museu foi perdida; a cultura brasileira está de luto.  

Do Portal Vermelho , 4 de setembro de 2018.